
IA é uma inovação que já faz parte da vida
Entre temores e descobertas, a inteligência artificial redefine profissões, métodos de ensino e negócios, provocando o repensamento do papel humano
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Quando eu dava aulas de Teoria Geral da Administração, sempre expunha para meus alunos os medos e as consequentes resistências que cercavam a chegada de grandes inovações. Falava dos tecelões que entraram em greve quando surgiram os teares mecânicos; dos donos de carruagens que se opuseram aos primeiros trens; dos cocheiros que protestaram contra os automóveis; dos médicos que afirmavam que viajar a mais de 30 km/h causaria loucura; das lamparinas substituídas pela eletricidade; do rádio que muitos diziam que isolaria as famílias; da televisão que seria o fim da leitura; da internet que acabaria com as relações humanas; e do Google, que muitos achavam que eliminaria o estudo.
Sempre percebi que toda invenção provoca medo porque obriga as pessoas a mudar.
Hoje, vejo esse mesmo movimento com a inteligência artificial generativa. Muitos temem que ela vá eliminar empregos, destruir profissões ou retirar o valor do trabalho humano. Entendo esse receio, pois ele é natural em momentos de ruptura. Mas acredito que a IA não chega apenas para executar tarefas de forma automática; ela chega para mudar, de forma definitiva, a maneira como vivemos, tomamos decisões e produzimos conhecimento.
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No marketing, por exemplo, a transformação já é visível. Aplicativos de inteligência artificial criativa escrevem textos publicitários, roteiros de vídeos, slogans, geram imagens e até trilhas sonoras para campanhas. As análises de dados, que antes exigiam horas de trabalho técnico, agora acontecem em segundos, gerando respostas mais rápidas e planejamentos mais precisos para cada público. Isso obriga gestores e profissionais de marketing a agirem com ética, criatividade e visão estratégica genuína.
Mas não é apenas na publicidade. Vejo empresas de logística usando IA para roteirização dinâmica de entregas, reduzindo horas de trabalho e otimizando o uso de combustível. Bancos utilizam modelos preditivos para prevenir fraudes e oferecer produtos sob medida. Hospitais implantam IA para análise de exames de imagem, auxiliando médicos no diagnóstico precoce de doenças graves, como câncer e problemas cardíacos. A IA já está em toda parte – ainda que de forma silenciosa para a maioria.
Na educação, percebo que muitos professores ainda encaram a IA como um inimigo a ser combatido. Alguns criam estratégias para impedir que os alunos a utilizem, em vez de refletirem sobre como integrá-la ao processo de aprendizagem.
Essa resistência é compreensível, pois toda mudança gera insegurança, mas pode se tornar um desperdício de oportunidade. É hora de compreender que a essência do professor jamais será substituída. Porém, também é hora de repensar metodologias de ensino e formas de avaliação, para que a IA se torne uma aliada poderosa na formação de pessoas reflexivas, criativas e preparadas para um mercado que já não aceita mais o senso comum.
Em reuniões com empresários, noto que muitos ainda temem a IA como concorrente de seus funcionários, quando deveriam vê-la como força de potencialização humana. Ferramentas de IA generativa, como ChatGPT, Copilot e Gemini, não substituem a inteligência de mercado, a visão estratégica e a capacidade de negociação, mas aumentam a produtividade e liberam tempo para o pensamento de alto nível.
E é bom lembrar que a geração Alpha já cresce em meio a assistentes virtuais, automações e tecnologias inteligentes desde os primeiros anos de vida. Para eles, inteligência artificial não é surpresa; faz parte de sua realidade cotidiana.
Quando olho para o futuro, percebo que a IA não rouba espaço de quem pensa, cria e interpreta. Ela apenas desloca aqueles que se acostumaram a repetir tarefas sem propósito. Talvez, para muitos profissionais, o medo não seja da IA em si, mas que ela revela grande parte das funções e se resume a processos automatizáveis, enquanto o que realmente nos diferencia é nossa capacidade de análise, empatia e criação.
É preciso, no entanto, cautela ética. Empresas que usarem IA para manipular consumidores, distorcer informações ou explorar mão de obra digitalmente estarão correndo o risco de perder confiança e reputação no longo prazo. A responsabilidade digital passa a ser tão importante quanto a financeira ou ambiental, pois o futuro não perdoa marcas incoerentes.
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Sempre defendi que inovação, sem consciência humana se transforma em risco. Por isso, o grande segredo está no equilíbrio entre o uso das tecnologias exponenciais e o fortalecimento das habilidades humanas. A IA pode criar cenários, mas é o ser humano que escolhe quais caminhos seguir.
Cada grande invenção sempre deixou sua marca no mundo. E a inteligência artificial é, sem dúvida, uma das maiores que testemunhei em toda minha vida profissional. A IA não é apenas mais um recurso de trabalho; é a inovação que irá remodelar o futuro dos negócios, da educação e das relações humanas.
Como disse Andrew Ng, cofundador da Coursera e referência mundial em IA: “Inteligência artificial é a nova eletricidade.” E eu acrescento: ela não apenas iluminará processos, mas também revelará quem realmente entende o sentido de ser humano em um mundo cada vez mais digital.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.