Saúde de Bolsonaro entra na pauta política do país
Cirurgia abdominal interrompeu agenda do ex-presidente no Nordeste. Internação acontece enquanto Congresso discute anistia para os condenados pelo 8 de Janeiro
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Siga noOs médicos que operaram o ex-presidente Jair Bolsonaro concederam entrevista coletiva nesta segunda-feira, 14, para atualizar as informações e fornecer mais detalhes sobre a cirurgia realizada neste domingo. A laparotomia exploradora – nome do procedimento – demorou 12 horas e terminou por volta das 21h. O pós-operatório será longo e há possibilidade de novas intervenções, segundo informaram os responsáveis pelo paciente.
Pela extensão da cirurgia, e pela gravidade do problema, a saúde de Bolsonaro se torna mais relevante na pauta política do país. A primeira consequência foi a suspensão da agenda de viagens em seis estados do Nordeste organizada pelo PL. O giro serviria para tentar aproximar o partido dos eleitores da região, que majoritariamente votou na esquerda nas últimas eleições.
O próprio Bolsonaro procura manter a influência política nos dias de internação. Antes de entrar no centro cirúrgico, ele enviou uma mensagem para deputados e senadores relacionada ao projeto de anistia para os condenados pela tentativa de golpe e Estado na última transição presidencial. “Modular a pena da Débora (batom), passando de 14 para 10 anos de prisão continua sendo uma brutal injustiça”, escreveu o ex-presidente, referindo-se à cabeleireira Débora Rodrigues, que teve o julgamento suspenso pelo STF.
Líder do campo direitista no Brasil, Bolsonaro permanece relevante no cenário político, apesar de sua inelegibilidade, determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Seu apoio é disputado por todos os pré-candidatos ao Planalto em 2026 nessa faixa do eleitorado.
8 de Janeiro: revisão de penas continua no foco dos três poderes
Embora Brasília esteja esvaziada pelos feriados, o projeto de anistia dos condenados pelos ataques do 8 de Janeiro permanece no centro das discussões políticas de Brasília. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ganha tempo para tentar encontrar um acordo entre os três poderes para revisão das penas dos acusados pelos atos democráticos. A oposição afirma ter obtido o número de assinaturas suficientes para que o plenário vote a urgência da proposta.
Na semana passada, Motta procurou o presidente Lula e o STF para discutir uma “solução negociada” para a calibragem das punições. Uma reportagem publicada pelo PlatôBR na quarta-feira, 9, revelou a conversa entre o deputado e o petista e descortinou os movimentos na cúpula do poder em busca de um possível entendimento em torno da redução das penas dos condenados.
Motta diz agir para “pacificar” o país. O STF se posiciona contrariamente a qualquer tentativa de perdão dos condenados, mas a retomada do julgamento da pichadora Débora Rodrigues, marcado para 25 de abril, deve sinalizar uma amenização das punições dos responsáveis pelos atos do 8 de Janeiro. Lula ainda não se manifestou publicamente sobre a proposta do presidente da Câmara.
Mesmo com saída de Juscelino, reforma ministerial se arrasta sem definições
O pedido de demissão do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, na semana passada provocou uma troca forçada na Esplanada, mas Lula segue sem concluir a reforma ministerial iniciada com mudanças nas pastas da Saúde e das Relações Institucionais. Os cargos do Centrão continuam sem alteração, com exceção da escolha do deputado Pedro Lucas (União-MA) para a vaga de Juscelino. O indicado ainda pediu tempo para aceitar o convite.
À medida que o tempo passa, as conversas sobre a reforma ministerial ganham novos elementos que podem interferir na dança de cadeiras. Por exemplo: como já estamos no segundo trimestre, para os candidatos no ano que vem, ficaria menos atraente ir para o governo, pois permaneceriam menos de um ano no cargo por força da desincompatibilização da legislação eleitoral.
Como se trata de um tema discutido desde o ano passado, pode surgir alguma novidade a qualquer momento. Mas também pode nada acontecer.
Recuos de Trump sinalizam melhor nas negociações com o Brasil
Depois da escalada tarifária que chegou ao ponto máximo na semana passada, Donald Trump indicou recuos em relação a produtos específicos, como smartphones e computadores. A manutenção das taxas altas provocou reação das empresas americanas, que pressionaram a Casa Branca pela flexibilização das medidas que impactaram o comércio mundial.
Se o presidente dos Estados Unidos mantiver a disposição de rever as taxas, pode facilitar as conversas com o Brasil em torno de regras que reduzam os efeitos da política tarifária americana.