Amazônia te chama: os encantados de Belém do Pará
Cidade sede da COP 30 é a capital mais genuína do Brasil; tudo o que oferece é seu, do açaí ao tucupi, da fé no Círio ao chocolate rastreado por DNA
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Há um gracejo diferente nos seres encantados. Para a maioria, o mundo gira de forma particular: o boto-cor-de-rosa não é tão “rosa” fofo assim, a chuva combina com o pôr do Sol no fim do dia e, no caso de quem é exclusivamente do estado do Pará, o tucupi não pede tempero algum. “Deixa ele do jeito que é”, panfleta um chef referência de Belém, a capital mais encantada do Brasil, e explico o porquê. É que ela é o que de mais nobre tem hoje na mesa da humanidade: é genuína.
“Eu quero voltar com calma, para sentar, ver a chuva junto com o pôr do sol no fim da tarde e comer”, me disse uma paulista orgulhosa, no aeroporto.
Uma maior variedade de sabores legítimos de uma única região? Belém tem. Um ritmo musical unicamente seu? Tem também. E chocolate com selo de qualidade emitido por rastreabilidade de DNA? Até isso Belém tem.
Um dos maiores legados culturais da COP 30, fica o Porto Futuro II, projeto tão audacioso quanto ambicioso dos governos Estadual e Federal com recursos milionários do privado. É a extensão das Docas, que faz a alegria de paraenses e turistas dia sim e no outro também tamanha oferta gastronômica com sabores locais. Mas no caso do novo vizinho rico, além de arroz de pato no tucupi e maniçoba, sobram dois equipamentos culturais de peso para a cidade: a Caixa Cultural - a primeira da região Norte -, privilegiando artistas locais, e o impecável Museu das Amazônias - um pavilhão inteiro -, que estreia com nada menos do que 200 fotos de Sebastião Salgado em visitações por aquelas bandas. Melhor que isso, só o que vem depois disso: é tudo de graça.
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Recado dos excluídos
De legado político, mais do que a cúpula dos países ricos reunida na floresta, os povos se fizeram ouvidos no grito. Que tal uma embarcação abarrotada de 300 indígenas e ativistas do movimento social vindo do interior clamar por justiça climática? Na COP dos excluídos, a canetada foi no canto ribeirinho, no pedido de mais atenção do Cacique Raoni (“Quando mais jovem eu já havia falado sobre os problemas que ocorrem hoje”), na saia rodada do carimbó. Onde mais veríamos tamanho atrevimento disfarçado de encanto?
Teve até Irepoiti metuktire, do povo Kaiapo (MT), reunindo um grupo de mulheres indígenas para dizer “basta à soja”. “Pelo bem do nosso planeta se é que ainda existe amor por ele nesta COP 30.” Sem contar no grupo de palestinos, a turma do MTST.
Amazônia e seus sabores
Nas Blue e Green zones lá estava o mascote guardião da Amazônia, o encantado Curupira, de olho no vaivém da gente importante do clima, com suas pastas e mochilas de couro sustentável, alguns arriscando uma pintura indígena de jenipapo ou uma dancinha típica depois do dia puxado de conferência. Mas era só atravessar uma ou duas ruas e lá achava sempre um tacacá de rua para abraçar o coração, a Cerpa sempre gelada e gritos vindos de todo lugar anunciando açai. Esse sim, o maior encantador de olhares da Amazônia, o fruto que enfeitiça pela cor, sequestra pelo sabor e sustenta conspirações a favor de que o Brasil só tem chance se for pela comida. O poder da gastronomia.
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O futuro tem um plano para a nossa maior floresta se a gente seguir a cartilha dos povos originários e parar de desacreditar nos encantados. Uma prova disso tem sido o chocolate amazônico, os mais premiados do Brasil, simplesmente porque são a resposta do óbvio: o melhor cacau do mundo é amazônico. A origem dele é a Amazônia. Alguém dúvida? Junto com esse chocolate vai o selo “clean label": ingredientes naturais, minimamente processados e livres de aditivos artificiais.
Um dos pioneiros e de maior prestígio, o Gaudens (chocolate premium? Claro que tem) está aí e não me deixa mentir, a começar pelo nome, que funciona de síntese depois de mais de uma semana vendo Belém sorrir para você; “orgasmo”, em latim. Tá encantado?