Os perigos escondidos nos retões da BR-040: imprudência, sono e chuva
Viagem de férias pela BR-040 em direção a Brasília tem longas retas que levam a abuso de velocidade e escondem o risco do sono. Risco piora com asfalto molhado
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Nas viagens pelo eixo Norte da BR-040, o trajeto em direção a Brasília, passando por 13 municípios de Minas Gerais, tem na aquaplanagem e na fadiga seus maiores riscos. Diferente do sinuoso trecho Sul, em direção à capital federal as retas longas induzem ao excesso de velocidade, mas também a episódios de sonolência e a desastres. No período avaliado pela equipe do Estado de Minas, entre 15 de dezembro e 31 de janeiro nos anos de 2022 a 2024, incluindo o intervalo até janeiro de 2025, foram 440 desastres no trecho, com 24 óbitos e 628 pessoas feridas.
A ausência de reação ou resposta tardia do motorista diante de imprevistos foi a causa mais numerosa de sinistros, com 103, nos quais quatro pessoas morreram e 132 ficaram feridas. A chuva aparece como a terceira principal causa de registros, com 38, provocando uma morte e deixando 49 feridos.
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Associada à chuva, a causa que mais matou nesse segmento da BR-040 no período avaliado foi o acúmulo de água no pavimento, razão cinco mortes e 37 feridos em 20 sinistros. Transitar na contramão matou o mesmo número de pessoas que a resposta inadequada de motoristas a imprevistos, totalizando também quatro óbitos em nove ocorrências, com 21 feridos.
As saídas de pista foram os resultados mais frequentes dos acidentes, chegando a 123, com seis mortes e 201 feridos. A mortalidade é a mais alta ao lado das colisões frontais, também com seis óbitos, em 18 acidentes com 44 feridos.
Risco na zona urbana
Um dos locais de mais registros de sinistros partindo da capital fica logo em Contagem, na Grande BH, entre o Km 521, altura do Bairro Vargem das Flores, e o Km 526, perto do CeasaMinas. Trata-se de uma zona de conflito intenso entre os tráfegos rodoviário e urbano, onde a imprudência nos acessos e a reação tardia dos condutores geram os acidentes mais frequentes, como colisões traseiras e laterais. A presença de chuva e o acúmulo de água na pista (especialmente próximo ao Km 521) potencializam a perda de controle da direção, sendo recomendado o aumento da distância entre veículos e a redução da velocidade. No trecho, duas mortes foram registradas no período noturno, sendo uma por atropelamento e outra por choque contra objetos fixos.
Já no Noroeste de Minas Gerais, um dos locais com mais registros de sinistros e mortes, com seis óbitos, é o município de João Pinheiro. O trecho mais crítico nesse período de fim e início de ano foi entre o Km 176, no distrito de Luizlândia do Oeste, e o Km 203, antes da ponte sobre o Rio da Taquara. O cenário mais crítico nesse segmento é a condução sob chuva em pista simples, onde o acúmulo de água sobre o pavimento gerou os acidentes mais letais (incluindo uma ocorrência com três mortos no Km 179).
A combinação de asfalto molhado com traçados que variam entre retas e curvas em declive favorece a perda de aderência, resultando predominantemente em saídas de pista, tipo de sinistro que lidera as estatísticas de feridos e óbitos na região analisada. O principal desafio é a identificação precoce de lâminas d'água, o que exige dos condutores também manter pneus em bom estado de conservação e reduzir a velocidade.
Cuidado na Curva da Morte
Mais adiante, em Paracatu, também no Noroeste de Minas, quase na divisa com Goiás, os acidentes deixaram alto número de mortos, com cinco vítimas. Os perigos se traduziram em sinistros sobretudo do Km 34, perto da entrada da cidade, antes do acesso ao Parque de Exposições, ao Km 45, depois da área da Kinross, onde fica a chamada “Curva da Morte”.
O segmento apresenta duas realidades distintas e perigosas. Entre os quilômetros 42 e 44, a travessia urbana gera um gargalo de segurança, onde a pressa ao acessar a rodovia causa frequentes colisões transversais, vitimando motoristas locais desatentos ao fluxo rápido. Já nos extremos do trecho (Km s 34 e 45), o perigo se torna letal devido à geometria da via em pista simples. Uma combinação de chuva, curvas em declive e invasão da contramão é responsável pelos acidentes mais graves, resultando em múltiplos mortos e feridos.
Entrando no estado de Goiás
No trecho goiano a BR-040, onde a rodovia corta quatro municípios, foram registrados pela Polícia Rodoviária Federal 179 sinistros no período analisado, deixando oito mortos e 206 feridos. A falta de separação física entre pistas e a tentativa de ultrapassagens indevidas são as causas primárias de óbitos, somadas aos casos em que motoristas que dormem ao volante.
Os registros mais numerosos de sinistros se referem a acessar a via sem observar a presença de outros veículos, ausência de reação do motorista diante de imprevistos e condutor dormindo, situações associadas a 66 ocorrências, com dois mortos e 81 feridos. O sono ao volante foi o responsável pelo registro de mais óbitos, totalizando duas vidas perdidas no período.
Seis causas distintas mataram uma pessoa cada: chuva, entrada repentina de pedestre na pista, falta de contenção na pista, manobra de mudança de faixa, ultrapassagem indevida e alta velocidade. Já os tipos de ocorrências mais registrados, com 94 indicações, foram as colisões traseiras, colisões transversais e saídas de pista. As mais mortais, com dois óbitos, cada foram a saída de pista e a colisão lateral.
O município com mais óbitos da BR-040 em Goiás foi Luziânia, onde sete pessoas perderam a vida. O segmento mais crítico é do Km 36 ao Km 42, perto da Santa Chiara Alimentos. A pista simples combinada com curvas e aclives se torna ainda mais desafiadora com a chuva e o acúmulo de água no pavimento (aquaplanagem), sendo os principais motivos para acidentes mais graves. A infraestrutura, desprovida de separação física entre os fluxos opostos nesse trecho específico, torna qualquer perda de controle ou derrapagem potencialmente severa, resultando em colisão lateral ou frontal contra veículos que vêm em sentido contrário.
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Além das condições da via, o comportamento de risco é determinante para a letalidade no trecho. Tentativas de ultrapassagem indevida e a fadiga do condutor (com registros de motoristas dormindo ao volante) foram as causas primárias dos óbitos analisados. Para quem trafega pelo local, a postura preventiva deve incluir respeito aos limites de velocidade, redução da aceleração sob chuva e atenção aos sinais de cansaço, especialmente em horários noturnos ou de amanhecer. Até Brasília, não houve registros de mortos no período, mas 45 sinistros deixaram 44 feridos.