Entre avanços e mitos: entenda sobre o uso da cannabis medicinal no Brasil
Minas Gerais é o terceiro estado com maior número de pacientes atualmente, e a maioria deles tem entre 19 e 50 anos
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Siga noMesmo com a conquista recente da apresentação ao STJ de um plano de ação para regulamentação do uso, os compostos à base da planta sofrem com desinformação, preconceito e falta de regulamentação específica para o cultivo e produção nacional de medicamentos. Saiba quais são as principais dúvidas.
A discussão sobre o uso medicinal da cannabis no Brasil avançou mais um passo no dia 22 de maio de 2025, quando o governo federal apresentou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) um plano de ação voltado à regulamentação da prática no país. Hoje, propostas que tratam do cultivo, da produção e da distribuição de medicamentos à base de cannabis já estão em análise no Senado, contudo, isso ainda ocorre em uma realidade rodeada de dúvidas, mitos e, claro, preconceitos.
"Há um abismo entre o avanço técnico e o entendimento popular sobre o que é, de fato, a cannabis medicinal. Isso faz com que muita gente deixe de buscar o tratamento por medo ou preconceito, mesmo em casos em que ele seria altamente benéfico", afirma Lucas Rouxinol, CEO e Cofundador da Click Cannabis, startup que democratiza o acesso à cannabis medicinal no Brasil.
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O cenário mineiro
Ainda que o país precise investir mais na educação da população sobre o assunto, existem estados mais avançados no assunto, o que pode ser observado pela maior adoção do uso medicinal da cannabis. Hoje, Minas é o terceiro estado com maior número de pacientes. Isso mostra o quanto o tema está ganhando espaço e deixando de ser tabu para muitas famílias da região”, analisa Lucas.
Também segundo o levantamento da Click Cannabis, a maioria das pessoas que residem em Minas e fazem uso do tratamento tem entre 19 e 50 anos. Em geral, elas estão em busca de alternativas mais naturais e menos invasivas para tratar sintomas persistentes, como insônia, dores crônicas, TDAH, ansiedade e depressão.
As dúvidas mais comuns
Apesar da maior visibilidade e do volume de pacientes, persistem mitos e confusões em torno do tema. Isso porque muitas pessoas ainda confundem o uso medicinal com o uso recreativo da planta, desconhecem a diferença entre CBD e THC, ou acreditam que o tratamento envolve fumar maconha — o que não é verdade.
Na sequência, confira algumas das dúvidas mais frequentes que o clínico geral Rodrigo Saad costuma responder quando atende alguém que está começando a se informar sobre o tema:
Cannabis e maconha são a mesma coisa?
Sim e não. Cannabis é o nome científico do gênero da planta. "Maconha" é o termo popular, geralmente usado para se referir ao uso recreativo da planta rica em THC, composto de efeito psicoativo. Já os medicamentos são produzidos com composições específicas, muitas vezes com alta concentração de CBD e baixos níveis de THC.
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O tratamento causa efeitos psicoativos?
Não necessariamente. O CBD, um dos compostos mais usados em tratamentos, não tem efeito psicoativo. Ele atua de forma distinta do THC, oferecendo benefícios terapêuticos sem causar alteração de consciência.
É preciso fumar?
Não. Os produtos medicinais são administrados por meio de óleos, cápsulas, sprays ou gomas, com dosagens e orientações médicas específicas.
O uso para fins de saúde e bem-estar pode gerar vício?
Não há evidências de que o uso medicinal do CBD leve à dependência. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o canabidiol (CBD) não tem potencial de abuso nem causa efeitos psicoativos. O THC, quando usado em contextos terapêuticos e com controle médico, também apresenta baixo risco de dependência comparado a outras substâncias farmacológicas, como opioides.
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É seguro para crianças?
Sim, em casos específicos e sempre com prescrição médica. O uso de cannabis medicinal tem mostrado resultados especialmente positivos no tratamento de epilepsias refratárias em crianças, como a síndrome de Dravet e a síndrome de Lennox-Gastaut. Esses quadros clínicos foram, inclusive, os primeiros a motivar decisões judiciais e normativas da Anvisa favoráveis ao uso de derivados da planta no Brasil.
Caminhos para o futuro
A formalização do plano de regulamentação entregue ao STJ e a retomada da pauta no Congresso Nacional indicam um possível ponto de virada. Entre os temas discutidos estão a simplificação do processo de prescrição, a regulamentação do cultivo nacional para fins medicinais e a ampliação do acesso público a esses tratamentos.
Especialistas e organizações ligadas à área da saúde reforçam que a regulamentação não significa liberalização irrestrita, mas sim o reconhecimento de que o uso medicinal da cannabis é uma realidade no país e precisa de regras claras. “A tendência é que, com mais informação e regulamentação adequada, o tratamento se torne mais acessível e menos cercado de tabus”, analisa o CEO da Click Cannabis.
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