Vai ao Chile? Conheça duas ótimas vinículas com hotéis
Localizadas em Valle del Rosário e Valle del Maipo, as vinículas Matetic e Vinã Santa Rita contam com passeios de enoturismo e oferecem excelentes hotéis
compartilhe
Siga noSANTIAGO (CHILE) – “¿Si vino a Chile y no toma vino, a que vino?”, brincam os chilenos quando algum turista recusa uma taça de vinho. A frase é um jogo de palavras com “vino”, que em espanhol significa tanto “veio”, quanto “vinho”. Em tradução literal, a brincadeira é mais ou menos assim: “Se veio ao Chile e não tomou vinho, pra que veio?”
Leia Mais
E, de fato, não se passa um dia no Chile sem tomar vinho. O país é o quarto maior produtor da bebida, ficando atrás apenas de Itália, França e Espanha. Por ano, são produzidos cerca de 640 milhões de litros. Alguns dos melhores estão nas regiões de Valle del Rosário e Valle del Maipo.
No primeiro, há a Viña Matetic, localizada a cerca de 100 km de Santiago. Especializada em agricultura biodinâmica há cerca de 25 anos, ela aposta na não utilização de produtos químicos durante a produção dos vinhos. São a fauna, flora, bactérias, fungos e cogumelos do local que fazem todo o trabalho, criando condições propícias para o desenvolvimento das videiras.
“No outono, por exemplo, há menos horas de luz do dia e mais horas de escuridão, com temperaturas mais frias. Essas são condições que fazem com que a planta comece a buscar refúgio no subsolo. Já na primavera e verão, ocorre o contrário, fazendo com que as plantas voltem a crescer”, diz o enólogo da Matetic, Yosthon Giuffré.
Com essa informação, a Matetic criou um calendário biodinâmico que indica a melhor época do ano para realizar diferentes atividades nos campos. Esse calendário divide o mês em quatro etapas: raiz, folha, flor e fruto. A última é quando a uva está mais saborosa e, portanto, o melhor momento da colheita. Em 10 mil hectares, a Matetic cultiva as uvas Sauvignon Blanc, Gewürztraminer, Chardonnay, Syrah, Pinot Noir, Malbec e Cabernet Franc.
A adega conta com três salas subterrâneas para armazenamento de 1.800 barricas, onde os vinhos envelhecem entre 12 e 22 meses. Esse processo de produção é aberto ao público. E, para quem quiser absorver mais sobre a cultura biodinâmica, a vinícola oferece o hotel La Casona.
A hospedaria busca resgatar tradições e a identidade do início do século 20. Trata-se de um edifício colonial com 10 quartos espaçosos – muitos deles com banheira –, piscina, sala de estar sofisticada e aconchegante com lareira, entre outros detalhes que permitem ao visitante uma viagem no tempo. E o melhor de tudo é que La Casona fica distante de qualquer movimentação urbana, em meio a um lindo descampado com vários jardins e um belíssimo lago.
As refeições são servidas no restaurante Equilibrio, que também é aberto para quem não é hóspede. No café da manhã, tem tudo aquilo que faz parte da mesa dos brasileiros. No entanto, é mais interessante provar o típico café da manhã dos chilenos: marraquetas (semelhante ao nosso pão doce) com abacate e tomate, e iogurte de damasco.
Já no almoço e jantar, as melhores opções são o tartar de bonito e polvo assado com batatas confitadas na entrada; assados de tiras ou filé mignon com molho gorgonzola no prato principal e panquecas com manjar e sorvete de chocolate na sobremesa. Tudo isso, evidentemente, acompanhado de vinhos da casa indicados pelo sommelier do restaurante para combinar melhor com os pratos. As melhores linhas são EQ e Corralillo.
VIÑA SANTA RITA
Outra vinícola chilena que se destaca é a Viña Santa Rita, localizada na zona de pré-cordilheira do Alto Jahuel, em Buin; a cerca de 40 km de Santiago. Assim como Matetic, a Viña Santa Rita conta com passeios de enoturismo, hospedagem e restaurante. De quebra, ela ainda hospeda o Museo Andino em suas dependências.
Criada no século 19, o local é uma das mais tradicionais vinícolas. Por ano, são 100 milhões de litros da bebida engarrafados e enviados para o mercado nacional e para a América Latina, Estados Unidos, Europa e China. Em termos de comparação, o Uruguai, enquanto país, produz 95 milhões de litros de vinho por ano.
Santa Rita se destaca pelos inúmeros rótulos que produz. Entre eles, a linha premium, com o gran reserva Medalla Real e o reserva especial 120. O número que dá nome ao rótulo remete a um episódio histórico que se desenrolou na Viña Santa Rita.
Em 1817, soldados e combatentes chilenos participavam da Batalha de Chacabuco, durante a luta pela independência do Chile. Os separatistas foram massacrados pelo Exército da Coroa Espanhola. Sobraram apenas 120 combatentes, que se esconderam no sítio de uma mulher chamada D. Paula, onde hoje é a Viña Santa Rita.
Na época, D. Paula escondeu os 120 combatentes no porão de sua casa – que é hoje a adega subterrânea da Santa Rita. Depois de alguns dias no local, os 120 patriotas, como eles passaram a ser chamados, saíram do esconderijo, arregimentaram mais soldados e conseguiram a independência no ano seguinte.
Toda a Viña Santa Rita é carregada de história. O casarão que comporta hoje o refinado hotel Casa Real foi construído em 1880. Entre as telas que ornam o interior do edifício, há um desenho assinado por Joan Miró (1893-1983). E o jardim de 40 hectares foi projetado pelo paisagista francês Guillermo Renner.
“A casa tem dois estilos. Por onde se entra e ficam os quartos, há um estilo colonial chileno, caracterizado pelo formato da casa em U e também pelas telhas, algo muito típico da arquitetura colonial chilena. No setor das salas de convivência e de jantar, há um estilo mais italiano, especificamente pompeiano, que pode ser visto nos mosaicos do piso, nos tetos pintados e nas colunas”, explica o gerente do hotel, Juan Vila.
Anexo ao hotel, há uma enorme capela dedicada à Virgem Maria. Não há missas no local, mas são realizados casamentos lá, desde que agendados com muita antecipação (em março, a agenda de 2025 já estava lotada).
Todos esses espaços e a história que permeia a Viña Santa Rita podem ser explorados durante o passeio no Pedal Bar Tour, uma espécie de bar sobre rodas movidas por pedais – Sedentários não precisam se preocupar, pois o Pedal Bar é motorizado; então, se não quiser pedalar, basta avisar ao guia turístico, que conduz a engenhoca.
Ao longo de todo Pedal Bar Tour, toma-se vinho. Muito vinho. Afinal, ¿si vino a Chile y no toma vino, a que vino?
* O jornalista viajou a convite da LATAM Airlines e da Federação de Empresas de Turismo do Chile