França se rende ao talento de bailarina mineira
Luciana Sagioro, de 19 anos, natural de Juiz de Fora, reside na França desde 2022. No ano seguinte, ela assinou contrato para dançar até sua aposentadoria
compartilhe
Siga noÚnica brasileira contratada pela Ópera de Paris, a bailarina Luciana Sagioro, de 19 anos, natural de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, foi convidada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, para um jantar de honra, nesta quinta-feira (5/6), às 20h (horário local), no Palácio do Eliseu, sede do Poder Executivo, em Paris.
O encontro contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da primeira-dama, Janja. O chefe do Executivo nacional chega à França nesta quarta (4/6), onde cumpre agenda até a próxima segunda (9/6) com o objetivo de aprofundar a relação entre os dois países. Trata-se da primeira visita de Estado de um presidente brasileiro ao país em 13 anos.
Leia Mais
Em entrevista ao Estado de Minas, Luciana disse que tomou conhecimento do convite no meio de um ensaio de palco, quando estava na coxia. “Fui dar uma olhada no celular e vi uma notificação do meu e-mail na qual estava escrito ‘convite da presidência’. Em um primeiro momento, pensei que fosse um erro. Quando abro, realmente o documento tinha meu nome. Na mesma hora, liguei para minha mãe e mandei um ‘print’ (da tela do aparelho) para ela”, iniciou.
Além do prestígio, o convite, segundo avaliou, traz certo “frio na barriga”, apesar da fama e rápida ascensão na dança em solo parisiense. “Vou estar na presença de dois presidentes. Então, para mim, sem dúvidas, é uma grande responsabilidade, mas acredito que vou saber aproveitar esse momento da melhor forma. Entendo que o convite é, de fato, por merecimento. Então, vou lá representando essa arte que amo tanto e todos os artistas brasileiros da dança que não tiveram a mesma notoriedade e o mesmo apoio que eu tive. Não se trata apenas da Luciana. A gente está falando de arte, cultura e representatividade brasileira”, refletiu.
Luciana encerra nesta quarta-feira, no Palácio Garnier, a temporada com o balé Sylvia, coreografado por Manuel Legris. Ele atuou na Ópera de Paris como bailarino principal por 23 anos. Em 26 de junho, no teatro Ópera da Bastilha, ela estreia como solista em "A bela adormecida".
Mudança para a França
Luciana Sagioro deixou o Brasil e fixou residência na França no fim de agosto de 2022, quando deu início aos estudos na Escola da Ópera de Paris. Pouco antes de deixar o país, foi eleita a melhor bailarina do 39º Festival de Dança de Joinville. Em 2024, a organização lançou um documentário no qual celebra a consolidação de Joinville como “capital nacional da dança”. No filme, Luciana integra o time de profissionais que deram depoimentos e marcaram a história da dança no país, como Ana Botafogo, Cecília Kerche e Marcelo Misailidis.
Quase um ano após deixar o Brasil, onde viu sua fama ser construída, Luciana assinou, no fim de julho de 2023, contrato para dançar até sua aposentadoria, aos 42 anos, na Ópera de Paris. Luciana é a primeira e, até agora, única brasileira no corpo de baile. Em novembro passado, ela conquistou a posição de “corypheé”, que compreende o grupo dos principais bailarinos, podendo, eventualmente, exercer papel de solista nas produções.
A mudança para Paris em 2022 se tornou possível depois de Luciana conquistar, também naquele ano, uma bolsa de estudos durante sua participação no Prix de Lausanne, na Suíça — uma espécie de Copa do Mundo do balé.
Ao todo, 70 profissionais da dança de várias partes do mundo se apresentaram, e a juiz-forana garantiu uma das 20 vagas para as finais. Dessa peneira, o concurso elegeu os sete melhores bailarinos, e Luciana, à época com 15 anos, garantiu a terceira colocação. Com isso, ela pôde escolher onde queria estudar e optou pela Escola da Ópera de Paris. Entreas várias ofertas recebidas destacam-se: Royal Academy, de Londres; Bolshoi e Vaganova, da Rússia; e Joffrey Ballet, em Nova York.
Início no balé
Luciana iniciou no balé aos 3 anos, em Juiz de Fora. Em 2022, dias antes de se mudar para Paris, ela também conversou com o Estado de Minas e contou sobre seus estudos. “Aos 8, tive a certeza de que eu queria me tornar uma bailarina profissional. Então, conversei com meus pais sobre a importância disso na minha vida. Desde a primeira aula, nunca levei o balé como brincadeira”, contou na ocasião.
Foi nessa época, inclusive, que a promissora bailarina mirou sua atenção na escola Petite Danse, no Rio de Janeiro. Ela descobriu essa instituição assistindo a vídeos no YouTube e mostrou aos pais, mas eles falaram que seria impossível a mudança para lá, pois tudo relacionado à vida da família estava em Juiz de Fora. “Porém, passou um tempo, e eles permitiram que eu fizesse só uma aula experimental no Rio. Fui e voltei para Juiz de Fora. Após um tempo, a direção ligou para os meus pais e me convidou para fazer parte da escola”, lembrou.
Inicialmente, Luciana viajava para a capital fluminense duas vezes por semana. Os pais colocaram como única condição que a filha mantivesse boas notas no colégio. Porém, já com o status de atleta de alto rendimento, a logística do bate-volta entre Rio e Juiz de Fora passou a não ser considerada conveniente pelos professores de Luciana.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Com isso, a família, em prol do crescimento e do sonho da filha, providenciou a mudança dela, na companhia de uma babá, para o Rio de Janeiro, no fim de 2016, quando ela tinha 9 anos. Durante um período de seis anos, Luciana treinou diariamente na Petite Danse e participou de muitas competições nacionais e algumas internacionais. Aos 15 anos, foi selecionada para o Prix de Lausanne.