Dia Mundial Sem Tabaco: hora de parar com o vício
Pneumologista alerta que o Brasil enfrenta a reinvenção do tabagismo e reforça o papel do cuidado resposta à dependência
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Siga noO Dia Mundial Sem Tabaco, lembrado hoje (31/5), propõe mais do que uma pausa para reflexão: ele nos convoca a agir com responsabilidade. O tema neste ano definido, pela Organização Mundial da Saúde, é “Desmascarando o apelo: expondo as táticas da indústria dos produtos de tabaco e nicotina”.
Falar sobre tabagismo hoje é, sobretudo, reconhecer que milhões de pessoas vivem o desafio cotidiano da dependência e que o papel dos serviços de saúde é acolher essas pessoas com respeito, sem julgamento, e com ferramentas reais para que cada uma possa escrever sua própria trajetória de superação. Segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), no Brasil, estima-se que cerca de 12% da população adulta ainda consome produtos de tabaco; e reduzir esse número passa, antes de tudo, por entender que ninguém é definido por seu vício e que todo fumante é, antes, um paciente em potencial que precisa de cuidado, não de condenação.
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Para a pneumologista Sandra Guimarães, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o caminho para abandonar o tabagismo precisa passar pelo acolhimento. “O primeiro passo não é dizer para o paciente parar, é perguntar como ele está. Parar de fumar não é um comando, é uma construção. E, como toda construção humana, precisa de afeto, estratégia e tempo.”
Esse cuidado começa pela escuta ativa que implica em perguntar, ouvir e não apontar. É importante entender que o tabagismo muitas vezes se liga a questões emocionais, hábitos enraizados e contextos de vulnerabilidade. O acompanhamento de pessoas fumantes deve ser construído com base na confiança e no vínculo, com equipes preparadas para lidar com recaídas, dúvidas e medos não como falhas, mas como parte natural de um processo de mudança.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 90% dos casos de câncer de pulmão, um dos mais letais no país, são causados pelo tabagismo. O cigarro também é responsável por cerca de 30% das mortes por câncer em geral, afetando órgãos como laringe, boca, esôfago, bexiga e pâncreas.
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Além disso, de acordo com dados do Ministério da Saúde referentes ao ano de 2023, o tabagismo foi responsável por aproximadamente 156 mil internações por doenças cardiovasculares no Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo acidentes vasculares cerebrais (AVC) e infartos agudos do miocárdio. Estima-se que mais de 30 mil mortes por doenças cardiovasculares no país estejam diretamente ligadas ao consumo de produtos derivados do tabaco.
Dentro desse cenário, o hospital desenvolve um programa interno estruturado para apoiar colaboradores fumantes. Em 2024, a instituição identificou uma prevalência de cerca de 5% de fumantes entre seus profissionais, número inferior à média nacional. Os colaboradores interessados em parar de fumar são acolhidos durante suas consultas ocupacionais periódicas e encaminhados para acompanhamento médico especializado. O programa inclui avaliação clínica e motivacional, plano terapêutico individualizado, apoio psicológico, uso de medicação quando necessário e suporte contínuo durante todo o processo. A ação reforça o compromisso institucional com a promoção da saúde, construindo um ambiente de trabalho mais saudável, seguro e acolhedor.
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É nesse ponto que o Dia Mundial Sem Tabaco de 2025 se torna especialmente relevante: ele nos convida a transformar o cuidado com o fumante em prioridade de saúde pública, não como punição, mas como política de vida. É necessário investir em capacitação profissional, em campanhas que valorizem a escuta e a empatia, e em redes de apoio capazes de sustentar o processo de cessação em longo prazo.
O cuidado com quem fuma, portanto, não se resume a estatísticas nem a campanhas de impacto. Ele se expressa na forma como escutamos, acolhemos e caminhamos junto. Servir à vida é, acima de tudo, assumir o compromisso com a experiência do outro. Não basta falar de riscos — é preciso falar de possibilidades. E garantir que o sistema de saúde seja, para cada paciente, uma ponte para respirar com mais liberdade, autonomia e dignidade.
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