MUDANÇA DE ARES

Adiós Buenos Aires: 'dias de rico' na capital argentina ficaram no passado

Para os brasileiros, a terra do tango perdeu o compasso com o câmbio desfavorável e preços nas alturas

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Buenos Aires, que já foi sinônimo de acessibilidade e charme, enfrenta hoje um cenário de preços elevados, insegurança e infraestrutura limitada. Comparado ao passado, quando o câmbio favorável e os custos baixos atraíam milhões de brasileiros, a capital argentina não entrega mais a mesma relação custo-benefício. 

Os “dias de rico” acabaram, como lamentam turistas em redes sociais, e a cidade exige agora um planejamento financeiro e logístico muito mais rigoroso.  A capital da argentina, outrora um destino irresistível para brasileiros em busca de cultura, gastronomia e preços acessíveis, perdeu muito de seu apelo nos últimos anos. A combinação de mudanças econômicas, aumento de preços, insegurança e problemas estruturais transformou a capital argentina em uma escolha questionável para turistas do Brasil.

 Comparando com o passado, quando o câmbio favorecia e os custos eram significativamente mais baixos, a realidade atual expõe um cenário bem menos atrativo. Para brasileiros, destinos nacionais ou outros países sul-americanos oferecem experiências equivalentes com menos complicações. Antes de embarcar, pesquise bem: Buenos Aires pode não ser mais o sonho acessível que já foi.




Tudo mais caro

Câmbio desfavorável na Argentina provocou uma queda de mais de 30% no número de visitantes estrangeiros em 2024
Câmbio desfavorável na Argentina provocou uma queda de mais de 30% no número de visitantes estrangeiros em 2024 Luis Robayo/AFP


Não muito tempo atrás, entre 2022 e 2023, a desvalorização do peso argentino tornava Buenos Aires um paraíso para os brasileiros. Com o real valorizado, era possível desfrutar de refeições sofisticadas, vinhos premiados e passeios culturais gastando pouco. Por exemplo, em 2022, uma parrillada com vinho de qualidade custava o equivalente a R$ 50 por pessoa, e passagens aéreas de ida e volta saíam por cerca de R$ 1.200. 

Hoje, a realidade é outra. Desde a posse do presidente Javier Milei, em dezembro de 2023, o peso foi desvalorizado em 54%, mas a inflação galopante (271,5% ao ano em 2024) e a valorização artificial da moeda elevaram os preços em dólar e real.

Um hambúrguer simples com bebida, que custava R$ 20 em 2023, agora sai por cerca de R$ 85. Um refrigerante de 600 ml pode custar R$ 15, e uma corrida de 5 km por aplicativo, que antes saía por R$ 10, hoje varia entre R$ 28 e R$ 105, dependendo do horário. 

Segundo o índice de preços Big Mac do McDonald's, criado pela revista The Economist em 1986, o preço do hambúrguer na Argentina é o mais alto da América Latina (US$ 7,37, cerca de R$ 43,70) e o segundo maior do mundo, atrás da Suíça. Um ano atrás, o Big Mac custava na Argentina a metade do preço atual, em dólares.




A hospedagem, antes comparável a cidades brasileiras como Salvador, agora equipara-se a São Paulo, com diárias mínimas de R$ 500 para duas pessoas em bairros centrais. Passagens aéreas também subiram: na alta temporada, o custo médio para Buenos Aires chega a R$ 3.000, contra R$ 1.600 em períodos anteriores. Essa escalada de preços eliminou a sensação de “luxo acessível” que atraía brasileiros. 



Efeito Milei



De acordo a agência de notícias Ansa, o setor de turismo foi duramente afetado pelas políticas econômicas do presidente da Argentina, o ultraliberal Javier Milei, e registra uma queda de mais de 30% no número de visitantes estrangeiros em 2024, enquanto os locais procuram cada vez mais destinos no exterior, sobretudo no Brasil.



Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (Indec) da Argentina, 414,1 mil turistas internacionais entraram no país em outubro, uma redução de 30,3% na comparação com igual período do ano passado; por outro lado, o número de viajantes argentinos no exterior totalizou 654,1 mil, alta de 24,7%.

Para o instituto argentino, 65,5% dos turistas estrangeiros eram provenientes dos países fronteiriços, como Brasil (23%), Uruguai (17,7%) e Chile (12,8%). No sentido inverso, os principais destinos dos argentinos são Chile (23,4%), Brasil (18,4%) e Europa (13,1%).

Os elevados custos com alojamento, alimentação e compras (em Buenos Aires, artigos de vestuário chegam a ser mais caros do que em algumas cidades europeias, como Madri ou Roma) afastam os estrangeiros de paraísos turísticos da Argentina, como a Patagônia ou as Cataratas do Iguaçu.

