Formada pela UFMG, atua no jornalismo desde 2014 e tem experiência como editora e repórter. Trabalhou na Rádio UFMG e na Faculdade de Medicina da UFMG. Faz parte da editoria de Distribuição de Conteúdo / Redes Sociais do Estado de Minas desde 2022
Relações entre homens e máquinas vai mudar para sempre, segundo especialista crédito: FreePik
Imagine que, ao acessar a internet, não é mais você quem pesquisa passagens, escolhe hotéis ou escreve e-mails, por exemplo. Em vez disso, uma inteligência artificialfaz tudo isso por você — e melhor: toma decisões, contrata outros serviços, realiza pagamentos e até interage com outros agentes digitais. Bem-vindo à Web 4.o (ou web 4.0).
Segundo Krystian Kolondra, vice-presidente executivo da Opera, essa nova fase da internet representa mais do que um avanço tecnológico. “A Web 4.o é quando humanos e máquinas passam a coexistir na web”, explica. “Hoje usamos a inteligência artificial como ferramenta, mas, no futuro, ela será uma parceira”, projeta.
Para começar a entender esse momento, é preciso olhar para trás. A Web 1.0 era estática, criada por programadores; a Web 2.0 abriu espaço para o usuário comum gerar conteúdo, com redes sociais e plataformas colaborativas; a Web 3.0 trouxe a descentralização, com tecnologias como blockchain. Agora, a Web 4.0 é marcada pela participação ativa da IA — não só como assistente, mas como agente.
Kolondra imagina um futuro próximo em que as inteligências artificiais navegam por nós, contratam outras IAs para cumprir tarefas complexas ou até interagem com seres humanos em nosso nome. Um exemplo prático? Planejar uma viagem: “Hoje ainda precisamos procurar voos, hotéis, montar roteiros. Com a Web 4.0, a IA fará tudo isso de forma integrada, nos poupando tempo e energia”, afirma.
Interfaces para humanos e máquinas
Essa mudança, no entanto, exige mais do que apenas inteligência artificial sofisticada. Ela demanda uma reconstrução da própria internet. As páginas e sistemas atuais são pensados para humanos — com botões, menus e navegação intuitiva apenas para quem entende o contexto visual. “As máquinas ainda lutam para entender a internet. Será necessário adaptar os sites para que elas também consigam interagir com autonomia e confiabilidade”, alerta.
Outro ponto-chave é a segurança, segundo o especialista. Se a IA será responsável por fazer compras ou contratar serviços em nome do usuário, será necessário repensar os sistemas de pagamento e as leis que regem essas transações. Quem será o responsável por uma compra feita por uma IA? Como garantir que ela não abuse do poder delegado?
Uma obra de arte na galeria Cartwright Hall Art, na cidade de Bradford, no norte da Inglaterra, tornou-se pivô de uma discussão entre especialistas de arte e profissionais da área de tecnologia. Foto do Museu de Bradford
Isso porque pesquisadores das universidades de Nottingham e Bradford usaram uma ferramenta de reconhecimento facial. O mecanismo de inteligência artificial indicou que o quadro ‘De Brécy Tondo’ (foto), que retrata a Virgem Maria, foi produzido pelo artista renascentista Rafael. Cortesia Brécy Trust
Inclusive, ao fazer uma comparação com a Madona Sistina, obra que possui a comprovação da autoria do italiano, o grau de semelhança foi de 97%. Cortesia Brécy Trust e Domínio Público - Wikimédia Commons
No entanto, alguns peritos em arte acreditam que essa possibilidade é pequena. Por sinal, afirmam que esse tipo de tecnologia não possui a capacidade de diferenciar itens de arte verdadeiros e falsificados. Divulgação
Richard Polsky, diretor de uma empresa especializada na autenticação de artistas americanos do século 20, acha que a inteligência artificial não consegue identificar detalhes como os especialistas fazem quando analisam uma obra de arte. Divulgação Richard Polsky
“Se você está profundamente imerso no trabalho de um artista, já leu tudo sobre ele. Já esteve em todos os museus do mundo para ver originais, já esteve em exposições em galerias, talvez tenha alguma obra ou já as comprou e vendeu. Não acho que esse tipo de coisa possa ser ensinada”, diz. Arquivo Pessoal
Já o professor de computação visual da Universidade de Bradford, Hassan Ugail, declarou que o episódio comprova que os peritos em arte precisam se modernizar com relação aos seus métodos de averiguação. Foto da Universidade de Bradford
“Foi uma grande curva de aprendizado para entender o mundo da arte e como os especialistas quase não usam evidências científicas. Os pesquisadores do modelo usaram ferramentas de dimensões que o olho humano não consegue ver”, ressaltou. Twitter @ugail
