ALERTA

Alergias alimentares em crianças crescem no país e pedem atenção redobrada

Até 8% das crianças brasileiras convivem com algum tipo de alergia alimentar. Diagnóstico precoce, cardápio escolar adaptado e rotulagem correta previnem riscos

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As alergias alimentares deixaram de ser um problema restrito a poucos casos para se tornarem um desafio de saúde pública no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), cerca de 8% das crianças brasileiras apresentam algum tipo de alergia alimentar, uma prevalência em crescimento nos últimos anos, acompanhando tendência mundial. Os principais gatilhos são leite de vaca, ovos, soja, trigo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta que os diagnósticos estão ocorrendo cada vez mais cedo, o que tem permitido intervenções eficazes, mas também traz desafios práticos para escolas, famílias e cuidadores. A preparação de cardápios adaptados, a leitura atenta de rótulos e a prevenção de contaminação cruzada tornaram-se tarefas diárias de sobrevivência.



“Muita gente confunde alergia alimentar com intolerância alimentar, mas são condições completamente diferentes. A alergia é uma reação imunológica, que pode ser grave e até fatal, enquanto a intolerância está relacionada à dificuldade de digestão, sem risco de vida imediato”, explica a pediatra Fernanda Fragoso, especialista em saúde infantil, do Prontobaby Hospital da Criança.

Segundo a especialista, o aumento das alergias está relacionado a fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida. “A prevalência em crianças tem aumentado nas últimas décadas. Essa tendência é atribuída a uma combinação de fatores, como o consumo crescente de ultraprocessados, mudanças no padrão da introdução alimentar e, também, ao reconhecimento e diagnóstico mais frequentes.”

Os sintomas podem variar de manifestações leves a reações potencialmente fatais. “Em crianças, os sinais podem aparecer minutos após a ingestão ou algumas horas depois. Os mais comuns são urticária, manchas na pele, vômitos, diarreia, dor abdominal e chiado no peito. Mas também podem ocorrer reações graves, como a anafilaxia, que combina dificuldade respiratória, queda de pressão e inchaço generalizado, exigindo atendimento emergencial imediato”, detalha Fernanda.

Ela reforça que os pais devem estar atentos a sinais repetidos após o consumo de certos alimentos. “Se a criança apresenta sempre os mesmos sintomas depois de ingerir leite, ovo ou amendoim, por exemplo, é um alerta importante para procurar avaliação médica.”

O diagnóstico precoce é apontado como um divisor de águas. “Identificar cedo o alimento alergênico evita exposições repetidas e reduz o risco de anafilaxia. Além disso, permite ajustes na dieta, previne deficiências nutricionais e melhora a qualidade de vida da criança e da família”, afirma a médica.

Entre os exames utilizados estão o teste cutâneo de puntura (prick test), a dosagem de IgE específica no sangue e, em casos selecionados, o teste de provocação oral, considerado o padrão-ouro. “Esse é um processo cuidadoso, porque muitas vezes é preciso diferenciar de intolerâncias e outros problemas digestivos ou de pele”, acrescenta.

Um ponto crucial é a introdução alimentar em bebês com risco aumentado de alergia. “Ter histórico familiar não significa que o bebê terá alergia. A introdução deve começar aos seis meses, sem atrasos, inclusive para alimentos potencialmente alergênicos como ovo, peixe, trigo e amendoim”, orienta Fernanda.

Segundo a médica, a oferta gradual e supervisionada desses alimentos pode, inclusive, favorecer o desenvolvimento de tolerância ainda na infância. Sobre a introdução alimentar, Fernanda ressalta que “a introdução não deve ser postergada. O aleitamento exclusivo até os seis meses e, depois, a introdução gradual de alimentos, inclusive os alergênicos, em ambiente seguro, são estratégias que ajudam não só na nutrição, mas também no desenvolvimento de tolerância.”

Se para as famílias a rotina já é desafiadora, nas escolas a responsabilidade é multiplicada. “As escolas e creches têm papel enorme na segurança dessas crianças, porque é lá em que acontecem muitas exposições acidentais”, ressalta Fernanda.

Ela recomenda medidas como cadastro atualizado dos alunos alérgicos, cardápios adaptados com substituições nutricionalmente equivalentes, protocolos contra contaminação cruzada e treinamento da equipe. “Professores, auxiliares e cozinheiros precisam saber reconhecer os sintomas e agir em situações de emergência.”

Outro ponto sensível é a leitura correta dos rótulos de alimentos industrializados. Desde 2015, a Anvisa exige que os principais alergênicos estejam destacados nas embalagens. “Mesmo assim, é preciso atenção a termos técnicos como caseína, albumina ou maltodextrina, que escondem ingredientes de risco. Além disso, fabricantes podem mudar fórmulas sem aviso, então os pais devem ler o rótulo a cada compra, até de produtos habituais”, orienta a pediatra.

Ela lembra ainda que termos como “sem lactose” ou “gluten free” não garantem segurança para alérgicos a proteína do leite ou trigo. “Nem todo alimento especial é adequado para crianças com alergia. A leitura atenta é fundamental.”

Para lidar com a alergia no dia a dia, a médica recomenda acompanhamento regular com pediatra, alergista e nutricionista, além de um plano de ação de emergência. “A informação é a maior aliada das famílias. Quando a criança, os cuidadores e a escola sabem como agir, o ambiente se torna mais seguro e inclusivo”, reforça.

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