Audiência pública debate segurança na Pampulha
Moradores da região relatam assaltos e pedem reforço no policiamento e prevenção; encontro com autoridades será hoje (15/7), no Iate Tênis Clube
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Siga noAs ruas antes pacatas de alguns bairros da Pampulha, em Belo Horizonte, vêm sendo invadidas por uma sensação constante de medo. Nas caminhadas à noite ao redor da Lagoa, nos trajetos de ida à padaria ou na simples decisão de sair com o celular no bolso, o receio de ser alvo de furtos virou parte do cotidiano. Esse cenário será discutido em audiência pública da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), hoje (15/7), a partir das 17h, no Iate Tênis Clube, no Bairro São Luiz.
O encontro, convocado pela deputada Chiara Biondini (PP), vai reunir moradores, representantes de associações comunitárias e autoridades como o comandante-geral da Polícia Militar de Minas Gerais, coronel Carlos Frederico Otoni Garcia, e o comandante da Guarda Municipal de BH, Júlio César Pereira de Freitas. O objetivo é ouvir a população e propor caminhos para frear a escalada da criminalidade percebida por parte da população da região.
Quem mora ou trabalha nos bairros Jaraguá, Santa Mônica e Dona Clara, por exemplo, diz que a tranquilidade de outros tempos já não existe mais. Varos Voiski, presidente da Associação Comunitária do Bairro Santa Mônica (Ascob), relata uma mudança sensível no ambiente das ruas. “Insegurança é o pior que tem, a gente fica muito vulnerável. Aqui era uma região tranquila. Claro, que tinha seus problemas, mas não era tanto. De uns tempos para cá, piorou”, afirma.
Voiski conta que a população convive com furtos, assaltos cometidos por motociclistas e uma sensação de vulnerabilidade crescente. “Tem morador que nem anda com o celular, vai à padaria e leva só o cartão, o dinheiro. O maior medo hoje é moto. Só de ver uma, a gente já fica apreensivo”, relata. Segundo ele, há ainda uma onda crescente de furtos em áreas movimentadas como a Avenida Antônio Carlos, perto da UFMG, e nas imediações da Lagoa da Pampulha. “Eu fazia caminhada até meia-noite. Isso há um ano atrás. Mudou toda a rotina, passou das 21h30 você não vê mais ninguém na rua. Quem está, já fica com medo”, relata.
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A associação que ele preside tem buscado uma atuação mais próxima da Polícia Militar e órgãos públicos. Um dos principais avanços, segundo Varos, foi a retomada do Conselho Comunitário de Segurança Pública (Consep) da Pampulha. “Foi uma luta da associação. O Consep atua junto à Polícia Militar, à Polícia Civil e à Guarda Municipal. É fundamental para aproximar as demandas da comunidade das autoridades”, explica. Ele ainda reforça a importância de se fazer o boletim de ocorrência até mesmo para embasar o trabalho das forças de segurança.
ILUMINAÇÃO
Entre outras ações, eles pedem a poda de árvores que podem esconder suspeitos e troca de lâmpadas para melhorar a iluminação das ruas. Outra prioridade para os moradores é a instalação de mais câmeras de monitoramento. “A gente pede a ampliação do Olho Vivo. Precisamos de câmeras porque aí tem o registro”, afirma. Ele lembra que, durante um assalto, nem sempre a vítima consegue memorizar a placa do veículo ou o rosto do agressor. “Eu mesmo já tive essa experiência. Às vezes a pessoa vem com arma. É muito forte a ação. Você fica nervoso, não consegue gravar nada direito.”
Nem todos da regional Pampulha, que tem 48 bairros, compartilham a mesma percepção sobre o aumento da criminalidade. Para Adrienne Moore, presidente da Associação Pró-Interesses do Bairro Bandeirantes (Apibb), os casos são pontuais, e é preciso cuidado para não generalizar. “Temos uma integração muito boa com a polícia, e várias redes de vizinhos implantadas na região. A gente sabe quem entra e quem sai do bairro”, garante.
Ela acredita que o clima de segurança também se estende aos bairros vizinhos, como São Luís e São José, graças ao envolvimento ativo dos moradores. “A gente vê que aquelas pessoas que fazem a parte preventiva ajudam muito. Não pode descuidar, a gente tem que ir fazendo as coisas direitinho, deixar o portão fechado. Não pode dar oportunidade. Tenho certeza que no Bandeirantes devem ter até caído os índices de criminalidade, porque estamos em um período muito tranquilo”, afirma.
A importância da integração entre forças de segurança e comunidade, mencionada por moradores e associações, é justamente o ponto central apontado pelo advogado criminalista e pesquisador em segurança pública Jorge Tassi. Ele destaca que muitos bairros da Pampulha já investem em equipamentos de segurança, como câmeras e vigilância privada, mas de forma descoordenada, o que limita a efetividade do sistema. “A Pampulha tem características muito semelhantes às do Belvedere. O diferencial ali tem que ser a integração da inteligência policial com a comunidade”, explica.
O DESAFIO DA LAGOA
A orla da Lagoa da Pampulha, um dos pontos mais citados por moradores como alvo de assaltos e furtos, representa um desafio à parte, segundo o especialista. Com circulação intensa de visitantes, frequentadores ocasionais e moradores, o espaço exige um tipo de ação que, na prática, desapareceu das ruas: o policiamento a pé. “Ali o policiamento ostensivo funciona, mas praticamente não temos mais presença policial andando pelas ruas. E para furto, é esse policiamento que resolve”, afirma.
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O especialista defende que precisa haver um debate para repensar o modelo atual de segurança pública, que também precisa abarcar a prevenção. “Hoje, o policiamento está voltado muito mais para o atendimento de ocorrência, de repressão. É necessário retomar o policiamento comunitário. Acho que é, inclusive, a coisa mais importante. A polícia tem que passar nos comércios, tem que dialogar diretamente com as pessoas, porque são elas que sabem o que está acontecendo nas suas ruas. Isso fortalece o relacionamento e aumenta a confiança”, afirma.