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editorial

A crise da imigração e a necessidade de novas posturas

No comando da maior economia do mundo há um político também bastante disposto a reinaugurar a era das bravatas. Qualquer descuido é combustível para a gestão p

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A Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) suspendeu a reunião de emergência, marcada para hoje, que discutiria a deportação de imigrantes latinos pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma promessa de campanha eleitoral que começou a ser cumprida nos primeiros dias do seu segundo mandato. A falta de consenso entre os presidentes sul-americanos – Argentina e El Salvador são aliados do republicano – foi o que pesou para o adiamento, segundo a presidente de Honduras e da Celac, Xiomara Castro. Não há nova data para encontro.

O recuo se soma a outro, que teve o chefe de Estado colombiano, Gustavo Petro, como protagonista. Na sexta-feira, Petro avisou, em uma rede social, que impediria a entrada no país de avião da Força Aérea americana com deportados, pelo fato de os passageiros estarem sendo tratados como criminosos. Trump reagiu de imediato, anunciando que elevaria para 25% a taxação de todos os produtos colombianos comercializados nos Estados Unidos. Petro retrucou, anunciando que aplicaria as mesmas tarifas, mas acabou voltando atrás e autorizou o desembarque dos imigrantes transportados em aviões militares em Bogotá.

No Brasil, 88 deportados desembarcaram em Manaus, na sexta-feira, nas mesmas condições. Chamou a atenção do governo brasileiro e causou indignação o fato de os passageiros estarem com algemas nas mãos e pés acorrentados. Para muitos, foi uma humilhação e um desrespeito aos direitos humanos. O Ministério de Relações Exteriores entendeu como degradante o tratamento dado aos brasileiros e anunciou que pediria explicações ao governo norte-americano. Diferentemente do governo colombiano, agiu de forma menos precipitada. Ainda assim, Trump, dias depois, afirmou que o Brasil é um “tremendo criador de tarifas” e que vai imputar tarifas a países que querem prejudicar os Estados Unidos.

Em uma de suas primeiras entrevistas, na cerimônia de posse, o republicano afirmou a jornalistas que os latinos precisam dos Estados Unidos, que, por sua vez, não precisam de ninguém. A realidade, no entanto, é bem diferente. A intenção de tarifar os produtos importados em patamares elevados pode ter impacto nas negociações entre os exportadores e os compradores norte-americanos. Um deles seria o aumento da inflação nos Estados Unidos. Um efeito negativo para o governo de Trump. Dependendo das exigências, os fornecedores podem direcionar os produtos para outros mercados, reduzindo os insumos necessários às indústrias e a outros segmentos da economia americanas.

Desprezar a importância de imigrantes e expulsá-los também pode causar prejuízo expressivo aos EUA, como mostra relatório feito pelo próprio país. Divulgado em julho, um estudo do Gabinete de Orçamento do Congresso, intitulado “Efeitos do aumento da imigração no orçamento federal e na economia”, previu que o crescimento da imigração, entre 2024 e 2034, elevaria tanto as receitas federais quanto os gastos obrigatórios e juros da dívida. Entre efeitos diretos e indiretos, haveria uma redução dos déficits em US$ 900 bilhões ao longo dos 10 anos seguintes.

Trump parece não medir esforços para demonstrar que voltou à Casa Branca para estremecer as estruturas do planeta em nome do seu alicerce de campanha: “Make America first again” (tornar a América grande novamente). No comando da maior economia do mundo há um político também bastante disposto a reinaugurar a era das bravatas. Qualquer descuido é combustível para a gestão performática. Ainda que tenham interesses diversos em relação aos Estados Unidos, o Brasil e demais países da América Latina precisam considerar o modus operandi do atual chefe da Casa Branca ao se movimentar no novo tabuleiro diplomático.

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