Quilombos em Minas Gerais que viraram destinos turísticos incríveis
No Dia da Consciência Negra, conheça refúgios de resistência que hoje recebem visitantes com cultura e afeto; veja distâncias e como chegar
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Um charmoso distrito de Ouro Preto, a 1.200 metros de altitude, nasceu no século 18 como quilombo. Enquanto o ouro escorria pelas mãos dos colonizadores na vizinha Vila Rica, dezenas de africanos escravizados fugiam pelas matas cerradas da Serra do Espinhaço e encontravam refúgio no alto da serra, onde hoje fica o povoado. O nome original era Lavras Velhas do Funil, mas os próprios fugitivos rebatizaram o lugar de Lavras Novas: “novas” porque ali recomeçavam livres.
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Durante décadas, o quilombo cresceu protegido pela geografia – cachoeiras, grotões e trilhas que só os fugitivos conheciam – e pela solidariedade silenciosa de alguns moradores brancos que trocavam alimentos por ervas e informações. Ali se falava banto misturado com português, se plantava mandioca e feijão entre as pedras, se batizava filho com nome de orixá escondido atrás de santo católico.
A repressão chegou no fim do século 19, quando o ouro já rareava e o Império precisava mostrar força. Tropas de Caeté e Ouro Preto subiram a serra em 1888, dias antes da Lei Áurea, e destruíram parte das roças. Muitos quilombolas foram recapturados; outros conseguiram fugir para o interior de Minas ou para o vale do Jequitinhonha.
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Quilombo nas veias
Com a abolição formal, o que restou da comunidade se transformou em povoado de trabalhadores livres, porém a memória do quilombo nunca morreu. Até os anos 1950, idosos ainda contavam histórias de “tempo da liberdade escondida” e apontavam a gruta onde se realizavam os rituais protegidos pela escuridão.
Hoje, Lavras Novas é destino turístico badalado, com pousadas charmosas, restaurantes de comida mineira contemporânea e trilhas lotadas de jovens de Belo Horizonte. As casinhas de pedra e taipa foram restauradas, as cachoeiras ganharam nome de Instagram, e o vilarejo inteiro parece ter sido pintado para foto.
Mas quem presta atenção percebe: as ruas ainda têm nomes africanos (Congo, Benguela), a igreja matriz guarda uma imagem de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos trazida pelos próprios quilombolas, e no alto do morro do Cruzeiro há um terreiro ativo que mantém viva a congada todos os anos.
Lavras Novas aprendeu a ser duas coisas ao mesmo tempo: cartão-postal encantador e território de memória negra. Quem sobe a serra atrás apenas de paisagem leva, sem perceber, um pedaço de história que resiste quieta entre as montanhas douradas de Minas.
No Dia da Consciência Negra, nesta quinta-feira (20/11), conheça esse e outros refúgios de resistência que hoje recebem visitantes com cultura e afeto
Outros quilombos
Minas Gerais, um estado moldado pela busca de ouro e diamantes, também guarda em suas montanhas e vales as histórias de resistência e liberdade dos quilombos. Muito além de marcos históricos, diversas dessas comunidades se transformaram em destinos turísticos vibrantes, que recebem visitantes com uma rica combinação de cultura, natureza e afeto.
Nesses locais, a herança africana é celebrada em cada detalhe, desde a culinária até as festas populares e o artesanato. Visitar um desses refúgios é uma oportunidade de conhecer um Brasil profundo, que preserva suas raízes enquanto se abre para o futuro, oferecendo experiências autênticas e acolhedoras.
Comunidade dos Arturos
Bem perto da capital, em Contagem, a Comunidade dos Arturos é um verdadeiro tesouro cultural. Fundada por Arthur Píres, ex-escravizado, o local mantém vivas as tradições do Congado, do Candombe e de outras manifestações afro-brasileiras. As festas religiosas, como a de Nossa Senhora do Rosário, atraem visitantes de todo o país.
A experiência é focada na imersão cultural e na troca com os moradores. A comunidade é um exemplo de preservação da memória e da identidade. Fica a cerca de 25 km de Belo Horizonte, com acesso fácil pela Via Expressa. O perfil no Instagram para acompanhar as atividades é o @quilombo.dos.arturos.
Lapinha da Serra
Conhecida por sua lagoa de águas cristalinas e pelas imponentes montanhas, Lapinha da Serra é um dos destinos mais procurados da Serra do Cipó. O que muitos não sabem é que o vilarejo, distrito de Santana do Riacho, nasceu a partir de um antigo quilombo, servindo de refúgio para negros que fugiam da escravidão na região.
Hoje, o local combina ecoturismo com uma atmosfera tranquila e charmosa, oferecendo trilhas, cachoeiras e uma gastronomia local deliciosa. Lapinha da Serra está a aproximadamente 140 km de Belo Horizonte. O perfil oficial de turismo no Instagram é o @lapinhadaserra.
Milho Verde
Parte do histórico município do Serro, o distrito de Milho Verde é outro destino que une belezas naturais e um passado de resistência. O local foi um importante ponto de apoio para quilombolas e preserva a arquitetura colonial e um ritmo de vida tranquilo. As cachoeiras do Canelau e do Moinho são paradas obrigatórias.
A Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no centro do vilarejo, é um símbolo da forte presença da cultura negra na formação da comunidade. Milho Verde fica a cerca de 350 km de BH e pode ser um ótimo roteiro combinado com a cidade de Diamantina. Informações turísticas podem ser encontradas no perfil @milhoverdeoficial.
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Uma ferramenta de IA foi usada para auxiliar na produção desta reportagem, sob supervisão editorial humana.