UM SONHO

Oncofertilidade: como o congelamento de óvulos pode permitir a maternidade

Riscos de infertilidade em pacientes com câncer são maiores conforme a idade avança. Quimioterapia pode "envelhecer" o ovário

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A radioterapia, a quimioterapia e as cirurgias utilizadas no tratamento do câncer podem levar à infertilidade e, dependendo do tratamento escolhido, provocar até mesmo a falência ovariana. Essa deve ser uma preocupação presente para mulheres antes do tratamento para a cura do câncer: preservar sua capacidade reprodutiva.  

Segundo a Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), os riscos de infertilidade em pacientes com câncer são maiores conforme a idade do indivíduo avança. Isso acontece porque a quimioterapia, por exemplo, pode “envelhecer” o ovário ao interferir com a quantidade e qualidade dos óvulos.



Por isso, quanto mais cedo a paciente for diagnosticada, mais rápido ela poderá tomar uma decisão junto ao médico para preservar estes gametas (óvulos), e desta forma estender a fertilidade, dependendo do tipo e estágio do câncer.  

Segundo a médica especialista em reprodução humana Maria do Carmo Borges de Souza, diretora-médica da Fertipraxis Centro de Reprodução Humana, é importante saber que, dependendo da indicação de quimioterapia, a medicação tem grande potencial de comprometer a reserva ovariana.

Para Roberto de Azevedo Antunes, também diretor médico da Fertipraxis, que esteve recentemente em congresso abordando o tema, a indicação formal da preservação da fertilidade para mulheres com câncer de mama segue as recomendações das Sociedades de Medicina Reprodutiva e de Oncologia Clínica.

“Essa indicação é para todas as mulheres que menstruam e que possuem um diagnóstico de câncer. Elas devem preservar a sua fertilidade. E hoje a paciente consegue iniciar a quimioterapia seguindo protocolos seguros que não comprometem o tratamento da doença e nem aumentam os riscos de uma recidiva tardia. Então é possível, sim, preservar esta possibilidade de ser mãe após o câncer de mama por meio do congelamento de óvulos e embriões”, afirma o especialista.  
 

Como preservar a chance da maternidade no câncer de mama?  

Maria do Carmo explica que o tipo de tumor e o estágio da doença podem ser determinantes para o impacto na fertilidade feminina, considerando que essas condições direcionam a necessidade e o tipo de quimioterapia, que em alguns casos provocam a menopausa precoce.  

“O congelamento de óvulos antes do início do tratamento oncológico é uma estratégia para a preservação da chance de gerar filhos. Quando isso é feito, os óvulos são preservados dos efeitos quimioterápicos, conservando, portanto, sua qualidade ao momento da coleta, o que aumenta a perspectiva de sucesso da fertilização in vitro”, complementa a médica, que também é membro do Conselho Consultivo da SBRA e ex-presidente da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida (REDLARA).  

Segundo a especialista, o congelamento de óvulos é hoje a técnica mais indicada nestes casos oncológicos. De modo geral, uma estimulação é iniciada em média até 2 semanas a partir de uma menstruação. Mas, hoje pode-se fazer este procedimento em qualquer fase do ciclo, o que agiliza a disponibilidade da paciente para o tratamento oncológico em 12 a 14 dias.   

“A fertilização in vitro poderia também ser opção, mas a preservação dos óvulos proporciona maior autonomia reprodutiva à paciente nas decisões posteriores para a utilização”, explica a médica, complementando que o congelamento de fragmentos de tecido ovariano, também pode ser considerado, embora não seja a indicação primária nestes casos. 

A esperança na medicina reprodutiva  


Por outro lado, medicamentos como o tamoxifeno ou inibidores de aromatases como Letrozol e Anastrazol, muito usados para a prevenção de recidivas do câncer de mama, podem ser parte do protocolo para estimular os ovários. Desta forma, além de participar do estímulo, protegem o tecido mamário dos efeitos do aumento do estradiol neste período de oito a 10-12 dias.  

“Uma recomendação médica bastante recorrente é a espera de dois anos antes da tentativa de uma gravidez em razão do maior risco de recidiva grave nesse período. Espera que para as mulheres com planos de gravidez pode ser comprometedora sem a proteção de um método de preservação da fertilidade. Sonhar com a continuação da vida enquanto se encara a realidade de maneira consciente e amparada é, sobretudo, para muitas pacientes, um aumento considerável da expectativa positiva sobre a doença”, diz a especialista.   

Como é o congelamento?

O primeiro passo é a estimulação do ovário com medicações hormonais, injeções subcutâneas diárias por oito a 10-12 dias. Neste período, são realizadas entre três a quatro ultrassonografias de acompanhamento e ajustes necessários nas doses.   

Uma vez que os folículos estejam nos tamanhos adequados (maiores de 16 mm), acontece o próximo passo, que é o gatilho ou disparo da ovulação, que faz o amadurecimento final dos óvulos. Cerca de 36h depois é realizada a coleta dos óvulos, via transvaginal com sedação leve, procedimento que dura cerca de 20 a 30 minutos. 

“Os folículos aspirados são avaliados no laboratório de reprodução, usualmente acoplado à sala de coleta dos óvulos, para a identificação dos óvulos maduros e de boa qualidade morfológica, que serão congelados em até três horas após a coleta. São óvulos que não perderão sua capacidade reprodutiva e nem envelhecerão pelo tempo de congelamento”, afirma Roberto.  

De acordo com os especialistas, o resultado da fertilização com o óvulo congelado depende de diversos fatores, por isso ter óvulos congelados não é garantia de gravidez e, sim, uma possibilidade, visto que é preservada a idade cronológica na hora do congelamento.  

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