editorial

Ida à Celac deve reafirmar compromissos democráticos

A visita de Lula à Colômbia deve servir menos como um gesto de solidariedade a Maduro e mais como oportunidade para o Brasil reafirmar sua vocação de mediador

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Itamaraty precisam exercer grande dose de bom senso e pragmatismo durante a participação do governante brasileiro na cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), na Colômbia, que começa no próximo domingo. A defesa da chamada “solidariedade latino-americana” com o regime de Nicolás Maduro, sob o pretexto de enfrentamento ao “imperialismo norte-americano”, pode custar caro ao Brasil num momento em que o país busca recompor as relações com Washington e mitigar os efeitos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras.

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Seria um erro monumental o governo sacrificar essa reaproximação estratégica em nome de um regime acusado de fraudar eleições, perseguir opositores e conduzir a Venezuela a uma prolongada crise humanitária e migratória, como vem alertando organismos internacionais. A diplomacia brasileira, historicamente, equilibrou-se entre a defesa da autodeterminação dos povos e a não intervenção em assuntos internos de outros países, mas o contexto atual exige pragmatismo.


O Brasil precisa ser voz de moderação e equilíbrio, e não de alinhamento automático a regimes isolados. A insistência em tratar Maduro como vítima de uma conspiração internacional, enquanto ignora as violações sistemáticas de direitos humanos em Caracas, mina a credibilidade de Brasília no cenário internacional e afasta parceiros importantes, sobretudo os europeus e norte-americanos.


A tensão crescente entre os Estados Unidos e a Venezuela, alvo de um cerco militar inédito desde a volta de Donald Trump à Casa Branca, acrescenta um elemento explosivo à conjuntura. Segundo fontes do próprio Itamaraty, a questão venezuelana foi mencionada em diversas reuniões bilaterais realizadas por Lula nesta quarta-feira, em meio às prévias da COP30, inclusive no encontro com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.


Ainda assim, a presença do presidente brasileiro na Colômbia, em meio ao agravamento da tensão geopolítica na região, coloca o Brasil numa posição delicada. De um lado, a tradição diplomática de defesa da soberania e da paz; de outro, o risco de ser percebido como um aliado incondicional de Maduro, sem compromissos com a democracia e os direitos humanos.


O pragmatismo sempre foi uma das marcas do Itamaraty, que, em momentos críticos, soube colocar os interesses nacionais acima de simpatias ideológicas. Agora, diante de um cenário internacional polarizado e volátil, essa tradição precisa ser resgatada. O Brasil não tem nada a ganhar ao se atar a um governo que se sustenta pela repressão e pelo autoritarismo, e tudo a perder se sua política externa for percebida como alinhada ao eixo dos regimes sancionados.


A visita de Lula à Colômbia, portanto, deve servir menos como um gesto de solidariedade a Maduro e mais como uma oportunidade para o Brasil reafirmar sua vocação de mediador equilibrado, comprometido com a paz e com a integração regional baseada em valores democráticos. Somente assim, poderá preservar sua imagem internacional e avançar nas negociações que realmente importam para o futuro do país – aquelas que abrem mercados, reduzem tensões e fortalecem sua posição como potência diplomática respeitada no Ocidente e no Sul Global.

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