DIPLOMACIA

De Bush e Obama a Trump, Lula e os EUA têm relação de tapas e beijos

A relação de Lula com presidentes dos EUA foi da proximidade com Bush e Obama à tensão com Trump, marcada por tarifas, sanções e encontros protocolares

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A trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva com os presidentes dos Estados Unidos sempre oscilou entre a cordialidade e a tensão. Em 2009, na cúpula do G20 em Londres, Barack Obama rompeu o protocolo com uma frase que ecoaria no tempo: chamou Lula de “o cara”e “o político mais popular da Terra”. O comentário, feito diante de outros líderes, traduzia o auge de prestígio do brasileiro no exterior, em um momento em que o país vivia crescimento econômico, redução da pobreza e buscava protagonismo nos fóruns multilaterais, como o BRICS e a Organização Mundial do Comércio.

Com George W. Bush, o tom foi de proximidade incomum. Em 2003, no início do primeiro mandato, Lula foi questionado por jornalistas se “gostava” do presidente americano. A resposta veio rápida, carregada de humor doméstico: “Eu gosto mesmo é da dona Marisa”, disse, citando a primeira-dama.

Pouco depois, em 2005, os dois se reencontraram em Brasília para um churrasco na Granja do Torto. A mesa posta com picanha e cordeiro desossado simbolizou um raro momento de descontração entre líderes de visões opostas: de um lado, Bush, empenhado na “guerra ao terror”; de outro, Lula, que defendia a multipolaridade e mais autonomia para os países em desenvolvimento.

Lula e Trump na ONU

Hoje, a atmosfera mudou. Com Donald Trump, a relação está sendo marcada pelo atrito. O republicano impôs tarifas ao aço e ao alumínio brasileiros, sob o argumento de proteger a indústria americana, e incluiu autoridades do Executivo e do Judiciário brasileiro em sanções, entre elas o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Na semana, Trump e Lula tiveram um rápido encontro, nos corredores da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.

Foi breve, protocolar. Ainda assim, Trump afirmou em discurso ter sentido “excelente química” com Lula e anunciou a possibilidade de uma conversa por telefone ou videoconferência nas semanas seguintes. também na sede da Onu, o presidente Lula afimou que ficou feliz com a fala de Trump, ‘‘eu fiquei satisfeito quando ele disse que é possível a gente conversar. Quem sabe dentro de alguns dias a gente possa se encontrar e fazer uma pauta positiva entre Estados Unidos e Brasil. É isso que eu quero e eu acho que é isso que ele deve querer também.

Tentativas de encontros anteriores, como no funeral do papa Francisco e na cúpula do G7, não se concretizaram. O distanciamento reflete, em parte, a proximidade de Trump com Jair Bolsonaro, a quem tratou como aliado preferencial em temas como meio ambiente e comércio agrícola. Entre piadas descontraídas, churrascos oficiais, elogios públicos e sanções diplomáticas, a história mostra um fio constante: a oscilação entre cooperação e conflito. Se com Obama e Bush prevaleceu a cordialidade, com Trump o cenário foi de desconfiança. Mais do que diferenças pessoais, esses movimentos espelham mudanças no cenário político e econômico internacional.

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Enquanto Lula procurou afirmar o Brasil como voz dos emergentes, Washington alternou seu olhar: ora parceiro estratégico, ora adversário incômodo.

Alinhamentos tensos

  • GETÚLIO VARGAS X FRANKLIN D. ROOSEVELT (1930–1940)

Getúlio e Roosevelt
Getúlio e Roosevelt Reprodução

Durante o Estado Novo (1937–1945), Vargas manteve uma relação ambígua com os EUA. No início, flertou com a Alemanha nazista e a Itália fascista, usando essa aproximação como forma de barganhar com Washington. Roosevelt via Vargas como aliado estratégico, mas desconfiava de sua simpatia pelo Eixo. A tensão só diminuiu em 1942, quando submarinos alemães afundaram navios brasileiros, levando o país a declarar guerra e a integrar-se definitivamente ao esforço aliado.

  • JOÃO GOULART X JOHN F. KENNEDY / LYNDON B. JOHNSON (1961–1964)

João Goulart e Kennedy
João Goulart e Kennedy Reprodução

O governo Jango gerou forte desconfiança em Washington. O presidente defendia reformas de base (agrária, urbana e bancária) e mantinha diálogo próximo com sindicatos e com Cuba de Fidel Castro. Os EUA viam nisso risco de “comunização” do Brasil em plena Guerra Fria. As tensões atingiram o ápice em 1964, quando Kennedy (até sua morte) e depois Johnson apoiaram setores militares e civis contrários ao governo. Documentos revelados posteriormente comprovam o apoio logístico dos EUA ao golpe de 1964, incluindo a Operação Brother Sam, que previa deslocamento de navios para dar suporte aos golpistas.

  • ERNESTO GEISEL X JIMMY CARTER (1977–1979)

Carter e Geisel
Carter e Geisel Reprodução

O período marcou uma crise diplomática aberta. Geisel, já conduzindo a distensão política no Brasil, rejeitou o tom moralista de Carter, que condicionava acordos e cooperação ao respeito aos direitos humanos. O ponto mais crítico ocorreu em 1977, quando o Brasil denunciou o Acordo Militar Brasil-EUA de 1952, encerrando um quarto de século de cooperação militar formal. Foi uma das maiores rusgas da Guerra Fria entre os dois países.

  • LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA X GEORGE W. BUSH (2003–2008)

Lula e Bush
Lula e Bush Reprodução

Embora mantivessem relação pragmática, havia choques ideológicos. Lula criticava a política externa dos EUA, especialmente a Guerra do Iraque (2003), liderada por Bush, e recusou enviar tropas brasileiras. Também houve atritos comerciais na OMC, em especial nas disputas sobre subsídios agrícolas. Ainda assim, a relação não foi apenas de embates: ambos mantiveram cooperação em áreas como biocombustíveis e programas de combate à fome na África e na América Latina.

  • DILMA ROUSSEFF X BARACK OBAMA (2013)

Dilma e Obama
Dilma e Obama Reprodução

A relação azedou em 2013, após revelações de Edward Snowden de que a NSA espionara e-mails da presidenta Dilma, da Petrobras e de assessores. Dilma reagiu duramente: suspendeu a visita de Estado que faria a Washington e denunciou a espionagem em discurso na Assembleia-Geral da ONU. Foi um dos momentos mais tensos da diplomacia Brasil-EUA desde a redemocratização, deixando marcas que levariam anos para ser superadas.

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