ESPECIALISTA DA USP
Doenças e longevidade feminina: 3 fatos que a genética explica
O conhecimento das especificidades da genética feminina ajuda a explicar doenças mas também a longevidade
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12/03/2025 12:15
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Siga noQuem nunca ouviu que a longevidade feminina está ligada a fatores genéticos ou que as mulheres estão mais propensas a certas doenças do que os homens? A ciência tem avançado no entendimento da biologia feminina, revelando aspectos que nem sempre são amplamente conhecidos.
Para esclarecer alguns desses fatos, contamos com a expertise do doutor em genética pela USP, Ricardo Di Lazzaro, cofundador da Genera — o primeiro laboratório especializado em genômica pessoal do Brasil—e responsável pela área de genômica pessoal da Dasa Genômica.
1 - Mulheres podem ter cromossomos XY
Normalmente, as mulheres possuem cromossomos XX, enquanto os homens têm cromossomos XY. No entanto, em casos raros, algumas mulheres apresentam cromossomos XY devido a uma condição genética conhecida como síndrome de insensibilidade androgênica (SIA).
A condição afeta uma pequena parcela da população feminina, resultando em uma resposta reduzida ou ausente à testosterona. Um estudo recente, conduzido pelo cientista Claus Højbjerg Gravholt, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, mostra que algumas delas com cromossomos XY só descobrem essa condição na puberdade, quando começam a perceber que não menstruam e não possuem órgãos sexuais femininos internos.
2 - Mulheres estão mais propensas ao Alzheimer
As mulheres têm maior risco de desenvolver Alzheimer, e a longevidade é um fator importante. No Brasil, segundo o IBGE (2019), a expectativa de vida feminina é de, em média, 79,1 anos, enquanto a masculina é de 71,9 anos.
Conforme Di Lazzaro, outros fatores também influenciam essa propensão ao desenvolvimento do Alzheimer em mulheres. Pesquisadores da Universidade de Boston e da Universidade de Chicago identificaram o gene MGMT, que parece aumentar o risco de Alzheimer especificamente em mulheres.
Segundo Lindsay Farrer, coautora do estudo da Universidade de Boston, essa associação é uma das mais fortes identificadas entre fatores genéticos e a doença em mulheres. A pesquisa mostrou que a expressão desse gene está ligada ao desenvolvimento de proteínas beta-amiloide e tau, características da doença de Alzheimer, enquanto não foi encontrada associação semelhante em homens.
"A redução do estrogênio durante a perimenopausa também pode aumentar o risco em mulheres. A interação entre genética, hormônios e outros fatores de risco explica esse fato”, explica o geneticista.
3 – Hipótese da avó evolutiva
De acordo com Di Lazzaro, existe uma hipótese que também pode explicar a longevidade feminina geneticamente. Quem propôs foi o biólogo William Hamilton em 1966, que a batizou de Hipótese da Avó, sugerindo que a presença das avós nas famílias pode ser benéfica para a sobrevivência dos netos.
"Isso ocorre porque elas oferecem recursos e cuidados essenciais, ajudando na continuidade dos genes e na evolução da espécie”, pontua Di Lazzaro.
Ele também destaca que A Teoria da Seleção Natural, um dos mecanismos fundamentais da evolução formulada pelo naturalista Charles Darwin (1809-1882), afirma que as características vantajosas de uma população para um determinado ambiente são selecionadas e contribuem para a adaptação e sobrevivência das espécies.
Dessa forma, a presença ativa das avós no cuidado dos netos pode ser vista como uma estratégia evolutiva que favorece a transmissão de seus próprios genes ao longo do tempo.
Portanto, pontua o especialista, a compreensão desse processo evolutivo, aliada a dados genéticos, permite que as mulheres conheçam melhor seu DNA, ajudando-as a tomar decisões mais informadas sobre sua longevidade e bem-estar físico e mental.
Para o geneticista, a conexão entre genética e qualidade de vida é essencial para que as mulheres possam melhorar sua saúde de forma consciente.