SETEMBRO AMARELO

Como lidar com uma tentativa de suicídio?

Psicóloga alerta para os riscos da desinformação a respeito da saúde mental e orienta sobre os cuidados necessários para a prevenção da morte por suicídio

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No Brasil, cerca de 14 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos. Isso sem contar com os casos subnotificados. Segundo um documento elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2014, “Preventing suicide: a global imperative”, para cada morte, há 20 tentativas. "Um número absurdo", na visão da suicidologista Luciana Rocha.

Pós-graduada em suicídio e comportamentos auto-lestivos, a psicóloga conta que o Setembro Amarelo tem sido questionado por especialistas. “Há um excesso de falas muito banais a respeito de algo muito sério, que precisa não de um julgamento, mas sim de informações corretas sobre o tema.” Ela afirma que não se deve compartilhar informações sem saber se as fontes são seguras.

Como lidar com a dor do outro?

A psicóloga destaca que não se pode desconsiderar uma tentativa de suicídio. “Ninguém pode julgar a dor do outro. Quando uma pessoa morre por suicídio, é porque ela estava sentindo uma dor imensa.”

Em seu livro “Nem covarde, nem herói – amor e recomeço diante de uma perda por suicídio”, publicado em 2022 pela Editora Gulliver, Luciana desmitifica a ideia de culpa acerca do ato. Combinando relatos pessoais e fatos científicos, a obra traz conscientização sobre o tema de forma leve.

Nem covarde, Nem herói – Amor e recomeço diante de uma perda por suicídio
O livro foi escrito a partir de uma história de amor Editora Gulliver

Ela ressalta que é um engano achar que uma tentativa de suicídio seja apenas para chamar a atenção. “Além de ser um pedido de ajuda, representa um grave risco iminente.” Para se ter uma ideia, a especialista ressalta que uma tentativa de suicídio aumenta em 50% o risco de a pessoa tentar de novo e, a cada vez que ocorre uma tentativa, o risco de morte aumenta mais.

Apesar da redução do número de suicídios no cenário global, com uma diminuição de 36% entre 2000 e 2019, houve um aumento de 17% no continente americano desde o início deste século, de acordo com a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS). Segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), no Brasil o aumento foi de 43%, de 2010 a 2019.

Como resolver?

A especialista acrescenta que “há um mito de que não se deve falar sobre suicídio. Muito pelo contrário, o número de suicídios tem aumentado justamente porque não se fala sobre o assunto. A única forma de diminuir o número de suicídios é quebrar o tabu", comenta.

Luciana menciona que as escolas, ambiente formado por tantas trocas de experiências, deveriam fazer rodas de conversa sobre saúde mental. “Se ocorre uma perda por suicídio na escola, por exemplo, é preciso fazer um trabalho de acolhimento e psicoeducação com os professores, coordenação e alunos. Não tem como fingir que uma coisa dessas não aconteceu.”

A psicóloga também faz um alerta para não glamourizar a situação. Ao notificar casos de suicídio, por exemplo, não se deve falar o método utilizado. “É importante evidenciar que suicídio é a consequência final de um processo que já estava acontecendo, em que a pessoa já estava com questões psíquicas, psiquiátricas, que a gente precisa cuidar.”

Como lembra a especialista, o suicídio é multifatorial. As causas envolvem fatores sociais, culturais, econômicos, biológicos, genéticos, emocionais e a própria história de vida da pessoa.

Dessa forma, utilizar a religião para tratar do assunto pode ser perigoso. “Isso atrapalha na prevenção”, destaca Luciana. “A pessoa pode começar a achar que é muito fraca ou não está tendo fé, e é importante ressaltar que o suicídio é a consequência e um ou mais adoecimentos.”

A saúde mental deve ter um foco maior nas políticas públicas. Além de mais psicólogos e psiquiatras, a suicidologista ressalta que é preciso haver um treinamento adequado para atender pacientes que estão em crise. Vale lembrar que todas as condições de bem-estar social afetam positivamente a saúde mental de cada indivíduo e sua qualidade de vida.

Se precisar, peça ajuda!

Em 2025, o lema da campanha Setembro Amarelo é “Se precisar, peça ajuda!”. Luciana destaca a importância de procurar um profissional especializado em saúde mental. “Chamar a pessoa para tomar um café ou conversar não vai resolver o problema. Para lidar com uma pessoa que está com uma ideação suicida, depressão ou outro adoecimento mental, é fundamental recorrer a um especialista.”

A psicóloga ainda alerta para a urgência dessa procura. “Se alguém percebe que está começando a ter algum pensamento de morte, de tirar a própria vida, não pode ficar esperando a coisa piorar. Já tem que buscar ajuda rapidamente, porque isso não é natural”, alerta.

Se precisar de ajuda, ligue para 188 - Centro de Valorização da Vida (CVV).

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 * Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.

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