ALESSANDRA ARAGÃO
Alessandra Aragão
Comunicadora, trabalha com desenvolvimento humano, atuando em terapia sistêmica, mentoria positiva e coaching de vida e carreira
(RE)INVENTE-SE

Mistério: o que não se vê, mas te move

"Nem tudo na vida precisa, ou deve, ser explicado. Algumas experiências só podem ser vividas"

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Vivemos em busca de explicações, de verdades absolutas, de respostas que nos tragam segurança. No entanto, há algo de profundamente humano em aceitar o que não se pode nomear por completo. O mistério não é ausência de resposta, é presença de algo maior do que a mente pode conter. É o que sentimos quando amamos sem entender, quando pressentimos algo antes que aconteça, quando olhamos para o céu e nos damos conta da imensidão.

Na vida, há dores que não sabemos explicar, encontros que não conseguimos racionalizar e caminhos que se abrem sem planejamento. Isso também é mistério. Aceitar o mistério não é desistir da compreensão, mas cultivar a humildade de quem caminha com a alma aberta.

Nem tudo na vida precisa, ou deve, ser explicado. Algumas experiências só podem ser vividas. Vivemos em uma época em que o conhecimento está ao alcance de um clique, e as respostas, rápidas, objetivas e imediatas, são valorizadas como sinal de competência e controle. Mas há algo em nós que escapa a essa lógica. Uma parte que não se satisfaz com respostas prontas, que intui, pressente, sente sem compreender. É o território do mistério, esse espaço onde a vida acontece de forma silenciosa, simbólica e transformadora.

 

O mistério não é o oposto da clareza. É aquilo que existe além dela. Algumas coisas simplesmente são. A saudade que bate sem razão aparente. A conexão profunda com alguém que acabamos de conhecer. A sensação de já ter vivido uma cena. O chamado para mudar de direção sem saber exatamente para onde ir. Tudo isso são manifestações do que não se vê, mas nos move. Quando honramos o mistério, permitimos que a vida nos surpreenda, e que nossa história seja escrita com mais alma do que roteiro.

A própria origem da palavra mistério já carrega essa sabedoria ancestral. Ela vem do termo grego mysterion, ligado ao verbo mýein, que significa "fechar" ou "cerrar", especialmente os olhos ou a boca. Nos antigos cultos de mistérios da Grécia Antiga, apenas os iniciados, os mýstai, tinham acesso aos rituais secretos. Eles eram convidados a fechar os olhos para o mundo exterior e se abrir a uma dimensão simbólica, silenciosa e transformadora da existência.

Mais tarde, o termo passou ao latim como mysterium, mantendo a ideia de “culto sagrado” ou “verdade oculta”. No cristianismo, passou a representar verdades divinas que, mesmo reveladas, permanecem além da plena compreensão racional. Hoje, mesmo fora do contexto religioso, mistério é tudo aquilo que não se explica com a razão, mas que nos toca com profundidade, algo oculto, enigmático, mas carregado de sentido.

Na dimensão terapêutica, o mistério é o campo que sustenta aquilo que ainda não se revelou. É o silêncio entre uma pergunta e uma resposta que ainda não chegou. É o espaço entre um ciclo que termina e outro que ainda não começou. É onde a cura se inicia, mesmo sem que o processo esteja claro. É importante aprender a confiar nesse espaço. Há uma vida escondida em cada sombra.

Algumas respostas só chegam quando estamos prontos. Algumas mudanças só acontecem quando largamos a ilusão do controle e nos entregamos ao fluxo. Quantas vezes você se viu tentando forçar algo acontecer, quando na verdade precisava apenas pausar, respirar e esperar?

O mistério nos ensina a render, e essa rendição, longe de ser passividade, é maturidade espiritual. Há também mistérios que nos protegem. Verdades que ainda não estamos prontos para saber. Processos que, se antecipados, podem nos confundir. Ao invés de desconfiar do que não se mostra de imediato, talvez possamos aprender a confiar. Há sabedoria naquilo que se revela aos poucos. A borboleta não entende o casulo enquanto está dentro dele. Mas é lá que se dá a sua metamorfose.

 

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Na prática, aceitar o mistério é abrir espaço para a intuição, para o sentir, para o simbólico. É sair da exigência de que tudo faça sentido agora. É permitir que a vida também nos guie. E, ao fazer isso, deixamos de viver apenas com a mente, e passamos a viver com o coração.

Procure reservar alguns minutos ao final do dia. Em silêncio, feche os olhos e pergunte a si mesmo: O que em mim está se revelando?

Não busque respostas imediatas. Apenas ouça. Sinta. Confie.

Há uma sabedoria que habita o invisível, e ela trabalha a seu favor, mesmo quando você não compreende o porquê. Talvez você não precise entender tudo agora. Neste exato momento, acolha o mistério. Ele sabe por onde começar a te transformar, no silêncio, no invisível, no indizível, e no tempo certo. Como disse Antoine de Saint-Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos”.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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