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DOENÇA MULTIFATORIAL

Diagnóstico de obesidade vai além do IMC

Avanços científicos e novas diretrizes na luta contra a patologia oficializam necessidade de avaliação médica abrangente para tratamento personalizado e eficaz

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Na última semana, um grupo internacional de pesquisadores publicou, em uma revista do grupo Lancet, uma nova recomendação que pode influenciar no diagnóstico da obesidade. A proposta sugere a adoção de uma diretriz mais abrangente e multifatorial que vai além do tradicional Índice de Massa Corporal (IMC), método padrão em todo o mundo que vem sendo utilizado há décadas.

A PHD em endocrinologia pela USP e metabologista, especialista em emagrecimento saudável, Elaine Dias JK, explica que obesidade é uma doença crônica e multifatorial. “Para identificar a patologia e o tipo de obesidade, além do cálculo do IMC, que é uma medida simples relacionando peso e altura, é fundamental fazer uma avaliação mais precisa, incluindo análises complementares como a medição da circunferência abdominal, densitometria corporal e a bioimpedância, que oferecem uma visão mais detalhada da composição corporal”, ressalta a médica.

Ela acrescenta que existem diversos fatores relacionados. “Além da genética, a ansiedade e a compulsão alimentar estão entre os principais gatilhos para gordura excedente no organismo. Nas minhas consultas, trabalho muito a necessidade de qualidade de vida e autoaceitação com meus pacientes. O importante não é o quanto se pesa ou se emagrece, mas como o paciente se sente e os impactos na sua saúde e no seu bem-estar. Tenho pacientes com sobrepeso que são super saudáveis e outros com IMC dentro do padrão que possuem organismo propenso a desenvolver obesidade”, comenta a especialista.

Elaine reforça que a obesidade se manifesta de diferentes formas, cada uma com suas particularidades e riscos associados no coração, fígado, rins, articulações e sistema reprodutivo. “Ela é capaz de provocar uma série de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral e várias formas de câncer, bem como problemas de saúde mental”, explica.

Mais de 1 bilhão de pessoas são portadoras da patologia, sendo 650 milhões de adultos, 340 milhões de adolescentes e 39 milhões de crianças, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para a especialista, a nova diretriz, incorporando oficialmente medidas de adiposidade, como a circunferência abdominal em relação à altura ou ao quadril, e métodos mais sofisticados como a densitometria corporal, deve ajudar a identificar a obesidade de maneira mais precisa e a personalizar o tratamento para cada paciente.

 

Tipos de obesidade

 

- Obesidade Tipo 1 (moderada): neste estágio, os riscos para doenças associadas, como diabetes tipo 2 e hipertensão, começam a ser significativos

- Obesidade Tipo 2 (severa): os riscos para complicações de saúde aumentam substancialmente

- Obesidade mórbida: neste nível, o indivíduo enfrenta um risco muito elevado de desenvolver problemas de saúde graves

Além disso, a obesidade pode ser subdividida com base na distribuição de gordura corporal:

- Obesidade abdominal (androide): caracterizada pelo acúmulo de gordura na região abdominal. Esta é mais comum em homens. Está associada a um risco aumentado de doenças cardiovasculares


- Obesidade periférica (ginoide): com acúmulo de gordura nas coxas e quadris. Esta é mais frequente em mulheres. Apesar de menos associada a doenças metabólicas, pode dificultar a mobilidade e afetar a qualidade de vida

 

Como prevenir a obesidade?

 

Elaine aponta que alguns hábitos são fundamentais para melhorar a saúde de modo geral e, consequentemente, prevenir a obesidade. “Uma dica para saber se os alimentos que estão sendo ingeridos são ideais ou não é ter em mente a importância do descascar mais e desembalar menos. Comer o máximo possível de opções não industrializadas, preferir as que sejam frescas e naturais, evitando, principalmente, as ultraprocessadas e ricas em gorduras trans. Esses alimentos levam à inflamação do corpo, piorando o hormônio do estresse, que é um dos principais impulsionadores da compulsão que leva ao sobrepeso e à obesidade, impactando em todo o metabolismo. Isso, em pessoas que possuem comorbidades, como diabetes, hipertensão, entre outras, provoca agravamento e eleva os riscos de consequências muito sérias”, ressalta.

A especialista reforça que algumas práticas precisam ser incorporadas ao dia a dia, independentemente da idade, da atividade profissional e de ter alguma patologia. Três dicas infalíveis são:

- Criar um ambiente saudável em casa e no trabalho: evitar o que é chamado de ambiente obesogênico. Assim, caso haja algum episódio de compulsão, se a pessoa tiver acesso somente a alimentos magros, automaticamente irá comê-los no lugar de opções prejudiciais à saúde

- Alimentação rica em fibras: elas são grandes aliadas na sensação de saciedade, além de ajudarem a diminuir os níveis de açúcar no organismo


- Básico bem-feito: água para hidratação do corpo, arroz com feijão, ovo, frutas, verduras e legumes são essenciais e acessíveis a todos

 

Tratamentos modernos

 

Os tratamentos para obesidade têm evoluído significativamente, com opções que vão além das tradicionais recomendações multidisciplinares, de dieta e exercício físico. “A ciência tem descoberto grandes aliados farmacológicos. Apesar de criado para tratamento de diabetes, o medicamento semaglutida, por exemplo, conhecido como Ozempic e Wegovy, promove, comprovadamente, a redução de mais de 15% do peso corporal. É um análogo do hormônio GLP1, produzido no intestino”, explica Elaine.

Segundo ela, é seguro e eficaz, porém, pouco acessível à maioria da população pelo alto custo. Existem vários estudos mostrando a eficácia e segurança dessas moléculas. “Recentemente, foi publicado o estudo SELECT demonstrando que pacientes obesos, com doença cardíaca, usando semaglutida 2,4mg por semana reduziram em 20% os eventos cardíacos em comparação com o grupo que estava usando placebo”, complementa Elaine, também especialista em emagrecimento saudável.

Outra inovação é a Tirzepatida, com o nome comercial Mounjaro, um medicamento que também foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A inovação é conhecida como “king kong” entre os fármacos para o emagrecimento e tratamento do diabetes tipo 2. É sucesso absoluto nos Estados Unidos por ser muito mais potente na melhora da glicose e no auxílio da perda de peso rápida. “Ele é o análogo dos hormônios intestinais GLP1 e GIP, que agem no hipotálamo, no centro da fome e saciedade”, ressalta a especialista.

A médica explica que, apesar dos resultados, eles são aliados e precisam ser prescritos por um profissional da saúde, incorporados a uma rotina também saudável, que inclua alimentação balanceada e atividade física.

Além dessas inovações, há a cirurgia bariátrica e metabólica, indicada para casos de obesidade severa ou mórbida; terapias comportamentais e de estilo de vida, que envolvem programas intensivos de mudança de comportamento, muitas vezes combinados com suporte psicológico; tecnologias estéticas que potencializam os tratamentos com a redução de medidas, fortalecimento dos músculos, entre outras soluções.

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