Canto de esperança
Jesus, conselheiro maravilhoso, construtor de uma paz sem fim, expressa seu poder e o seu domínio na contramão da costumeira arrogância e da soberba
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O Natal é um canto de esperança: a esperança que não decepciona. Compreende-se a importância deste tempo litúrgico do Advento, que é oportunidade para deixar-se banhar pela luz da esperança que tem força para suplantar sombras ao desenhar um caminho de respostas para a humanidade. Neste tempo, ecoa um convite à novidade que Deus oferece ao ser humano: uma lógica com força curativa e em um horizonte propositivo. A proclamação da profecia de Isaías remete a um caminho traçado com segurança, com uma carga sapiencial que convence pela força simbólica de imagens e cenários educativos. Reforça nos corações a convicção inadiável de se buscar uma conduta nova. Um apelo que não deixa ninguém de fora. Todos são chamados a configurar lógicas novas para, urgentemente, curar a sociedade contemporânea de suas muitas feridas. Anuncia Isaías: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para os que habitavam as sombras da morte, uma luz resplandeceu”. A dissipação das trevas depende da acolhida da luz anunciada pelo profeta. Requer-se, pois, atenção e confronto com as situações de sombras que envolvem e prejudicam o caminho da sociedade.
A vitória sobre as sombras não vem pelas mãos dos que marcham com barulho e com mantos empapados de sangue. Barulhos de governantes que batem boca, preocupados somente com a defesa de seu próprio lado, buscando garantir poder a partir de reconhecimento político-social. Condutas que enjaulam o povo, sobretudo os pobres, no atraso, manipulando discursos, distanciando-se de necessários empreendimentos civilizatórios. Aliás, a sociedade está o tempo todo a assistir aos capítulos de diferentes disputas, grande parte delas relacionadas à luta pelo poder, que se sobrepõe a tantos temas relevantes para a vida social. As brigas e os crimes tomam conta do noticiário, enquanto tornam-se cada vez mais raras as ações efetivas e abrangentes de transformação do mundo. As sombras aumentam e se acentuam quando realizações são “cantadas” como méritos pessoais e partidários. Princípios humanísticos e o respeito cidadão aos direitos sociais são ofuscados pela própria vaidade, com atitudes que almejam somente a autopromoção.
O canto de esperança é o eco de uma luz que brilha e dissipa sombras pela presença ativa do Príncipe da Paz, na fragilidade e na humildade do menino que nasce, do Filho de Deus que é dado à humanidade. Jesus, conselheiro maravilhoso, construtor de uma paz sem fim, expressa seu poder e o seu domínio na contramão da costumeira arrogância e da soberba que habitam corações. Isaías adverte que, para os arrogantes e soberbos, “a mão do Senhor está erguida”, dizendo que Deus cortou, de Israel, a cabeça e a cauda, a palmeira e o caniço num só dia. E prossegue lembrando que a cabeça são os anciãos e os notáveis e a cauda são os profetas que divulgam mentiras. Pois, continua a profecia, a maldade como fogo se acendeu incendiando a floresta densa e fazendo subir colunas de fumaça. Isaías aumenta o tom da denúncia ao referir-se que alguns devoram à direita e continuam com fome, outros comem à esquerda e não ficam satisfeitos: cada um devora a carne de seu próximo.
O Príncipe da Paz, sobre quem repousa o Espírito Santo, é o rebento de esperança. Somente pela lógica d’Ele, uma nova ordem se implantará, com maravilhosas conquistas, a exemplo da justiça para os pobres, “porque a justiça será o seu cinto e a fidelidade, o cinturão em volta de seus rins. Ninguém matará ninguém, nem fará mal, pois a terra estará cheia do conhecimento do Senhor, como as águas que recobrem o mar”. O canto de esperança do Natal aponta quem é Ele. Recebido na manjedoura do coração, Jesus ensina o segredo da nova ordem, uma ordem que alcança o impossível e realiza simplesmente o bem que alicerça uma sociedade justa e solidária, livre da mesquinhez que está em todo lugar, feito erva daninha. Adotada a lógica do Príncipe da Paz, maravilhas se realizarão, conforme as imagens impactantes descritas pelo profeta Isaías: o lobo que habitará com o cordeiro, o leopardo deitado ao lado do cabrito; o bezerro e o leão pastando juntos, guiados por um menino pequeno; a ursa e a vaca pastarão juntas, com suas crias deitadas lado a lado; o leão junto com o boi comerá palha e a criancinha de peito brincará na toca da cobra venenosa, e no esconderijo da serpente a criança desmamada colocará a mão.
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Importa fixar o olhar no Príncipe da Paz, o Menino Deus, para que se alegrem o deserto e a terra seca, rejubile-se a estepe e floresça como o lírio, fortalecendo as mãos abatidas e firmando os joelhos vacilantes. Os medrosos serão convocados à fortaleza: Deus vem para salvar. Com poesia e sabedoria, o profeta anuncia os frutos exitosos do acolhimento do Príncipe da Paz: os olhos dos cegos vão se abrir, e os ouvidos dos surdos desobstruirão; saltará o aleijado como cabrito, e a língua dos mudos vai cantar, água jorrará no deserto e rios na terra seca. Haverá uma estrada, um caminho santo, puro e reto, e nem os tolos se perderão. O canto de esperança não é luz brilhando do lado de fora, como enfeite que enche os olhos, mas iluminação na consciência e no coração que inspira conduta nova na luta por uma ordem sociopolítica diferente, onde papéis e missões, serviços e responsabilidades são exercidos pelo bem maior, o bem de todos, prioritariamente o bem dos pobres. Brilhe a luz que vem do Príncipe da Paz e seja entusiasmante o canto de esperança para que, no Natal, abra-se um novo horizonte de diálogos, justiça e paz.