Lançamentos homenageiam Armando Freitas Filho
Poeta carioca falecido em 2024 é lembrado com três plaquetes em lançamento neste sábado no Mercado Novo
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Siga noAlícia Duarte Penna, Ana Martins Marques, Danielle Freitas, Marta Neves, Mário Alex Rosa, Rafael Belúzio, Rogério Barbosa, Sérgio Alcides e Sérgio Mattos fazem leituras neste sábado de poemas de Armando Freitas Filho (1940-2024) no lançamento de três plaquetes em homenagem ao poeta carioca (foto).
Com projeto gráfico e edição de Flávio Vignoli, da Tipografia do Zé, e Mário Alex Rosa, ilustração de Rodrigo Meniconi, a plaquete “Três encontros com Armando Freitas Filho em Minas”, celebra as conexões mineiras do escritor. Já “Urca - seis poemas para Armando Freitas Filho”, recentemente lançada no Rio de Janeiro e em São Paulo, traz poemas de Alice Sant’Anna e Laura Liuzzi, em projeto gráfico de Sérgio Liuzzi, com fotografia do poeta por Alex Sant’Anna.
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Por sua vez, “Cristina”, com projeto gráfico de Sérgio Liuzzi e do próprio autor, reúne poemas de amor anteriormente publicados em livros e dedicados à mulher de Armando, Cristina Barros Barreto. O lançamento das plaquetes será na neste sábado, de 13h às 15h, na Memória Gráfica do Mercado Novo (Av. Olegário Maciel, 742, loja 3166/ corredor J/ 3º andar). Leia, nesta página, o texto de Alícia Penna com uma lembrança de Freitas Filho.
Fabulinha
Alícia Duarte Penna
Toda vez que ia ao Rio, à Urca, à Rua Cândido Gaffrée, ao sofá verde, Armando relembrava o perfume de magnólia que pôde sentir na Praça da Liberdade, ao que eu contrapunha o perfume de maresia que sentia ao entrar na Avenida Brasil, mangue, Maré, estaleiros. Ele sentia o perfume da minha cidade, eu, o da cidade dele. O perfume da minha cidade eu não sentia, o perfume da cidade dele ele não sentia: custávamos a concordar. Mais: gostávamos da discordância, faísca para a proximidade.
Uma vez concordamos em ver uma exposição sobre Antonio Candido. Armando ia me anfitrionando pelas vitrines e pelos corredores da galeria, depois pelas ruas, a uma certa lanchonete, a uma dada mesa, a tantas graves histórias que eu mal ouvia por tanto e tão enormemente senti-lo estando onde ele, Armando, mas sem dúvida Freitas Filho, o extraordinário, estava, ele mesmo uma maresia. Se já preferia não viajar, o que lhe custava ainda mais ante a urgência sua de escrever, não havia como recebê-lo em Belo Horizonte, quanto mais na que cheirasse a magnólia. Mas se aqui viesse, Belo Horizonte iria ver.
Primeiro, eu o levaria à Rua Silva Jardim, ou silvo em mim, na Floresta onde Drummond dormia sem ferasrugiameaçando rugiameaçaríamos. Entraríamos clandestinos no adro gradeado da Igreja de Nossa Senhora das Dores, sob o qual brotam, triste horizonte! lojinhas de quinquilharias. Viríamos pelo viaduto de Santa Tereza, engatinhando sobre o arco, até que, lá de baixo, alguém em vão gritasse: Estejam presos! Subiríamos Bahia, hirtos, sem balançar os braços, só para que nos ordenassem fazê-lo.
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Passaríamos Conselho Deliberativo, Café Estrela, Parc Royal, Cine Odeon, Clube Belo Horizonte, doidinhos, até atear fogo no jardim Vivacqua, não importa se todos mortos, mortas as casas, as casadoiras das casas e suas esbaforidas camisolas deixando entrever calcanhares e pulsões. Disfarçados de perremistas, penetraríamos no comício levantando aqui e ali outras bandeiras, gritando ali e aqui outras palavras, para logo desaparecermos bem diante do Palácio da Liberdade, confundindo armados e cavalgaduras. Seria nossa vingança: nenhuma nostalgia, toda imaginação, dois fantasmas terríveis assombrando a metrópole que cheira a crack, óleo diesel e batatas fritas, deitando sobre ela um perfume controverso, ora de magnólia, ora de maresia.