BRs x cidades

O risco do cruzamento da pressão urbana com a falta de estrutura da BR-040

Ocorrências de 2020 a 2024 indicam que trecho mineiro da rodovia opera além da capacidade em trechos urbanos mais movimentados. Concessionárias prometem mudança

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O padrão dos acidentes mais graves nos trechos urbanos da BR-040 em Minas Gerais, nos quais a imprudência com velocidade e consumo de álcool é um fator constante, demonstra que a rodovia opera além de sua capacidade de segurança em vários segmentos. A situação exige a implementação de medidas urgentes de engenharia, como passarelas, faixas de acesso exclusivas, barreiras para pedestres e campanhas de conscientização, além de campanhas de conscientização, alertam especialistas.

A expansão urbana em locais precários, bolsões e assentamentos sem estrutura e planejamento compromete a segurança viária à medida que a urbanização entra na zona de influência de rodovias, afirma o professor Raphael Lúcio Reis dos Santos, do Departamento de Engenharia de Transportes do Cefet-MG. “Essa ocupação precária e desenfreada, sem estruturação e planejamento, traz diversos impactos para rodovias que já existiam. Obriga que se mude todo o contexto, toda a lógica em relação à sinalização, à segurança e à fluidez”, explica.


“Por causa desse adensamento urbano, a rodovia já não comporta mais o tráfego de determinados horários, quando a comunidade sai para trabalhar em outra cidade com mais estrutura, ou quando retorna. Essas pessoas vão precisar de pontos de ônibus, de acessos apropriados. A via comporta? Quem vai custear, quem vai instalar e quem vai fiscalizar? Será uma concessionária? Isso está no contrato? Ou será o Estado?”, questiona o professor do Cefet-MG.


Outro problema do avanço das áreas urbanas sobre rodovias apontado pelo professor Raphael Lúcio Reis dos Santos, do Cefet-MG, diz respeito aos acessos, onde podem ocorrer acidentes como a colisão traseira entre o carro e a perua de entregas em Ribeirão das Neves. “Vemos motoristas em alta velocidade precisando reduzir de uma vez para acessar a área urbana, podendo ser atingidos por quem segue atrás. Ou em situação oposta: quem está saindo da área urbana e se expõe ao fluxo em alta velocidade”, destaca. “Basicamente, o que se pode fazer nesses casos é uma espécie de nova faixa para o motorista ter condição de fazer a redução da velocidade de forma segura ou para que saia em segurança. Mas tudo depende da topografia, de estudos e de custeio”, salienta.


As ameaças de BH a Juiz de Fora

Deixando Belo Horizonte em direção ao Rio de Janeiro, a pista da BR-040 é predominantemente duplicada e tem a maior mancha urbana já em Nova Lima, na altura do Bairro Jardim Canadá. Uma área com muitos acessos a condomínios, áreas residenciais, empresas, mineradoras e indústrias. Nessa região, colisões frontais e atropelamentos somaram 12 mortes entre 2020 e 2024, associadas a manobras arriscadas sob chuva e falta de reação adequada de motoristas em áreas com curvas e declives.


Congonhas e Conselheiro Lafaiete concentraram colisões transversais e atropelamentos, chegando a seis óbitos cada no período. As ocorrências da PRF evidenciaram a existência de retornos perigosos, conversões proibidas e falta de locais de travessia apropriados para pedestres. A alta velocidade também se mostra incompatível com o ingresso constante de veículos de carga e de circulação local na estrada, sem moderadores como radares, quebra-molas e lombadas eletrônicas.


No perímetro urbano de Juiz de Fora, as três mortes por atropelamentos, em um total de quatro óbitos no período observado, mostram que o pedestre também precisa de melhores estruturas, mas também de atenção e de educação para o trânsito. Os motivos elencados para os acidentes com vítimas foram a falta de atenção e a entrada súbita do pedestre na rodovia.


O que dizem as concessionárias

Os segmentos norte e Sul da BR-040 passaram a ser geridos recentemente por novas concessionárias. A EPR Via Mineira, que assumiu o trecho entre BH e Juiz de Fora em agosto de 2024, sustenta promover melhorias que já refletem na rotina e segurança dos usuários. “Mais de 355 quilômetros de faixas de pavimento foram recuperados, a sinalização foi revitalizada, dispositivos de segurança foram instalados e as passarelas de Nova Lima e Conselheiro Lafaiete restauradas, enquanto uma terceira estrutura, em Barbacena, passa por melhorias”, informou.


O contrato prevê a construção de mais oito passarelas. “A concessionária iniciou os ajustes nos limites de velocidade e a instalação de oito novos radares, que devem entrar em operação no fim de julho, em pontos estratégicos como Congonhas e Nova Lima”, acrescentou. “Já é possível observar resultados concretos, como a ausência de acidentes com mortes em trechos urbanos historicamente críticos, como o acesso à comunidade de Água Limpa, Curva da Celinha e nos trevos de Moeda e Paulo VI”, afirma a EPR.


No trecho, obras de duplicação começam em 2026, por Congonhas, e seguem até 2032, quando todo o trecho deve estar duplicado. “A EPR Via Mineira reforça que a segurança no trânsito também exige o respeito mútuo entre motoristas e pedestres e segue comprometida com a transparência e o diálogo com a sociedade.”


Já a Via Cristais, concessionária que assumiu em março deste ano o trecho entre Belo Horizonte e Cristalina (GO), afirma que em municípios como Contagem e Ribeirão das Neves, a malha urbana recebe atenção voltada para segurança, mobilidade e convivência entre diferentes tipos de tráfego. “A articulação próxima com os municípios da Região Metropolitana de BH é fundamental para assegurar soluções eficazes e integradas. A concessionária mantém um diálogo constante com as prefeituras e Polícia Rodoviária Federal para alinhar as ações rodoviárias às demandas urbanas locais", afirma.


“Uma das medidas fundamentais para melhorar o fluxo e a segurança da região é a ampliação da capacidade da rodovia no trecho de Ribeirão das Neves, que terá até quatro faixas por sentido. Está prevista também a implantação de vias marginais, construção de mais de 30 passarelas e outras travessias em desnível (viadutos, por exemplo) para substituir, ao longo da rodovia, os encontros de vias de alto risco”, indica.

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Outro ponto considerado essencial é a reorganização e regularização dos acessos aos bairros, uma demanda constante dos municípios envolvidos. “Toda solicitação de novo acesso passa por uma análise técnica rigorosa da concessionária, garantindo que qualquer nova conexão seja funcional e compatível com a estrutura viária e com a operação segura. Paralelamente, o monitoramento contínuo das margens da rodovia contribui para prevenir ocupações irregulares, que representam riscos significativos”, informa.


Ações educativas e campanhas de conscientização fazem parte do pacote de iniciativas listadas pela Via Cristais. “O foco na mudança de comportamento da população, através da educação e conscientização, é o primeiro pilar da segurança viária”, conclui. 

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