A dor invisível da endometriose e seu impacto na saúde mental feminina
Diagnóstico tardio e sintomas persistentes provocam impactos emocionais, elevando os índices de depressão e ansiedade entre mulheres no mundo todo
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Siga noA endometriose, condição de caráter crônico caracterizada pelo crescimento de tecido semelhante ao endométrio em locais fora do útero, é comumente associada à dor pélvica intensa, às dificuldades reprodutivas e às restrições físicas que provoca.
No entanto, existe uma dimensão menos perceptível e igualmente impactante, que são os abalos emocionais ligados a essa enfermidade. O comprometimento psicológico decorrente da doença é hoje amplamente reconhecido como um dos fatores que mais prejudicam a qualidade de vida das mulheres afetadas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 190 milhões de mulheres receberam o diagnóstico de endometriose. O processo para chegar a essa confirmação é frequentemente longo e marcado por falta de reconhecimento, aumentando o impacto emocional da doença. A limitada familiaridade com a condição, inclusive entre profissionais de saúde, faz com que muitas pacientes levem entre 7 e 12 anos até obter um diagnóstico adequado.
“Não estamos falando apenas de uma doença ginecológica, mas de uma condição sistêmica que atinge corpo e mente. Reconhecer o impacto psicológico é parte essencial do tratamento. Quando ouvimos e acolhemos a paciente, damos a ela mais do que um diagnóstico, oferecemos dignidade e qualidade de vida”, explica o ginecologista e obstetra e autor do livro "Descomplicando a Endometriose", Jardel Pereira Soares.
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Realidade brasileira
No Brasil, a endometriose afeta aproximadamente uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva, refletindo uma realidade de mais de 7 milhões de brasileiras impactadas pela doença. Uma pesquisa publicada na revista da Associação Médica Brasileira investigou a relação entre endometriose, dor pélvica e saúde emocional. O levantamento identificou que 92% das mulheres avaliadas apresentaram sinais de depressão, e mais da metade delas (56%) em níveis moderados a graves.
"Esses números mostram que a endometriose não afeta apenas o corpo, mas também a mente das mulheres. A prevalência de sintomas emocionais é muito maior do que na população em geral, evidenciando que o sofrimento psicológico deve ser tratado como parte essencial do cuidado integral à paciente”, ressalta o especialista.
A vida social, profissional e afetiva também sofre. A impossibilidade de realizar tarefas simples, a ausência no trabalho e a dificuldade em manter relações sexuais sem dor alimentam a sensação de incapacidade e baixa autoestima. Esse quadro acaba criando um ciclo, onde a dor física leva ao desgaste emocional, e os danos psíquicos intensificam a percepção da dor.
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Cuidado multidisciplinar
Uma abordagem multidisciplinar tem se mostrado cada vez mais necessária no tratamento da endometriose. O acompanhamento médico deve ser complementado por terapias psicológicas, fisioterapia pélvica, orientação nutricional adequada e participação em grupos de apoio. Essa integração não só ajuda no controle da dor, como também contribui significativamente para a melhora da saúde mental e da qualidade de vida das pacientes.
Jardel reforça essa perspectiva no livro "Descomplicando a Endometriose", da Editora Labrador. A obra apresenta informações acessíveis tanto para mulheres quanto para profissionais de saúde, com o objetivo de desmistificar a doença e evidenciar a importância de compreendê-la em suas múltiplas dimensões.
De acordo com o médico, “o objetivo do livro é mostrar às mulheres que elas não estão sozinhas. Ter acesso a informações confiáveis é essencial para aliviar o sofrimento e promover um cuidado completo da saúde.” Ele reforça ainda que as pacientes devem procurar orientação médica, prestar atenção a qualquer dor persistente e buscar suporte psicológico ou grupos de convivência, que podem ser grandes aliados no manejo da doença.
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