Frente fria e risco geológico: a chuva veio para ficar em Minas?
Temporais no interior e alerta em BH marcam a entrada de uma frente fria que pode consolidar o período chuvoso em Minas
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Depois de um fim de semana marcado por temporais em diversas cidades do estado com alagamentos em Passos, famílias desalojadas em Varginha, feridos e quedas de árvores em Divinópolis, além de dezenas de ocorrências e risco geológico elevado em Belo Horizonte a tendência, segundo o Inmet, é de que o período úmido engrene na capital.
O avanço de uma frente fria pelo Sudeste intensificou áreas de instabilidade que já atuavam desde sexta-feira (14/11), alimentadas pela alta umidade. Em Belo Horizonte, que registrou mais de 61 mm entre domingo e segunda-feira, três regionais estão em alerta para deslizamentos. O acumulado de chuva até agora na capital já soma 143 mm em novembro.
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Além da BH, outras 827 cidades mineiras seguem sob alerta laranja, válido para tempestades até as 10h desta terça-feira (18/11). Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o aviso indica a possibilidade de chuvas entre 30 e 60 mm/h ou até 50 mm/dia, acompanhadas de ventos de 60 a 100 km/h.
A meteorologista Anete Fernandes, do Inmet, explica que a sequência de temporais começou ainda na noite dessa sexta-feira(14/11), quando “áreas de instabilidade em médios níveis da atmosfera, combinadas à grande disponibilidade de umidade”, passaram a atuar sobre Minas. O avanço da frente fria que vem do Sul deve se acoplar a essas instabilidades, mantendo o tempo nublado e com chuva a qualquer hora até quarta-feira (19/11). Depois, o sistema se desloca para a Bahia, favorecendo tempo mais firme no Centro-Sul e no Oeste do estado.
Segundo Anete, as instabilidades ainda permanecem ativas sobre Belo Horizonte até quarta-feira. “Essa frente fria mantém as áreas de instabilidade e garante chuva frequente até quarta”, afirmou. A meteorologista reforça que o ciclone extratropical associado ao sistema se formou no Uruguai, mas não atinge Minas. Segundo ela, apenas a frente fria e suas linhas de instabilidade influenciam o estado.
A partir de quinta-feira (20/11), a tendência é de uma breve redução das instabilidades, com tempo mais firme. Já na sexta-feira (21/11), a chuva retorna no padrão típico de primavera, com pancadas isoladas no fim da tarde e início da noite. Para Anete, a expectativa é de que a estação chuvosa “tenha vindo para ficar”, embora ainda seja cedo para afirmar com certeza.
Início do período chuvoso
O mês de novembro marca o estabelecimento da estação chuvosa em Minas Gerais. As pancadas de fim de tarde e noite tornam-se mais frequentes devido à combinação entre calor e alta umidade. Nessa época do ano, o canal de umidade da Amazônia se intensifica, favorecendo a formação de grandes áreas de instabilidade.
Quando esse canal se associa a frentes frias, pode formar-se a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) — sistema responsável por chuvas contínuas por quatro dias ou mais em regiões do Sudeste, incluindo grande parte do território mineiro. Embora o período chuvoso se estabeleça normalmente em novembro, o início das chuvas veio atrasado, segundo a meteorologista Anete Fernandes. “Eu esperava um outubro até mais chuvoso”, afirmou.
Chuvas acima, dentro ou abaixo do esperado?
Em Belo Horizonte, onde a média de chuva em novembro é de 236 mm, já choveu 143 mm até esta segunda-feira( 17/11), sendo 61,4 mm somente entre o domingo e hoje.
“Estamos praticamente na metade do valor esperado. Se as chuvas continuarem frequentes, podemos até ultrapassar a média”, avaliou.
Risco geológico
Em virtude dos volumes registrados nas últimas horas e da previsão de novas chuvas, Belo Horizonte permanece com risco geológico forte nas regionais Barreiro, Oeste e Noroeste, e risco moderado nas regionais Centro-Sul, Leste e Pampulha até quarta-feira (19).
A Defesa Civil recomenda atenção ao grau de saturação do solo, a sinais construtivos e a situações que indiquem instabilidade, como quedas de muros, deslizamentos e desabamentos. O alerta é emitido quando o acumulado pluviométrico ultrapassa 70 mm em 72 horas, condição que aumenta significativamente a chance de deslizamentos, sobretudo em áreas de encosta.
Desde o início da noite de sexta-feira (14/11), às 18h, até o início da manhã desta segunda-feira (17/11), às 09h, foram registradas 75 árvores caídas em vias públicas, 15 sobre residências e duas sobre veículos na capital e na Região Metropolitana.
Entre os incidentes, a queda de uma árvore na Rua Avelar, no Bairro Pindorama, Região Noroeste de Belo Horizonte, deixou cerca de 700 clientes da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) sem energia no início da noite de domingo (16/11). Segundo o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), a ocorrência foi motivada pelas chuvas.
