ALESSANDRA ARAGÃO
Alessandra Aragão
Comunicadora, trabalha com desenvolvimento humano, atuando em terapia sistêmica, mentoria positiva e coaching de vida e carreira
(RE)INVENTE-SE

Por que estamos tão reativos?

Como o excesso de estímulos e a falta de pausas silenciosas moldamnossa mente e nos adoecem

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Nossas enfermidades nos chegam, muitas vezes, pelo pensamento e, outras tantas, pela falta dele. Não apenas pelo que pensamos, mas pela ausência de pausa para refletir, sentir e discernir antes de agir.

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Hoje, pensamos de modo apressado, ansioso e fragmentado. Somos pouco estimulados ao pensamento profundo - aquele que sustenta perguntas, acolhe pausas e permite amadurecimento interno. Essa é uma marca evidente do nosso tempo; a pós-modernidade nos tornou muito reativos e pouco reflexivos.

Vivemos pressionados a responder antes de sentir, opinar antes de compreender, decidir antes de discernir. Talvez você já tenha se percebido assim, dando uma resposta automática, dizendo "sim" quando queria dizer "não", reagindo mais pelo impulso do que pela intenção. E por que isso acontece? Porque o excesso de estímulos não nos dá tempo para respirar entre um pensamento e outro. A sensação de estar sempre ligado, sempre demandado, não é uma impressão individual, mas um fenômeno coletivo alimentado por uma cultura que exige respostas rápidas mesmo quando ainda não temos clareza suficiente para oferecê-las.


Nunca fomos tão pressionados por estímulos quanto agora. Nosso corpo foi moldado para lidar com um fluxo simples e previsível de informações: perceber a mudança da luz, identificar sons naturais, notar intenções no olhar das pessoas próximas, tomar decisões básicas para garantir bem-estar e sobrevivência. Durante milhares de anos, nossa mente funcionou em ritmos lentos, guiada pelo ambiente e pelas relações diretas. O que enfrentamos hoje é de outra ordem.


O dia começa e já somos capturados por notificações, mensagens, e-mails a qualquer hora, vídeos curtos, stories, chamadas, alertas, banners e publicidades que nos acompanham como uma segunda pele. Estudos estimam que um adulto é exposto a uma quantidade entre seis mil e dez mil estímulos publicitários por dia. Quando somamos as demais interações, chegamos facilmente a dezenas de milhares de pequenas manifestações que atravessam nosso cotidiano.


Além disso, convivemos com estímulos emocionais constantes: solicitações familiares, demandas de trabalho, pequenas tensões, expectativas internas e externas. Cada interação exige que o cérebro interprete gestos, entonações, expressões e contextos, processe a situação, antecipe cenários, ajuste a postura emocional e elabore respostas. Mesmo quando achamos que estamos apenas "tocando o dia", grande parte da nossa energia psíquica está sendo drenada silenciosamente.


Somam-se ainda os estímulos sensoriais: barulhos, buzinas, conversas, luz artificial, telas brilhantes, poluição visual, movimento ao redor. Esse conjunto mantém o sistema nervoso em estado de alerta elevado, desgastando a atenção, a memória e a capacidade de regulação emocional.


Por que isso importa? Porque o cérebro humano foi moldado para um número muito menor de escolhas diárias. Pesquisas indicam que tomamos milhares de pequenas decisões ao longo do dia. Algumas são conscientes, como escolher a roupa ou priorizar tarefas; outras acontecem sem que percebamos, como virar o rosto quando a luz incomoda, ajeitar a postura quase automaticamente ou pegar o celular por reflexo. São decisões mínimas, mas constantes, que drenam energia mental de forma contínua.


Quando esses recursos se esgotam, o pensamento profundo perde espaço para a reação automática. Daí nascem algumas de nossas enfermidades: a ansiedade, a irritabilidade, a impulsividade, a fadiga mental e a sensação de estar sempre correndo atrás de si.


E como criar pausas entre um estímulo e outro? Acredito que o silêncio pode ser um bom aliado. Ele cria um espaço interno, reduz o volume das reações automáticas e devolve ao corpo a possibilidade de sentir antes de responder. Ele oferece ao cérebro um terreno onde a reflexão pode renascer. Mesmo diante de tantos estímulos externos que nos atravessam diariamente, é dentro de nós que o descanso precisa começar. Como propõe Haemin Sunin em seu livro "As coisas que você só vê quando desacelera", "não é o mundo que é barulhento. É a nossa mente que não sabe descansar".


E, nesse processo, vale se perguntar: quando foi a última vez que você se ouviu antes de responder? O que o silêncio revelaria se você o escutasse? Em quais momentos do dia você reage no automático? Que escolhas poderia fazer se tivesse um pouco mais de espaço dentro de si?


Para uma mente saturada por tantos estímulos, o silêncio parece quase antinatural. Mas é justamente ele que sustenta o tipo de pensamento que cura, que esclarece, que organiza. O pensamento que adoece é o apressado; o que cura é o que se permite aprofundar. Talvez esse seja o convite do nosso tempo: recuperar a coragem de pensar devagar, de não saber imediatamente, de suspender a resposta e de se oferecer alguns instantes de pausa antes do próximo estímulo. Porque pensar bem, pensar com profundidade, é, antes de tudo, um gesto de cuidado com a própria saúde.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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