Juros e inflação em alta: ameaças para a economia
A elevação dos juros a patamares praticados há 20 anos vai desacelerar ou até mesmo frear a economia, com impacto sobre a arrecadação de impostos
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Siga noA decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa básica de juros da economia em um ponto percentual não será suficiente para conter a inflação no curto prazo, mas terá efeito imediato sobre os investimentos produtivos. Isso porque o ajuste na Selic, adotado de forma unânime, chega no momento em que os preços dos combustíveis estão sendo reajustados e vão pressionar os preços para os consumidores. A pressão dos combustíveis e dos alimentos deve aumentar as projeções de inflação para este ano. O último Relatório Focus do Banco Central mostra que o mercado financeiro subiu de 5,08% para 5,50% a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o que vai estourar o teto da meta para este ano, que é de 3%, com tolerância de em 1,5 ponto para mais (4,5%) ou para menos (1,5%).
Com esse cenário e o provável aumento no valor do diesel pela Petrobras, o trabalho do Banco Central praticamente não terá efeito sobre o controle de preços no curto prazo e será necessário uma nova alta na taxa básica para ver a efetividade da escalada dos juros no combate à inflação, deixando em aberto a possibilidade de um terceiro aumento em 2025, com a taxa chegando a mais de 15% ao ano, no maior patamar em quase 20 anos. Ainda assim, caso os preços não cedam, os diretores do Banco Central terão que puxar os juros mais ainda, o que será mortal para o Produto Interno Bruto (PIB), cujas projeções devem começar a ser reduzidas nos próximos dias.
Esse ciclo vicioso poderia ser amenizado com uma decisão mais firme do governo federal no sentido de buscar corte de gastos que sinalizem equilíbrio nas contas públicas, que serão fortemente afetadas com a alta da Selic. No comunicado após a decisão, o Copom ressalta que acompanha com atenção os aspectos da política fiscal que impactam a política monetária e os ativos financeiros, considerando que a percepção dos agentes econômicos sobre a questão fiscal e a sustentabilidade da dívida segue pesando de forma relevante sobre os preços dos ativos. O que indica que, além dos preços dos alimentos, o regime fiscal também influencia na inflação.
Esse é um quadro que tende a se perpetuar e obrigar o Banco Central a elevar mais vezes a taxa de juros, sufocando a economia e afetando a capacidade de pagamento das famílias brasileiras. E, nesse caso, ajuda pouco o governo e partidos da base atacarem o aumento de juros, eximindo a responsabilidade do atual presidente da autoridade monetária, Gabriel Galípolo, ex-secretário-executivo da Fazenda e indicado por Lula para o cargo. Menos ainda o governo ficar batendo cabeça e gastando tempo em encontrar uma forma de reduzir os preços dos alimentos.
Mais do que buscar soluções mirabolantes para reduzir preços, o governo precisa buscar formas de equilibrar as contas públicas. O presidente resiste em cortar gastos sociais. Pois então que determine outras ações que possam surtir efeito sobre as contas públicas, como combate efetivo à sonegação de impostos, que apenas neste primeiro mês do ano já soma quase R$ 50 bilhões. Dinheiro que deixa de ser arrecadado por ineficiência da máquina pública. Há sempre também formas de melhorar a eficiência do gasto público, assim como promover um enxugamento de ministérios e de cargos. São exigências que ocorrem mesmo com a arrecadação de impostos batendo recordes, o que mostra o tamanho da necessidade de corte de gastos no Brasil.
Sem um ajuste do governo nas contas públicas, a tarefa do Banco Central no combate à inflação pode ser a mesma de enxugar gelo. E, nesse caso, a elevação dos juros a patamares praticados há 20 anos vai desacelerar ou até mesmo frear a economia, com impacto sobre a arrecadação de impostos, agravando a necessidade de corte de gastos. Caso não atue agora para equacionar as contas públicas, sinalizando para o mercado medidas que efetivamente tragam confiança aos investidores, o governo pode ser forçado no futuro a realizar o corte mais drástico, sob pena de a economia caminhar para crescimentos mais baixos ou mesmo uma recessão.