Interior também registra temporais e danos
No interior de Minas, os temporais do fim de semana provocaram estragos em diversas cidades. Em Passos, no Sudoeste do estado, uma forte chuva de aproximadamente 30 minutos alagou ruas e avenidas, na tarde de domingo (16). O ponto mais crítico foi a Avenida da Moda, onde o córrego transbordou e inundou toda a região. Moradores relataram que os cerca de 10 mm previstos para o período caíram em apenas 15 minutos, com registro de granizo em alguns bairros.
A Defesa Civil interditou a Rua Júpiter após a queda de uma árvore, provocada pelo “grande fluxo de chuvas, ventos e granizo”, segundo comunicado oficial. O secretário municipal de Segurança Pública e Defesa Social, coronel Abdala, acompanhou as equipes nas interdições. O Inmet emitiu um alerta de perigo para toda a região, válido a partir desta segunda-feira (17/11).
Em Varginha, no Sul de Minas, ao menos seis famílias ficaram desalojadas ou desabrigadas após as fortes chuvas da noite de sábado (15/11). Algumas casas foram condenadas por risco de queda. Até as 18h de domingo (16/11), o Corpo de Bombeiros havia atendido 21 ocorrências relacionadas ao temporal, incluindo alagamentos, danos estruturais e quedas de muros. A prefeitura informou que divulgará um relatório completo dos danos nesta segunda-feira (17/11).
Já em Divinópolis, no Centro-Oeste do estado, a chuva intensa de sábado (15/11) provocou alagamentos, quedas de árvores, falta de energia e deixou pelo menos cinco pessoas feridas. A Defesa Civil registrou pontos críticos no Serviço Municipal do Luto, na Rua Rio de Janeiro, na Praça dos Ferroviários e em áreas do Bairro Esplanada. Diversas vias foram interditadas por risco de novos alagamentos e acúmulo de lama.
Residências tiveram telhas arrancadas e entrada de água, principalmente nos bairros Esplanada, Antônio Fonseca e Nossa Senhora das Graças. Árvores caíram em diferentes regiões da cidade, danificando veículos. No Divinópolis Clube, a força do vento destruiu estruturas, arrastou mesas e cadeiras e deixou quatro feridos, atendidos pelo Samu. Parte dos bairros Porto Velho e Santuário segue sem energia elétrica.
Para os próximos dias, o cenário ainda é de atenção. Entre esta segunda (17/11) e a terça-feira (18/11) , Minas deve registrar tanto pancadas intensas e localizadas quanto períodos de chuva contínua, combinação que aumenta o risco de enxurradas, alagamentos e deslizamentos, potencializados por rajadas de vento previstas entre 60 e 100 km/h. Na quinta-feira, a chuva recua, mas retorna na sexta no padrão típico de verão: rápida, volumosa e capaz de provocar novos transtornos.
O que fazer e não fazer durante a chuva?
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Evite áreas de inundação;
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Não trafegue em ruas sujeitas a alagamentos ou perto de córregos e ribeirões nos momentos de forte chuva;
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Não atravesse ruas alagadas nem deixe crianças brincando nas enxurradas e próximo a córregos;
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Não se abrigue nem estacione veículos debaixo de árvores;
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Tenha atenção especial para áreas de encostas e morros;
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Nunca se aproxime de cabos elétricos rompidos. Ligue imediatamente para CEMIG (116) ou Defesa Civil (199);
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Se notar rachaduras nas paredes das casas ou o surgimento de fendas, depressões ou minas d’água no terreno, avise imediatamente a Defesa Civil;
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Em caso de raios, não permaneça em áreas abertas nem use equipamentos elétricos.
Sinais de que deslizamentos podem acontecer
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Trinca nas paredes.
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Água empoçando no quintal.
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Portas e janelas emperrando.
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Rachaduras no solo.
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Água minando da base do barranco.
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Inclinação de poste ou árvores.
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Muros e paredes estufados.
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Estalos.
Recomendações
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Não faça cortes muito altos e inclinados nos barrancos.
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Coloque calha no telhado da sua casa.
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Conserte vazamentos em reservatórios e caixas-d’água.
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Não jogue lixo ou entulho na encosta.
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Não despeje esgoto nos barrancos.
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Não faça queimadas.
Emissão de alertas
Os moradores de Belo Horizonte podem receber os alertas de risco de chuvas fortes, granizo, tempestades, vendavais, alagamentos, risco de deslizamentos de terra e outros fenômenos meteorológicos por SMS. Para se cadastrar, basta enviar uma mensagem de texto com o CEP da sua rua para o número 40199 e uma mensagem de confirmação será enviada na sequência. O serviço não tem custo.
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