Uso de cigarros eletrônicos cresce 600% no país e expõe falhas na proibição
Estudo alerta para a expansão de um mercado ilícito e defende novas estratégias de regulação e vigilância sobre os dispositivos eletrônicos de fumar
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Apesar de a venda de cigarros eletrônicos ser proibida no Brasil desde 2009, um estudo publicado na The Lancet Regional Health – Americas revela que o consumo desses dispositivos aumentou 600% entre 2018 e 2023. O levantamento aponta que cerca de 3,1 milhões de brasileiros utilizam exclusivamente cigarros eletrônicos, enquanto outros 8 milhões fazem uso combinado com produtos de tabaco. O artigo alerta que a política de proibição, sem fiscalização efetiva, resultou na consolidação de um mercado ilegal perigoso e descontrolado.
Assinado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Ohio (EUA), o artigo destaca que a ausência de uma estrutura de vigilância robusta e a facilidade de compra, inclusive em redes sociais e pontos de venda físicos, favoreceram a disseminação de produtos falsificados e sem controle sanitário.
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Uma investigação recente identificou mais de 1,8 mil anúncios irregulares de cigarros eletrônicos em plataformas digitais, o que demonstra a facilidade de acesso mesmo com a proibição em vigor. Além disso, dados da Receita Federal mostram que quase 2 milhões de unidades foram apreendidas em 2024, um aumento de 57% em relação ao ano anterior.
O estudo também aponta riscos crescentes à saúde pública: análises laboratoriais encontraram concentrações de metais acima dos limites seguros em vapes descartáveis vendidos no país, enquanto relatos de internações e complicações respiratórias associadas ao uso dos dispositivos têm sido cada vez mais frequentes.
Os autores defendem que o Brasil adote políticas baseadas em evidências, com monitoramento contínuo do consumo e debate transparente sobre a regulação. “A proibição isolada mostrou-se insuficiente para conter o avanço do mercado ilegal”, afirmam. “O país precisa equilibrar medidas de controle, fiscalização e educação pública.”
Vape e câncer de pulmão
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso de cigarros eletrônicos aumenta a exposição a substâncias tóxicas e cancerígenas, como metais pesados (níquel, chumbo e cádmio) e compostos voláteis associados ao câncer de pulmão e a outras doenças respiratórias crônicas. A American Lung Association também alerta que os aerossóis inalados contêm formaldeído e acroleína - substâncias que causam inflamação pulmonar e danos ao DNA das células pulmonares.
“O vape não é inofensivo, nem representa uma alternativa segura ao cigarro convencional. Diversos estudos já demonstraram que os compostos presentes nos cigarros eletrônicos podem causar mutações genéticas associadas ao câncer de pulmão”, afirma a oncologista Clarissa Baldotto, presidente eleita da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e membro do Board da International Association for the Study of Lung Cancer.
“É preocupante ver jovens e adultos sendo expostos a um produto cuja toxicidade é evidente, mas cuja regulação ainda é negligenciada. O Brasil precisa tratar o vape como uma questão urgente de saúde pública”, completa a oncologista.
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Para Clarissa, que atua na Rede D’Or, o tema deve ser enfrentado com o mesmo rigor que o tabagismo tradicional. “A experiência internacional mostra que só políticas de prevenção, informação e controle rigoroso podem conter os danos à saúde e evitar uma nova geração de dependentes de nicotina.”