
Ganhar do Flamengo no Maracanã lotado
É o básico: lute como um Alan Franco, morda como um Lyanco, desdobre-se como um Éverson
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É preciso registrar o fato inédito e surpreendente ocorrido no domingo passado, durante aquele Flamengo e Atlético no Maracanã, pelo Brasileirão. Desde a fundação do clube carioca, em 17 de novembro de 1895, nunca se tinha visto algo parecido. Quase 130 anos se passaram, portanto, até que, finalmente, aconteceu – o flamenguista, acredite, xingou o juiz.
Você leu certo: flamenguista xingou o juiz. “Parem as máquinas!”, dizia o editor diante da notícia bombástica, a ordenar que as rotativas aguardassem o apurar dos fatos antes de imprimir o jornal. Flamenguista xingando juiz corresponde àquele exemplo do que é notícia: se o cachorro mija no poste, nada a declarar. Se o poste mija no cachorro, eis a informação noticiosa e urgente. O poste, pois, havia mijado no cachorro em pleno Maracanã lotado.
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O fato extraordinário ocorreu em razão de três supostos pênaltis não marcados pelo juiz Ramon Abatti Abel. Um deles anulado com o espantoso auxílio do VAR, já que exatamente contra o VARmengo. A barafunda se instalou entre os torcedores: ninguém jamais ensaiara nenhuma daquelas musiquinhas infames que homenageiam a juizada. Foi difícil chegar ao uníssono e, depois, aos anais, tanto do juizão como da história. Mas aconteceu. O mínimo que o flamenguista espera, agora, é que Abatti seja abatido pela Lei Magnitsky. A ver.
Na quinta-feira, dessa vez pela Copa do Brasil, o cachorro voltou a mijar no poste: um pênalti bizarro, uma acintosa mão na bola, deixou de ser marcado para o Atlético por Raphael Claus, o nosso Kássio Nunes Marques, o Kássio Concá. O VAR não chamou. Sim, houve um gol anulado do VARmengo, mas aí o sujeito se encontrava não apenas na banheira, tava era numa jacuzzi de suíte presidencial.
Desde os anos 1980 que o Flamengo joga com um a mais. Às vezes três, dois deles abertos pelas pontas e o elemento-surpresa flutuando desde a defesa até o ataque. O esquema revolucionário, uma releitura carioca do Carrossel Holandês, venceu Brasileiro, Libertadores e Mundial. Para combatê-lo, é necessária máxima aplicação, de modo que cada jogador vire dois. Só assim é possível pensar na superação dos 14, quando não muitos mais. É o básico: lute como um Alan Franco, morda como um Lyanco, desdobre-se como um Éverson.
Foi assim que vencemos. Não teve pé-de-ferro que não fosse nosso. Não houve jogador do Flamengo que não tenha sido perseguido implacavelmente. Quando o zagueirão entregou a paçoca, sacamos o Cuello da cartola, um espectro invisível que se materializou à frente do outro beque. E como um Rony ao contrário, acertou o alvo.
Ganhar do Flamengo com o Maracanã lotado é algo transcendental para o atleticano patológico, essa redundância por si só. Se estou na rua, como na quinta, sou capaz de cambalhotas no asfalto, gestos obscenos a incautos transeuntes, copo de cerveja lançado aos ares e sobre chifres mansos e inocentes. Na quinta, eu e minha cachorra Mukeka di Rato sequer lembramos de pagar a conta no bar. Simplesmente saímos a flanar pela madrugada paulistana, como se a vida oferecesse IPAs em fontes gratuitas na praça.
Ganhar do Flamengo no Maracanã lotado foi, é e sempre será o meu sonho de menino. Podia ter sido com Reinaldo em 1980, quando o melhor Flamengo de todos os tempos contava com Zico, Nunes e Aragão. Mas, como diz o outro, não é só futebol. Ganhar do Flamengo é derrubar a ditadura, desligar a Globo, acertar as contas com Deus e o mundo, voltar a ser criança, eu e a minha bandeira, na Rua do Ouro, a celebrar o título que nunca veio. Nem em 1980 nem em 1981, quando Aragão dera lugar a Wright, outro a compor gloriosamente o melhor Flamengo de todos. Quando a gente ganha do Flamengo, o mundo fica melhor.
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Agora, como em 2014, temos a chance de outra desforra. Deus me livre um jogo como aquele, o 4 a 1 sobre o Flamengaço Classificadaço, meu coração carcomido de atleticano sofredor não aguenta. Que na quarta-feira os nossos 22 possam virar 44. E que os 40 mil presentes no Terreirão tenham a força e o grito de 8 milhões. Vamo, Galo, pelo amor de Deus!
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