Em contrapartida, o Brasil tornou-se um dos destinos mais escolhidos pelos turistas argentinos: em 2024, mais de 1,4 milhão de pessoas cruzaram a fronteira para o gigante Sul-Americano, tendência que tende a se acentuar durante o verão, com praias no Brasil mais quentes, bonitas e, sobretudo, mais baratas que as argentinas.

Com uma desvalorização do real perto de 20% neste ano, os argentinos veem o Brasil como uma opção economicamente conveniente, cenário inverso ao visto antes da chegada de Milei, quando o peso barato se mostrava atrativo para os brasileiros.

Para efeito de comparação, o número de turistas do Brasil na Argentina caiu 20,3% em outubro, para 95,1 mil, segundo o Indec, enquanto a cifra de viajantes argentinos em solo brasileiro aumentou 31,6% no mesmo período, para 120,5 mil. 

O custo de passar o verão em Mar del Plata - típica cidade balneária argentina - pode ser 35% superior a Cancún, no México, ou o dobro do Rio de Janeiro, segundo a Fundação Ecosur, que elaborou o estudo com base nos preços de hospedagens para uma família de quatro pessoas em hotéis três estrelas para janeiro de 2025, além de alimentação e transporte.

 
A insegurança é outro agravante na capital da Argentina
A insegurança é outro agravante na capital da Argentina Luis Robayo/AFP

Insegurança crescente

Buenos Aires já foi considerada mais segura que muitas capitais brasileiras, mas a violência sutil, como furtos e golpes, tem crescido, especialmente em áreas turísticas. Diferentemente do passado, quando os principais cuidados eram com notas falsas em táxis, hoje os turistas enfrentam riscos maiores. Furtos de carteiras, celulares e documentos são comuns em locais como a rua Florida e o bairro de La Boca. 

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil alerta para a necessidade de guardar documentos em locais seguros e evitar carregar passaporte e RG simultaneamente, devido ao aumento de extravios. Golpes financeiros também são uma preocupação. 

Casas de câmbio próximas a aeroportos oferecem cotações desvantajosas, e há relatos de turistas recebendo notas falsas ao trocar dinheiro. Além disso, táxis não credenciados aplicam tarifas inflacionadas, e aplicativos de transporte, embora mais confiáveis, têm preços voláteis devido à inflação. Esses problemas criam uma experiência estressante, contrastando com a tranquilidade que os brasileiros buscavam na cidade anos atrás.

Menos atrativos 

A crise econômica argentina impactou diretamente o setor turístico. Em 2024, o país registrou uma queda de 25,7% no número de turistas estrangeiros, com uma redução de 20,3% no fluxo de brasileiros em outubro. Comércios e atrações, antes acessíveis, estão mais caros e menos diversificados. Por exemplo, shows de tango, que custavam US$ 20 em 2023, agora chegam a US$ 73, e visitas a vinícolas subiram de US$ 50 para US$ 73. Muitos turistas optam por cortar esses passeios, limitando a experiência cultural que Buenos Aires prometia.

A infraestrutura também deixa a desejar. A manutenção de pontos turísticos, como o Cemitério da Recoleta, tem sido criticada, com relatos de deterioração e filas longas em alta temporada. Comparado ao passado, quando a cidade oferecia uma experiência vibrante e acessível, o cenário atual é de estagnação.

Burocracia 

Embora brasileiros não precisem de visto para estadias de até 90 dias, relatos de brasileiros barrados na imigração por serem considerados “falsos turistas” (como estudantes sem visto apropriado) geraram insegurança. A imigração argentina exige RG com menos de 10 anos ou passaporte, além de comprovantes de meios financeiros e passagem de volta, o que pode ser um obstáculo para viajantes menos preparados. Durante a pandemia, restrições severas, como fechamento de fronteiras e quarentena obrigatória, afastaram turistas, e a memória dessas barreiras ainda influencia a percepção de risco.

Alternativas mais atrativas 

Com o aumento dos custos em Buenos Aires, destinos nacionais e regionais tornaram-se mais competitivos. Cidades como Florianópolis oferecem praias, gastronomia e cultura a preços similares ou inferiores, sem os custos de passagens internacionais. No Nordeste brasileiro, o custo diário em cidades como Natal (R$ 250) é bem mais baixo que os R$ 390 de Buenos Aires. Na América do Sul, Santiago, no Chile, tem hospedagens mais baratas, e Montevidéu, no Uruguai, oferece uma experiência cultural semelhante com custos comparáveis. Esses destinos, aliados à estabilidade de preços e menor risco de golpes, tornam Buenos Aires menos prioritária.



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