CINEMA

As novas formas de existir em 'Lar', de Leandro Wenceslau

Documentário acompanha famílias LGBTIAPN+ e expõe, com sensibilidade, como afeto, cuidado e vivências diversas redefinem a noção de lar no Brasil contemporâneo

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Leandro Wenceslau

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Especial para o EM

Eu cresci num arranjo que a minha rua chamava de diferente. Enquanto os outros moravam com pai e mãe, fui criado pelos meus avós. Minha mãe morreu quando eu tinha oito anos; meu pai, encontrei aos dezoito — uma vez só. Por muito tempo, família foi esse espaço entre o abraço de quem ficou e o vazio de quem não pôde ficar. Também cresci sem referências para o que eu era. Ser um menino gay, ali, parecia não caber. Fui aprendendo a existir na fresta: no não dito, no percebido. E, mesmo assim, o desejo de formar uma família sempre esteve comigo, ainda que eu não soubesse por onde começar.

Em 2015, sentei com duas professoras que haviam adotado dois irmãos. Saí daquela conversa com uma nova perspectiva: família é um verbo. É presença, cuidado, rotina. A partir dali, comecei a ouvir outras histórias. Sem perceber, aquela pesquisa se transformou em um projeto de documentário.

Leia: Documentário apresenta a realidade e o amor de famílias LGBTQIAPN+

“Lar” nasce desse entrelaço. Enquanto eu procurava um caminho para ser pai junto com meu companheiro, o Brasil atravessava momentos de sombras; casamos com medo de perder direitos, veio a pandemia e tudo parou. Depois, veio o divórcio. Com ele, a sensação de que os mapas que eu tinha sobre o futuro tinham sido alterados. Por um tempo, achei que havia me desconectado do propósito do filme.

Mas, hoje, vejo que, na verdade, eu estava chegando nele. Em 2023, voltei a filmar acompanhando três famílias LGBTIAPN+ de Belo Horizonte. Dentro das casas, vi gestos simples que sustentam o mundo. Fora de casa, desafios e muita luta. Aos poucos, entendi que eu era um pouco de cada criança que filmei: alguém tentando caber na própria história. Troquei a busca por uma grande resposta por uma coleção de evidências pequenas: um lanche na mesa que diz “você pertence”, uma risada que suspende a dor, um olhar que protege. Descobri que o afeto é uma tecnologia sofisticada — transforma quem dá e quem recebe — e que o lar não é só endereço: é um acordo renovado entre a casa e a praça.

Hoje, “Lar” é um filme que fala sobre outras formas de existir e propagar amor e afeto em uma sociedade que parece doente; fala sobre pertencimento, cuidado, medos e coragem. É sobre minha busca pessoal de formar uma família, mas também de honrar aquela que recebi. O filme atravessa uma pergunta: como é que a gente se torna quem é — e com quem? 

“Lar” é um filme que fala sobre outras formas de existir e propagar amor e afeto em uma sociedade que parece doente; fala sobre pertencimento, cuidado, medos e coragem. É sobre minha busca pessoal de formar uma família, mas também de honrar aquela que recebi.

LEANDRO WENCESLAU é mestre em Artes pela UEMG e diretor de filmes como “Bolha” e “Lar”  

“Lar”

De Leandro Wenceslau.

(Brasil, 2025, 76min)

Em cartaz na Sala 3 do Cine Belas Artes

Na tela, a busca de pertencimento

Em um mundo onde o conceito de família está em constante transformação, “Lar” revela o cotidiano de três famílias LGBTIAPN+ através do olhar sensível de seus filhos. Enquanto estes jovens navegam entre desafios e alegrias, o diretor entrelaça sua própria história de busca por identidade e pertencimento. Mais que um documentário sobre novos arranjos familiares, é uma reflexão íntima sobre como o verdadeiro Lar se constrói no cuidado e no afeto, transcendendo convenções e redefinindo o significado de família na sociedade contemporânea.



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