Cortes em ajuda dos EUA e Europa poderiam causar 22,6 milhões de mortes, diz estudo
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Mais de 22 milhões de pessoas, muitas delas menores de idade, poderiam morrer de causas evitáveis até 2030 devido aos cortes na ajuda internacional por parte dos Estados Unidos e de países europeus, segundo uma nova pesquisa publicada nesta segunda-feira (17).
Essas conclusões são uma atualização de um estudo realizado no início deste ano, que se concentrava apenas nas consequências dos cortes na ajuda externa promovidos por Washington, em particular o desmantelamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), e que projetava 14 milhões de mortes adicionais.
A nova pesquisa, à qual a AFP teve acesso, leva em conta reduções em toda a assistência oficial ao desenvolvimento, já que Alemanha, França e Reino Unido também reduziram sua ajuda ao mundo em desenvolvimento.
"É a primeira vez em 30 anos que Alemanha, França, Estados Unidos e Reino Unido estão cortando ajuda ao mesmo tempo", disse um dos autores da nova pesquisa, Gonzalo Fanjul, diretor de políticas e desenvolvimento no Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal).
"Os países europeus não se comparam aos Estados Unidos, mas quando você soma todos eles, o impacto no sistema global de ajuda é extraordinário. É absolutamente sem precedentes", afirmou à AFP.
A pesquisa, realizada por autores da Espanha, Brasil e Moçambique, foi apresentada nesta segunda-feira à revista científica The Lancet Global Health e aguarda revisão por pares.
O estudo se baseia em dados sobre como a ajuda no passado reduziu mortes, especialmente em áreas evitáveis como HIV/aids, malária e tuberculose.
Em um cenário no qual os cortes na ajuda sejam severos, a nova pesquisa prevê 22,6 milhões de mortes adicionais até 2030, incluindo 5,4 milhões de crianças menores de cinco anos.
Os pesquisadores apresentaram um intervalo de 16,3 a 29,3 milhões de mortes para contemplar incertezas, incluindo quais programas seriam cortados e choques externos como guerras, recessões econômicas ou desastres relacionados ao clima.
Um cenário de desfinanciamento mais moderado provocaria 9,4 milhões de mortes adicionais, segundo a pesquisa.
Pouco depois de assumir a presidência em janeiro, Donald Trump reduziu em mais de 80% a ajuda externa dos Estados Unidos.
Ele também desmantelou a Usaid, a maior agência de ajuda do mundo, que em 2024 havia distribuído cerca de 35 bilhões de dólares (R$ 216,7 bilhões na cotação da época).
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, declarou que essa ajuda não atende aos interesses fundamentais do país. Em uma audiência no Congresso, negou que os cortes tenham causado mortes e acusou os críticos de se beneficiarem de um "complexo industrial de ONGs".
Alemanha, França e Reino Unido também cortaram ajuda devido a pressões orçamentárias internas e decisões de priorizar mais os gastos com defesa após a invasão russa da Ucrânia.
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