Venezuelanos abandonados em Montes Claros estão há cinco anos no Brasil
Grupo de 41 pessoas, incluindo 27 crianças, esteve primeiro em Joao Pessoa (PB). Depois ficou em Itabuna (BA) antes de ser enviado para Montes Claros
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O grupo de 41 venezuelanos, formado por sete famílias da etnia indígena Warao, incluindo homens, mulheres e crianças, permanece provisoriamente em um abrigo improvisado no Ginásio Poliesportivo Ana Lopes. Eles foram abandonados na rodoviária de Montes Claros, no Norte de Minas, na madrugada do último sábado (15/11).
Os imigrantes vieram de Itabuna (BA), a 681 quilômetros de Montes Claros, em um ônibus custeado pela prefeitura da cidade baiana. Antes de Itabuna, os venezuelanos passaram um período em João Pessoa (PB), onde chegaram há cinco anos.
O grupo é composto por sete homens, sete mulheres – das quais, quatro são gestantes – e 27 crianças. As lideranças anunciaram que desejam permanecer em Montes Claros e, além de receberem ajuda humanitária (alimentos e roupas, sobretudo), buscam encontrar emprego para pelo menos cinco homens do grupo, que conta também com dois integrantes idosos.
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Previsão de acolhimento prolongado
A Prefeitura de Montes Claros havia anunciado que nesta segunda-feira (17/11) realizaria uma reunião entre várias secretarias e outros órgãos para decidir o futuro dos venezuelanos acolhidos na cidade. No entanto, o secretário municipal de Desenvolvimento Social, André Kevin, disse em entrevista nesta segunda-feira que, por enquanto, os imigrantes continuarão no Ginásio Ana Lopes.
Kevin salientou que o Executivo municipal pretende envolver outras instituições como Polícia Federal, Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e Procuradoria da União, numa “discussão mais ampla” para definir o destino dos venezuelanos.
“Nesse momento, nós estamos fazendo esse acolhimento provisório. Levaremos (o caso) para uma mesa de discussão muito mais ampla porque não é uma questão simples, (pois) envolve, inclusive, direito internacional e várias garantias. Por isso, nós precisamos trazer para a resolução disso outras instituições para que possamos tomar medidas a longo prazo”, ressaltou o secretário.
Ele afirmou que não há uma decisão sobre a possibilidade de os imigrantes ficarem na cidade em condição permanente. “Nós ainda não temos essa decisão, porque ela será tomada em uma mesa mais ampla para sabermos os encaminhamentos a longo prazo. Nesse momento, a prefeitura cuida para que essas pessoas tenham um atendimento com dignidade”, destacou.
Kevin destacou o amparo da prefeitura, que oferece kits de higiene pessoal, alimentos e outros donativos. Nesta segunda-feira, uma equipe de uma unidade móvel da Secretaria Municipal de Saúde foi ao Ginásio Ana Lopes para o atendimento dos venezuelanos, que receberam também a visita de assistentes sociais da Secretaria de Desenvolvimento Social. O dono de uma clínica médica da cidade também se ofereceu para realizar exames de ultrassom gratuitos para as quatro gestantes do grupo.
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Condições do ginásio
Ouvido pelo Estado de Minas nesta segunda-feira, o cacique Amário Mata, líder do grupo venezuelano, reclamou do calor intenso no Ginásio Ana Lopes, que gera desconforto, principalmente para as crianças — a cidade tem vivido uma onda de calor nos últimos dias. Por isso, o grupo deseja ir para outro local, “numa casa que tenha quartos divididos”. No ginásio, os imigrantes estão dormindo em redes e em colchões nas arquibancadas, já que o espaço não possui alojamentos.
O cacique disse que os cinco homens em condições de trabalho do grupo querem encontrar serviço na cidade. “Pode ser qualquer tipo de trabalho”, declarou. Ele também afirmou que os venezuelanos estão pedindo mantimentos e roupas à população, além da doação de um fogão para preparar a própria comida no ginásio, onde, por enquanto, a alimentação é fornecida em marmitas.
Há cinco anos no Brasil
Amário Mata revelou que os imigrantes, que fugiram da pobreza na Venezuela sob o regime do presidente Nicolás Maduro, estão no Brasil há cinco anos e chegaram primeiro em João Pessoa (PB), onde permaneceram por três anos. “Mesmo trabalhando, a gente sempre ficava na rua pedindo comida para as crianças”, detalhou.
Em seguida, relatou, o grupo foi para Itabuna, onde permaneceu até a semana passada. Na cidade baiana, foram registradas duas mortes de crianças do grupo venezuelano, causadas por desnutrição, uma delas filha do próprio cacique Amário Mata, que tem mais quatro filhos.
O cacique disse que o grupo deixou Itabuna porque lá não encontrava mais comida e trabalho. Por isso, deslocou-se para Montes Claros, onde pretende encontrar trabalho e sustento, com a ajuda da população local.
Prefeitura de Itabuna diz que saída foi decisão coletiva
Em um comunicado divulgado em seu site, a Prefeitura de Itabuna (BA) afirma que a saída dos venezuelanos da cidade, com destino a Montes Claros, ocorreu em atendimento a um pedido do próprio grupo de imigrantes, em decisão de todos eles.
“Com a decisão coletiva, os líderes Warao solicitaram à prefeitura a cessão de um ônibus para que o grupo integrado por sete famílias, um total de 41 pessoas, sendo sete homens, sete mulheres e 27 crianças, fizesse a viagem. Além disso, pediram mantimentos e fraldas para a jornada à cidade mineira, que se iniciou às 15 horas da quinta-feira, dia 13, já que praticam o nomadismo tanto no território do país de origem quanto no território brasileiro”, diz a nota.
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“O pedido da saída da cidade consta em documento da Secretaria de Promoção Social de Itabuna, datado de 12 de novembro, com a assinatura dos líderes do grupo venezuelano.
“Os caciques assinaram Termo de Declaração junto à equipe técnica do POP Acolhimento do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), confirmando o desligamento voluntário e por demanda espontânea. Todos do grupo Warao possuem documentação e recebiam benefícios de transferência de renda ou Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou Bolsa Família, cujos recursos eram empregados no plano de acolhimento sob acompanhamento do Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS)”, conclui o comunicado da Prefeitura de Itabuna.