ALESSANDRA ARAGÃO
Alessandra Aragão
Comunicadora, trabalha com desenvolvimento humano, atuando em terapia sistêmica, mentoria positiva e coaching de vida e carreira
(RE)INVENTE-SE

Quando o passado dita seu presente: desvende a "síndrome do retrovisor"

O passado, portanto, é um território ambíguo: guarda conquistas e derrotas, alegrias e tristezas, ganhos e perda

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Há uma metáfora cada vez mais presente no campo do desenvolvimento humano: a chamada síndrome do retrovisor. Embora não tenha origem médica ou científica formal, o termo é utilizado com frequência em contextos como o coaching, a psicologia comportamental e a terapia narrativa para descrever um comportamento emocional recorrente: o de viver revendo o que já passou, como se a vida fosse dirigida olhando apenas para o espelho retrovisor - revisitando escolhas, memórias, conquistas e arrependimentos, sem coragem ou clareza para seguir adiante.

O problema não está em lembrar, mas em viver a partir desse lugar. É como tentar caminhar olhando para trás: a direção se perde, os passos tropeçam, e o destino se torna uma repetição do que já foi.

Importante dizer que o passado não é feito apenas de dor. Ele também abriga vitórias, afetos, superações e capítulos memoráveis. Há quem se perca nas lembranças do que doeu, mas também há quem fique preso ao que um dia foi bom demais: “Eu tinha isso”, “Eu fui importante”, “Naquela época, tudo fazia sentido”.

O passado, portanto, é um território ambíguo: guarda conquistas e derrotas, alegrias e tristezas, ganhos e perdas. E a síndrome do retrovisor se manifesta quando deixamos de viver o presente por estarmos fixados em qualquer uma dessas zonas, sejam elas de dor ou de glória.

Essa “síndrome” pode afetar qualquer pessoa, em qualquer idade, embora, no consultório, seja mais comum observar esse movimento em fases de balanço existencial, especialmente após os 60 anos, quando a memória parece se tornar mais vívida e frequente. Ainda assim, é surpreendente como pessoas jovens também têm vivido presas ao que não deu certo, ao que poderia ter sido ou ao que ficou inacabado.

Frases como “Se eu tivesse feito diferente...”, “Naquela época eu era mais feliz...” ou “Não consigo esquecer o que vivi” são expressões clássicas de quem está vivendo a partir de memórias, não de possibilidades. O olhar fixo no passado tende a gerar ruminação, culpa, arrependimento, ou uma idealização paralisante do que já foi - alimentando a sensação silenciosa de que o melhor da vida ficou para trás.

Mas será mesmo? Ou será que esquecemos de olhar pelo para-brisa da existência, aquele espaço amplo e claro que nos mostra o que ainda está por vir?

A escritora e pesquisadora Brené Brown afirma: “O passado pode nos ensinar, mas não deve nos definir”.

E essa é uma chave essencial. O passado só se transforma em prisão quando deixamos que ele dite nosso presente e futuro. É possível, e necessário, reconhecer e celebrar a própria história, porém, não devemos nos aprisionar a ela.

Victor Frankl, já citado aqui várias vezes, escreveu: “Quando não somos mais capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos”.

E, muitas vezes, mudar começa por uma escolha: deixar de repetir a velha história e se permitir escrever uma nova narrativa.

O que caracteriza essa síndrome emocional?

• Foco constante em erros ou decisões passadas

• Arrependimentos recorrentes e autocrítica excessiva

• Dificuldade de se conectar com o presente e de imaginar o futuro

• Sentimento de estagnação, frustração e impotência

• Autoimagem prejudicada por experiências antigas não elaboradas

Exemplos de pensamentos comuns:

• “Se eu tivesse escolhido outra profissão, minha vida seria melhor.”

• “Aquele relacionamento me destruiu. Nunca mais fui a mesma pessoa.”

• “Já tentei mudar antes e fracassei. Vai acontecer de novo.”

• “Eu já fui reconhecido. Hoje, ninguém mais me vê.”

Esses pensamentos cristalizam um modo de viver fixado no que passou, impedindo que novas possibilidades se revelem. A vida se fecha. O tempo presente passa despercebido. E o futuro, que poderia ser fonte de renovação, se torna uma névoa de medo, nostalgia ou desânimo. Estar inteiro no agora é condição básica para qualquer transformação verdadeira.

Transformar esse padrão é possível, mas para isso precisamos consciência, acolhimento e escolhas intencionais, como:

• Praticar o perdão: a si mesmo e aos outros

• Aceitar o que não pode ser mudado: e extrair sabedoria das cicatrizes

• Reescrever sua narrativa: focando em crescimento e propósito

• Buscar apoio terapêutico: para elaborar emoções e soltar pesos antigos

• Cultivar autocompaixão: não somos feitos para sermos perfeitos, mas para evoluir

• Ancorar-se no presente: com práticas como mindfulness, escrita terapêutica e exercícios de respiração consciente

Outra possibilidade é lançar mão da constelação familiar, pois essa prática pode ajudar a devolver ao passado o que não pertence mais ao seu presente, e abrir espaço para escolhas mais conscientes e libertadoras.

Procure se perguntar:

• Que histórias você tem repetido como se fossem o único enredo possível?

• Quais memórias você trata como se fossem sua identidade?

• O que você ainda pode viver, aprender, experimentar ou construir… a partir de agora?

Assim como ao dirigir um carro, o retrovisor tem sua função: consultar brevemente o que ficou para trás. Mas ninguém consegue avançar olhando só por ele. A estrada da vida pede movimento. E para seguir em frente, é preciso manter os olhos firmes no para-brisa, no hoje e no que está por vir.

A reinvenção não tem idade. Mas exige uma decisão: sair do passado e viver o agora com presença, sentido e abertura. Porque o tempo não volta… Mas a esperança pode renascer - sempre que o coração estiver disposto a seguir.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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