
A geração da ansiedade: como encontrar paz em um mundo acelerado?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 260 milhões de pessoas convivem com transtornos de ansiedade em todo o mundo
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Vivemos na era da velocidade. Nunca tivemos tanto acesso à informação, tantas possibilidades de escolha, tantas ferramentas de conexão — e, paradoxalmente, nunca fomos tão ansiosos. A tecnologia nos ligou a tudo e a todos, mas será que temos conseguido nos conectar verdadeiramente a nós mesmos?
A ansiedade tornou-se o símbolo do nosso tempo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 260 milhões de pessoas convivem com transtornos de ansiedade em todo o mundo. O Brasil, tristemente, lidera esse ranking: 9,3% da população é afetada. Mas o que está nos deixando tão inquietos?
A sociedade atual nos empurra para um ritmo impiedoso. A lógica da produtividade sem pausa e a cultura da comparação constante — alimentada pelas redes sociais — geram um ambiente interno de cobrança, pressa e autoexigência. Sentimo-nos pressionados a mostrar resultados rápidos, ter respostas imediatas e estar sempre “bem”. E quando isso não acontece, nos sentimos atrasados em relação a um ideal inalcançável.
O psicólogo Barry Schwartz, autor de "O Paradoxo da Escolha", já citado anteriormente nesta coluna, explica que o excesso de opções e a necessidade de decidir rapidamente sobre tudo aumentam os níveis de ansiedade. Em um mundo onde tudo está ao alcance de um clique, a paciência se tornou um desafio.
Não é à toa que o estudo "The Burden of Stress in America", da American Psychological Association (APA), revelou que 75% dos americanos relatam sintomas físicos do estresse com frequência. Entre os mais afetados estão os jovens adultos, especialmente aqueles entre 18 e 33 anos — justamente a geração que cresceu conectada. Eles enfrentam pressões econômicas, sociais, acadêmicas e emocionais, mas sem o tempo ou habilidades para processar tantas demandas internas.
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A ansiedade, como sabemos, não é apenas um estado mental. Ela se manifesta no corpo: insônia, dores musculares, enxaquecas, irritabilidade, fadiga constante, dificuldade de concentração. O organismo, tomado por níveis elevados de cortisol, entra em modo de sobrevivência. Ficamos em alerta o tempo todo, como se houvesse sempre algo a resolver, algo por fazer, algo que falta.
Mas a ansiedade, por si só, não é inimiga. Em doses equilibradas, ela é um indicador valioso. Nos alerta, nos protege, nos movimenta. O problema surge quando a ansiedade deixa de ser pontual e passa a ser constante. Quando deixamos de conduzir nossa rotina e passamos apenas a reagir ao que chega, perdemos a capacidade de respirar com presença. De sentir. De pausar.
Se o mundo não vai desacelerar, a mudança precisa começar dentro de nós. Há caminhos possíveis. Pequenas práticas que, cultivadas com consistência, podem reequilibrar nosso sistema interno:
Respiração e mindfulness caminham lado a lado no cuidado emocional. Estudos de Jon Kabat-Zinn, criador do programa MBSR, mostram que a atenção plena reduz a ansiedade e fortalece a autorregulação. É uma prática simples, porém com efeitos profundos.
Desconexão digital é cuidado com a mente. No livro Irresistível, o psicólogo Adam Alter mostra como o uso excessivo de telas impacta o cérebro e aumenta a ansiedade. Por isso, criar pausas e limites no mundo online não é exagero — é essencial.
Movimento e natureza se complementam no cuidado do bem-estar. Estar ao ar livre e em movimento ajuda a equilibrar o corpo e a mente. Estudos do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA mostram que essa combinação reduz o cortisol e aumenta as endorfinas.
Propósito e simplicidade se sustentam. Viktor Frankl dizia: “Quando sabemos o porquê, suportamos qualquer como.” Saber o que nos move nos ajuda a focar no essencial e deixar para trás o que não nos alimenta.
A ansiedade nasce da antecipação do futuro. Como disse Lao Tsé: “Se você está ansioso, está vivendo no futuro. Se está em paz, está vivendo no presente.”
Em um mundo que exige pressa, encontrar paz é um ato de coragem e de vontade. Tem que querer. E talvez o convite não seja o de correr mais rápido, mas o de aprender a caminhar com consciência, respirando cada passo, acolhendo cada emoção, valorizando o que é essencial.
A ansiedade não precisa ser o fim do caminho — ela pode ser o sinal de que algo precisa mudar. Pode ser a porta de entrada para um novo modo de viver, mais conectado com o presente, mais autêntico, mais leve.
E se, em vez de lutar contra a ansiedade, você começasse a escutá-la? Talvez ela esteja te mostrando que é hora de mudar o ritmo - é como um alarme — não o problema em si, mas um sinal de que algo precisa de cuidado. Você tem escutado o que o seu corpo e suas emoções estão tentando dizer?
Talvez a ansiedade seja o começo de um novo caminho. Um convite a se reconectar com o essencial, a reconhecer seus limites e a viver com mais presença. A mudança não começa fora — começa dentro.
Feche os olhos por alguns segundos. Respire. Permita-se estar aqui, agora. A paz que você procura no mundo pode estar mais perto do que imagina: dentro de você.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.