CONTRADIÇÕES

Jovem que denunciou estupros em BH é indiciada por denunciação caluniosa

Suposta vítima, de 24 anos, afirmou ter sido abusada sexualmente, perseguida e ameaçada de morte por um homem que contratou para montar móveis

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A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) indiciou a jovem de 24 anos que afirmou ter sido vítima de dois estupros por denunciação caluniosa. O inquérito que apurou as ocorrências foi concluído nesta segunda-feira (30/6). De acordo com a investigação, foi constatado que os fatos narrados pela jovem eram “inverídicos”. Paula* (nome fictício) declarou ter sido abusada sexualmente, perseguida e ameaçada de morte por um homem que contratou para montar móveis.

A primeira violência sexual, segundo a mulher, teria ocorrido em 31 de março, quando ela recebeu o homem em casa, no Bairro Ipiranga, na Região Nordeste de Belo Horizonte, para a realização do serviço. Dois meses depois, após receber ameaças por mensagens e já ter registrado um boletim de ocorrência, a jovem afirmou que teria sido estuprada novamente pelo mesmo homem. “[Sinto] que estou perdendo tudo na minha vida e que ele está vivendo a vida dele”, disse ao Estado de Minas em 17 de junho, um dia após ir à polícia para periciar o celular.

Em nota, a PCMG informou que, desde 1º de abril, após o registro da ocorrência, foram realizadas diligências investigativas — inclusive em outros municípios mineiros —, oitivas de testemunhas e análise de provas técnicas. Além disso, a corporação afirmou que houve “contradições nos depoimentos”. “A PCMG reforça que a utilização indevida dos mecanismos de denúncia enfraquece a luta contra crimes reais e prejudica o acolhimento e a credibilidade de vítimas legítimas.”

Procurada pelo Estado de Minas, a jovem afirmou que não sabia do resultado das investigações e que foi chamada para depor nesta manhã. Ela disse que, ao chegar à delegacia, foi informada de que o homem que denunciou apresentou provas de que estava trabalhando no momento em que os crimes teriam ocorrido.

Primeiro estupro

Paula* contou que encontrou no Facebook o anúncio de um suposto prestador de serviços e o recebeu em casa, onde morava sozinha, no dia 31 de março, para montar um guarda-roupa. Na ocasião, o suspeito, identificado como Vinícius no perfil, teria pegado uma faca na cozinha, a ameaçado e a estuprado. A jovem relatou que ficou paralisada e com muito medo.

Nos dois dias seguintes ao crime, Paula* disse que não conseguiu sair de casa nem se alimentar. Sobre o motivo de não ter ido à polícia logo após o ocorrido, ela afirmou que sentiu vergonha do julgamento das pessoas por ter recebido o homem sozinha em casa. “Foi a vergonha de pensar: como eu fui burra de trazer uma pessoa desconhecida para minha casa, como eu não pensei nisso”, relata a jovem.

Em 3 de abril, três dias após o crime, Ana* (nome fictício), uma pessoa do círculo social da jovem, percebeu que ela estava passando mal e a acolheu. Foi então que Paula* contou o ocorrido. Acompanhada, ela foi levada ao Hospital das Clínicas da UFMG, onde teve atendimento com um psiquiatra, realizou exames que indicaram ruptura recente do hímen e colheu material genético, conforme registros acessados pela reportagem. Também foi prescrito tratamento para prevenção de gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. 

Juntas, elas teriam conseguido encontrar o perfil verdadeiro do suposto montador de móveis, onde descobriram que o nome Vinícius era falso. Paula* teria o reconhecido pelas fotos postadas. Depois do suposto crime, o suspeito teria continuado a perseguir Paula* e a ameaçá-la por mensagens. “Após o fato, ele passou a enviar mensagens de cunho íntimo e a procurar a vítima em diferentes locais, inclusive em sua residência e próximo ao curso que ela frequenta, gerando nela sentimento de temor e insegurança”, consta no boletim de ocorrência registrado pela vítima em 15 de abril.

Perseguição 

Conforme print apresentado pela jovem, o suspeito teria enviado uma mensagem para ela no dia 4 de abril, com os dizeres: “Hoje ‘tô’ de bobeira, precisando montar mais algum móvel aí na sua residência? ‘Tô’ perto de você.” Ele também teria dito que estaria esperando Paula* na porta e que gostou muito dela. “Você não contou para ninguém, não, né?”, escreveu. “Você lembra que eu te perguntei se você ‘tava’ afim. E você disse que ‘tava’. Só por isso ficamos”.

À 0h46 do dia 13 de maio, por meio de outro número de celular, o suspeito teria enviado um SMS ameaçando Paula*, dizendo que ela tinha 24 horas para retirar a queixa. No final do dia, às 23h52, a jovem recebeu outras mensagens: “Seu tempo acabou. Você retirou a queixa? Espero que toda essa andança sua hoje tenha sido para ir à delegacia desmentir tudo isso.” Segundo os prints, Paula* não respondeu.

Na noite do dia 14, o homem enviou mensagens afirmando que a jovem não havia retirado a queixa, que aquela seria a “última chance dela” e sugerindo que ela tomasse cuidado daqui para frente. No dia 15, enviou outro SMS: “Você não me escutou, então sofra as consequências.”

Ao Estado de Minas, Ana*, que tem prestado apoio a Paula*, afirmou que o homem teria aparecido na porta do cursinho da jovem algumas vezes. Elas suspeitam que ele tenha descoberto o local de estudo dela quando esteve na casa de Paula*, onde materiais escolares com o nome do cursinho estavam sobre a escrivaninha.

Segundo estupro

Com as supostas ameaças, Paula* conta que trocou de cursinho, mudou de casa e alterou sua rotina. No dia 2 de junho, ela teria sido surpreendida na Região Central de Belo Horizonte pelo mesmo homem, que descia a rua onde funcionava o cursinho antigo, nas proximidades da nova instituição. “Provavelmente foi o pior dos acasos”, pondera Ana*. 

Segundo o segundo boletim de ocorrência, registrado em 3 de junho, a vítima teria sido “coagida a entrar em um veículo de aplicativo e levada até um imóvel onde foi mantida sob ameaça, sofrendo nova violência sexual”. Paula* relata que tentou pedir ajuda às pessoas próximas, mas ninguém interveio.

“Quando ele me encontrou da segunda vez, eu achei que ele ia me matar. Me estuprar de novo e me matar”, disse a jovem. Ela afirma que, após sofrer a violência sexual, o homem a fez prometer que retiraria a denúncia. Em seguida, sob a alegação de que outras pessoas estariam chegando ao local, o suspeito teria colocado Paula* em um carro de aplicativo com destino à casa onde ela morava — local do primeiro estupro. Conforme registro médico, Paula* fez exames no hospital poucas horas após a ocorrência. 

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“Todo o processo de hospital, delegacia e depoimento se repete, e nossa esperança era que ele fosse pego em flagrante. Mesmo com o estado de completo choque da vítima, conseguimos localizar o endereço por meio de nossa investigação no Google Maps (Street View), mapeando rua por rua até encontrar a casa com o número exato — informação que foi repassada à Polícia Civil (ainda dentro do prazo de 24 horas). Porém, nada foi feito”, afirmou Ana.*

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