

Alessandra Aragão
Comunicadora, trabalha com desenvolvimento humano, atuando em terapia sistêmica, mentoria positiva e coaching de vida e carreira
(RE)INVENTE-SE
Dicionário interno: as palavras que nos definem
Essa compreensão de que cada indivíduo possui um dicionário interno único é essencial para uma comunicação eficaz e empática
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06/02/2025 04:00
- atualizado 11/02/2025 11:31
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A linguagem é muito mais do que um simples conjunto de palavras e regras gramaticais. Ela é um retrato da nossa história, cultura, experiências e emoções, um espelho que reflete nossa individualidade e a forma como nos relacionamos com o mundo. Cada palavra que usamos carrega consigo um significado que transcende sua definição literal, evocando memórias, sentimentos e valores que nos são únicos.
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Quando nos comunicamos, levamos conosco um dicionário interno, construído ao longo da vida, que influencia a maneira como interpretamos e utilizamos as palavras. Esse dicionário é formado pelas experiências que vivenciamos, pela educação que recebemos, pelas crenças que cultivamos e pelas emoções que experimentamos. Por isso, uma mesma palavra pode ter significados diferentes para cada pessoa.
O conceito de "amor", por exemplo, pode ser sinônimo de cumplicidade para um casal que superou desafios juntos, enquanto para alguém que cresceu em um ambiente frio pode estar associado a ausência ou distância emocional. "Sucesso" pode significar um cargo importante para alguns, enquanto para outros representa qualidade de vida e tempo livre com a família. "Família" pode ser vista exclusivamente como laços de sangue ou como uma rede de apoio formada por amigos.
Essa compreensão de que cada indivíduo possui um dicionário interno único é essencial para uma comunicação eficaz e empática. Muitas dificuldades nas relações não surgem do que é dito, mas de como as palavras são interpretadas. O que para um é um elogio pode soar como indiferença para outro. Uma expressão de preocupação pode ser vista como controle excessivo, dependendo do contexto de quem a recebe.
Ludwig Wittgenstein, filósofo austríaco, nos convida a refletir sobre a relação entre linguagem e realidade. Em sua famosa frase "os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo", ele nos mostra que a linguagem não é apenas um meio de descrever a realidade, mas a estrutura que a define.
Nossas palavras, tanto as que proferimos quanto as que silenciamos, constroem pontes e muros, aproximam e distanciam. Um exemplo prático é a interpretação da palavra "urgente". Para um médico em uma sala de emergência, "urgente" significa salvar uma vida em minutos. Para um chefe exigente, pode significar que um e-mail precisa ser respondido até o fim do dia. Já para uma criança com fome, "urgente" é o pedido de um lanche que precisa ser atendido imediatamente.
Outro exemplo é a noção de "tempo". Para quem mora em uma cidade grande e passa horas no trânsito, "chego rápido" pode significar uma espera de 30 minutos. Para quem vive em uma cidade pequena, "rápido" pode ser menos de 10 minutos. Em uma conversa, quando alguém diz "te ligo em breve", o que isso significa? Para uns, 5 minutos. Para outros, pode ser até o final do dia.
Essas diferenças de interpretação podem gerar mal-entendidos e até conflitos. No dia a dia do meu consultório, observo diversos desentendimentos que poderiam ser evitados se as pessoas adotassem uma comunicação mais clara e empática. Imagine quantos desgastes poderiam ser evitados se, antes de reagirmos, perguntássemos: "Posso confirmar se entendi bem o que você quis dizer?" Essa simples atitude pode abrir espaço para um diálogo mais claro e respeitoso.
Wittgenstein nos desafia a pensar: estamos realmente nos comunicando ou apenas pressupondo que o outro compartilha do nosso dicionário interno? Estamos dispostos a ouvir com atenção e empatia ou apenas esperando a nossa vez de falar?
Além das palavras, o tom de voz, a linguagem corporal e o contexto desempenham um papel crucial na comunicação. Muitas vezes, um olhar, um gesto ou um silêncio dizem mais do que um discurso elaborado.
Uma boa comunicação exige expressão clara, escuta atenta e sensibilidade para compreender o outro. Algumas atitudes podem facilitar esse processo:
Seja curioso: pergunte e explore como o outro interpreta determinadas palavras. O significado de um termo pode não ser o mesmo para todos.
Seja flexível: ajustar sua própria interpretação pode evitar muitos conflitos. Muitas discussões surgem da rigidez com que atribuímos significados às palavras.
Seja paciente: nem sempre seremos compreendidos ou entenderemos o outro de imediato. A comunicação eficaz exige tempo e esforço.
Seja empático: coloque-se no lugar do outro, considerando sua história, emoções e experiências.
Que tal começar agora? Da próxima vez que estiver diante de um mal-entendido, experimente perguntar antes de reagir. Como seria sua comunicação se você buscasse entender, e não apenas responder? O que mudaria nas suas relações se você ampliasse seu próprio dicionário interno?
Ao reconhecer e respeitar os diferentes dicionários internos, construímos relações mais saudáveis e uma comunicação mais verdadeira. Expandir nossa compreensão sobre as palavras do outro nos permite ampliar também nossa visão de mundo e fortalecer os laços que nos unem.