Além disso, os incentivadores da utilização da inteligência artificial argumentam que o recurso ajudará no delicado processo de reconhecimento das obras de arte. Youtube Canal TEDx Talks
“A confiança no julgamento de um único especialista humano pode ser arriscada devido ao potencial de erro, à subjetividade ou aos vieses”, declarou Carina Popovic, executiva da Art Recognition, empresa responsável por autenticação de inteligência artificial. Youtube Canal christiane hoppe-oehl
Ela ainda frisa que o algoritmo possui alta precisão para diferenciar produções falsas e originais. A propósito, Carina relembrou a ocorrência em que o falsificador, Wolfgang Beltracchi (foto), confessou, em 2012, ter criado itens artísticos de 50 autores. Reprodução de vídeo do site revistaelement
Rafael Sanzio foi um dos gênios do Renascimento, movimento artístico que surgiu na Itália no século 14 e se estendeu até o século 17. Natural da cidade de Urbino, ele era filho do artista plástico e humanista Giovanni Santi. Domínio Público - Wikimédia Commons
Giovanni apresentou a pintura para Rafael e lhe deu os primeiros ensinamentos. Após a morte do pai, Rafael foi para a cidade de Perugia onde teve lições sobre a técnica do afresco com Pietro Perugino (direita). Logo o aprendiz superou o mentor. Domínio Público - Wikimédia Commons
Aos 19 anos, o artista prodígio finalizou a pintura ‘Retábulo Baroncio’ (foto), a pedido da igreja São Nicolau de Tolentino. Web Gallery of Art/Wikimedia Commons
Seu primeiro grande trabalho foi o ‘Casamento da Virgem’ para a igreja de São Francisco, na Città di Castello, concluída em 1504. O aprendizado com Perugino ficou perceptível na perspectiva e na proporcionalidade entre as figuras. Mattana - Wikimédia Commons
No mesmo ano, ele se mudou para Florença, onde Leonardo Da Vinci e Michelangelo eram expoentes. Graças ao contato com Leonardo, suas produções se sofisticaram. Rnt20 wikimedia commons
Rafael, então, incorporou a estética renascentista e criou a Madona do Prado, Madona Esterházy (foto) e A Bela Jardineira. Wikimédia Commons
Em 1508, ele aceitou convite de seu amigo Bramante, arquiteto do Vaticano, para ir a Roma e fazer um trabalho para o papa Júlio II (pontífice entre 1503 e 1513 - foto). O líder religioso ficou encantado com os esboços de Rafael. Domínio Público - Wikimédia Commons
Assim, o papa solicitou que o jovem produzisse a decoração de todo o espaço. Inclusive, ordenou que os afrescos iniciados por outros artistas fossem destruídos. Domínio Público - Wikimédia Commons
Rafael ficou por 12 anos em Roma, focado na ornamentação de quatro salas do Vaticano: as ‘Stanzas de Rafael’. No caso, ‘Stanza dela Segnatura’, ‘Stanza di Heliodoro’, Stanza dell Incendio di Borgo’ e ‘Stanza di Constantino’. Reprodução do site museivaticani
Seu último trabalho foi ‘Transfiguração’, um pedido feito em 1517 e entregue três anos depois. Ela se destaca pelo desafio, pois apresenta atributos do Barroco. Mattana - Wikimédia Commons
Rafael morreu em 1520, com 37 anos, depois de uma febre. Ele foi sepultado no Panteão de Roma (foto), com honra. Aliás, foi o único artista do movimento Renascentista que recebeu glorificação tão impactante. ASaber91 wikimedia commons
Obras de Rafael estão expostas nos principais museus do mundo. Entre eles, o Louvre em Paris, o Metropolitan Museum of Art, em Nova York, e os Museus do Vaticano. Met Museum / Wikimedia Commons
Mais tempo livre — e novas profissões
Apesar das dúvidas éticas e técnicas, Kolondra é otimista. Para ele, a Web 4.0 tem o potencial de melhorar a qualidade de vida das pessoas, liberando-as de tarefas repetitivas e burocráticas. “Teremos mais tempo para estar com a família, com os amigos, ou cuidar de nós mesmos”, diz.
Além disso, longe de destruir empregos, o executivo acredita que a Web 4.0 trará novas oportunidades. “Como toda revolução tecnológica, alguns postos de trabalho podem desaparecer, mas muitos outros surgirão. Haverá espaço para profissionais que saibam treinar IAs, interpretar resultados, supervisionar decisões e criar experiências personalizadas”.
Na visão da Opera, o navegador do futuro não será apenas uma janela para a internet, mas um verdadeiro assistente digital. Ele lembrará das suas buscas, entenderá seus interesses e ajudará a organizar sua vida online. “Hoje, o navegador já pode recuperar as abas que você abriu ao procurar um tênis na semana passada. Em breve, poderá fazer pesquisas profundas, automatizar tarefas e até criar sites ou jogos simples”, antecipa Kolondra.