Mistério à esquerda marca as projeções sobre disputa ao Governo de Minas
Enquanto o senador Cleitinho Azevedo e o vice-governador Mateus Simões despontam à direita, esquerda tem dificuldade em definir seus possíveis candidatos
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Siga noA cerca de um ano e meio das eleições de 2026, qualquer projeção relacionada ao pleito é incerta, mas algumas são menos que outras. Em Minas Gerais, a sucessão do governo após dois mandatos de Romeu Zema (Novo) suscita muitas dúvidas, mas nenhum ponto de interrogação é maior do que o que finaliza a pergunta: ‘quem será o nome da esquerda na disputa?’.
O Partido dos Trabalhadores (PT) abdicou de lançar um nome próprio em 2022, deve seguir a mesma receita no ano que vem e está às voltas com um vacilante Rodrigo Pacheco (PSD), nome preferido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em um solo fértil para rumores, outros nomes aparecem como possibilidades remotas, tudo isso em um cenário em que as candidaturas da direita se consolidam com nomes fortes como o popular senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) e o vice-governador Mateus Simões (Novo).
O desejo do PT em apoiar o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco é inequívoco. Ele parte de Lula e irradia pelos principais quadros do partido no estado. Mesmo com correntes antagônicas protagonizando a disputa pelas decisões eleitorais em Minas, o nome do senador é consenso, por exemplo, entre os deputados federais Reginaldo Lopes (PT) e Rogério Correia (PT), que foram candidatos do partido em duas das três últimas malogradas tentativas de conquistar a Prefeitura de Belo Horizonte.
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“Rodrigo Pacheco é o meu candidato ao governo do estado”, disse Lopes à reportagem em resposta categórica à pergunta sobre um possível anúncio da pré-candidatura do senador no fim deste mês. Em consonância com o correligionário, Correia afirma que a possibilidade de um acordo está mais próxima. As duas declarações foram dadas diante da visita de Lula a Belo Horizonte acordada para o fim de maio ou início de junho durante uma viagem do prefeito da capital mineira, Álvaro Damião (União Brasil), à Brasília na penúltima semana de abril.
Na ocasião, Rodrigo Pacheco, elo político entre Damião e Lula, articulou uma visita presidencial a BH para anúncios de investimentos que incluiriam a municipalização do Anel Rodoviário Celso Mello Azevedo. A visita seria mais uma aproximação do senador ao cenário da política local após deixar o mandato de presidente do Congresso. O parlamentar também se destacou por sua proximidade com o governo federal e a bancada de oposição a Zema na Assembleia Legislativa (ALMG) ao costurar e apresentar o Programa de Pleno Pagamento das Dívidas dos Estados (Propag) como uma alternativa para Minas Gerais resolver o histórico imbróglio de seu bilionário débito com a União.
Os reiterados apelos públicos de Lula ao senador e a predileção dos petistas locais colocam seu nome sempre em voga enquanto amarrações partidárias são feitas nos bastidores. O PSD de Pacheco é base de Lula em Brasília, mas, aliado à Zema, lidera um bloco governista em Minas Gerais e pode ser ator importante no cenário nacional no caso de uma candidatura do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), saia às ruas orquestradas pelo cacique pessedista Gilberto Kassab (PSD). Neste cenário, o senador mineiro tem seu nome envolvido em possíveis mudanças de sigla para o União Brasil ou o MDB.
Desde a vitória de Fernando Pimentel (PT) em 2014, o PT não tem tido sorte na disputa por Minas. Zema barrou a reeleição do petista no pleito seguinte e, em 2022, foi reconduzido ao cargo no primeiro turno deixando para trás a chapa encabeçada pelo ex-prefeito de BH, Alexandre Kalil (então no PSD) com André Quintão (PT) como vice.
Para 2026, é improvável que o PT tente candidatos próprios. Prefeita de Contagem em seu quarto mandato, Marília Campos é publicamente refratária à ideia de concorrer ao Palácio Tiradentes. Outras possibilidades já ventiladas são a prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão; a deputada estadual Beatriz Cerqueira; e a ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo.
O cenário incipiente das pesquisas eleitorais mostram o senador Cleitinho, uma presença constante nas redes sociais, liderando os cenários estimulados de intenção de voto. Um levantamento da Quaest divulgado em fevereiro aponta o parlamentar na liderança com 33%, seguido por Kalil, com 16% e Pacheco, com 8%. Só depois aparece Mateus Simões, com 4%. O vice-governador tem a seu favor a máquina do estado no ano eleitoral e uma pré-candidatura já bastante explícita. Como mostrou o Estado de Minas, eneste início de ano, ele triplicou suas agendas públicas em relação ao fim de 2024.
PSB desembarca em BH
Na última sexta-feira (30/4), o Partido Socialista Brasileiro (PSB) realizou seu congresso estadual em Belo Horizonte em cerimônia com holofotes direcionados ao prefeito de Recife, João Campos (PSB-PB) e à deputada federal Tábata Amaral (PSB-SP). Com os jovens e mais proeminentes quadros da legenda que abriga o vice-Presidente da República, Geraldo Alckmin, o partido não hesitou em mostrar que tem grande interesse na política mineira.
Campos fez uma não comum investida pública pela filiação do presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB) ao seu partido. No evento, o nome do deputado federal Diego Andrade (PSD) também foi convidado a entrar na sigla e a concorrer ao governo estadual em 2026.
Tadeu Martins Leite, conhecido como Tadeuzinho, é um nome querido por quadros influentes do PT mineiro. Nos bastidores, figuras historicamente ligadas ao partido o apontam como um candidato competitivo e que poderia ser apoiado tanto no MDB como no PSB, como quer João Campos. Esta hipótese esbarra no mesmo empecilho de Pacheco e Marília Campos: a vontade. O deputado estadual ainda não dá sinais de querer se aventurar em uma eleição majoritária no momento.
A incógnita Kalil
As pesquisas de intenção de voto mostram que o nome de Alexandre Kalil não esmaeceu completamente do imaginário do eleitor mineiro. Ex-prefeito de BH, ex-presidente do Atlético e segundo colocado na última corrida pelo Governo de Minas, ele ainda tem capital político, mas sua aliança com a centro-esquerda está estremecida.
Kalil deixou a prefeitura em 2022 para embarcar como o rosto da dobradinha PT-PSD em Minas. Ele subiu no palanque com Lula na frente federal e ao lado de Alexandre Silveira (PSD), hoje ministro de Minas e Energia e então candidato ao Senado. Só o petista conseguiu uma vitória naquele ano.
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O ex-prefeito de BH então seguiu um caminho de rupturas. Brigou publicamente com seu vice Fuad Noman (PSD), que terminou reeleito ao Executivo Municipal, se afastou dos partidos de esquerda, entrou de cabeça na fracassada campanha de Mauro Tramonte (Republicanos) à prefeitura da capital mineira em 2024 e anunciou que se filiaria ao Republicanos, o que, mais de um ano depois, ainda não aconteceu.
A chegada de Kalil ao Republicanos estava associada a uma candidatura ao governo mineiro. O nome que materializa no partido como mais viável eleitoralmente é o de Cleitinho Azevedo. Escanteado, o ex-prefeito não tem feito aparições públicas e não se manifestou nem mesmo quando Fuad Noman faleceu em março deste ano.