Diante do San Lorenzo-ARG, pelas oitavas de final da Libertadores, Galo teve 65% de posse de bola no jogo, mas ficou no empate por 1 a 1 -  (crédito: JUAN MABROMATA / AFP)

Diante do San Lorenzo-ARG, pelas oitavas de final da Libertadores, Galo teve 65% de posse de bola no jogo, mas ficou no empate por 1 a 1

crédito: JUAN MABROMATA / AFP

Quando o uso da internet começou a se disseminar por casas e escritórios, o mundo inteiro achou que estava a presenciar o início de uma revolução que viria a democratizar a informação de maneira radical e nunca antes vista, e que o acesso irrestrito de tudo e a todos só poderia significar uma extraordinária evolução no modo de vida do ser humano. Santa ingenuidade.

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

O sonho ruiu com a emergência das big techs e seus algoritmos, com a prevalência dos discursos de ódio, seus ditadores e projetos de ditadores. Na Colômbia, a população envenenada negou em plebiscito um acordo de paz com as Farc. Os ingleses escolheram o Brexit. Brasileiros elegeram presidente uma aberração. Paulistanos podem eleger um coach igualmente bizarro. E assim descaminha a humanidade.

 

 

Estou a tergiversar sobre esse tema apenas para ilustrar a distância que pode haver entre expectativa e realidade. Mas quero chegar mesmo é ao Tiki-Taka do Milito, de quem, adianto, gosto e apoio. E sigo, pois, na militância. Embora o Kalil tenha razão quando sugeriu, em entrevista ao Estado de Minas e No Ataque, proibir substituições. Pelo menos as do Milito.

 

O Tiki-Taka do Barcelona, no qual militou o próprio Milito, tem ascendência na seleção brasileira de 70, como se pode ver no antológico gol de Carlos Alberto na final contra a Itália. Em sua época de Barça, Guardiola já se declarou, também, à seleção de 82. Certa vez fui a uma escolinha do Barcelona em São Paulo. Meninos de 10 anos passavam horas apenas a trocar passes curtos, com a sincronicidade de um número de circo. Eram pequenos malabaristas de farol na enfadonha arte do passe. Tadinho, eles só queriam ser o Neymar.

 

 

O sucesso do Tiki-Taka executado por Messi e companhia desde a mais inocente juventude disseminou-se mundo afora. Não raro, como simulacro. E é aí que começa a realidade.

 

Com mais de 70% de posse de bola, o Galo perdia para o San Lorenzo por 1 a 0 na terça-feira passada. É consenso que fazia um bom jogo até o desastre das substituições do Milito. Mas aquele arremedo de Tiki-Taka, aquela bola que roda e roda e vai pra frente e volta e vai de novo e volta, meus amigos, eu me sinto um bolsominion, o coração transformado num gabinete do ódio.

 

Carajo, alguém por favor me meta uma bicuda pra frente, pelo amor de Deus! Uma bola alçada em direção ao nada! Ao infinito e além! Chega dessa punheta assim injustamente chamada, porque broxante e sem perspectiva de final feliz.

 

 

O Brasil, não sei se o Milito já viu, é o país da aposta. Sim, as bets já estão a comprometer a economia. São tantos bilhões na jogatina, sem que se gere um emprego, sem que se fabrique um único parafuso, que os comerciantes já sentem a água bater na bunda. O sujeito para de comprar até itens básicos de higiene pra apostar no pênalti a favor do Flamengo. Se bem que esse aí não paga nada, basta tropeçar na calçada em passeio com seu cachorro e já se aponta a marca da cal: “Pêeeenalti para o Flamengo!!!”.

 

Se você trafega nas estradas do Brasil, como este colunista com medo de avião, sabe que o brasileiro é um apostador nato. Você ali na espera da carreta, a curva logo adiante, e passa o Celtinha bufando, 70 por hora no turbo hélice, só os Ayrton Senna na convicção da ultrapassagem, nunca foi sorte sempre foi Deus!

 

É por isso, Milito, que a gente precisa do chutão pra frente. Tiki-Taka de ku é rola! Deu certo contra o arquirrival, é verdade, ou mais ou menos certo, já que merecia melhor sorte a troca bem-sucedida dos nossos passes. Mas o atleticano ansioso, o atleticano apostador das bets, o atleticano ultrapassador nas curvas não aguenta “esperar a oportunidade”. Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, Milito, não espera acontecer.

 

 

Quando você chegou, Milito, o mais surpreendente de tudo era a intensidade com que o time se portava, com a bola e sem ela. Era uma espécie de Tiki-Taka loucão, o Tiki-Taka com o Galo Doido, eu diria. Uma mistura do Telê e o Cuca, eu já viajei. Mas, não mais que de repente, virou o Brasil de 94, todo o mundo o Zinho, aquela enceradeira.

 

Combinemos então o seguinte: se for o Tiki-Taka doidão a gente aceita. Senão, bico pra frente, que o Paulinho resolve. E se tiver vontade de substituir alguém, respira que passa.