Falta vacina contra catapora em municípios de Minas, diz estudo
A pesquisa, realizada entre 11 de abril e 14 de maio de 2025, apontou que, dos 241 municípios mineiros ouvidos, 124 relataram desabastecimento de alguma vacina
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Siga noUm estudo realizado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) revelou que 108 cidades de Minas estão sem vacina contra catapora, entre as 241 que responderam ao levantamento. A pesquisa analisou o período de 11 de abril a 14 de maio de 2025. Além da ausência desse imunizante, nome popular da varicela, a terceira edição do estudo denominado “Falta Vacina Para Proteger Crianças Brasileiras” indicou que 124 cidades relataram desabastecimento de pelo menos um tipo de vacina.
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A catapora é uma doença infecciosa, altamente contagiosa, que se manifesta com maior frequência em crianças. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), entre os sintomas estão manchas vermelhas e bolhas pelo corpo, acompanhadas de coceira, que podem deixar cicatrizes permanentes, além de mal-estar, dor de cabeça, vômito e febre. Em adultos, os sintomas costumam ser mais graves.
Além do risco de novos surtos, a falta da vacina contra a varicela eleva a chance de sequelas futuras provocadas pelo herpes-zóster — doença causada pelo mesmo vírus, que pode permanecer “adormecido” no organismo por anos ou até décadas. Embora a vacina contra a catapora não elimine totalmente o risco de desenvolver herpes-zóster, ela reduz significativamente tanto a probabilidade quanto a gravidade das duas doenças.
“Geralmente a doença [herpes-zóster] acomete um nervo, concentra tudo em uma região, seja lombar ou facial, e dependendo da gravidade, se for na região ocular, por exemplo, pode causar cegueira”, explicou o enfermeiro Adalton Neto, membro da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm/MG), ao Estado de Minas em novembro do ano passado. Na época, o estado completava cinco meses sem a vacina contra a varicela.
Em resposta à reportagem, a SES-MG informou que o Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), é o responsável pela elaboração da política de vacinação do país, pela aquisição das vacinas do Calendário Nacional de Vacinação e pela sua distribuição aos estados.
"Dentre as vacinas ofertadas pelo PNI, a contra varicela é a que ainda não teve o fornecimento totalmente regularizado, mas grande parte desse desabastecimento vem sendo compensada com a vacina tetra viral. De acordo com o PNI, a previsão é de normalização dos estoques e repasse aos estados ainda no primeiro semestre de 2025", afirmou a pasta estadual.
Por sua vez, o Ministério da Saúde emitiu uma nota sobre os resultados a nível nacional do estudo. Sobre a vacinação contra a varicela, a pasta informou que “o cronograma de solicitação dos estados e municípios tem sido atendido conforme disponibilização do fornecedor. Neste ano, já foram entregues 2 milhões de doses e 1,7 milhão aplicadas.” O Ministério afirmou ainda que estão previstas novas remessas de doses da vacina contra varicela.
Falta de outras vacinas
Ainda de acordo com o estudo da CNM, a segunda vacina que tem mais relatos de falta em Minas é a contra Covid-19 para crianças, que seria a inativada XBB do laboratório Moderna, de acordo com 32 municípios. Em terceiro lugar, seria a contra Covid-19, sem especificações da faixa etária, em 31 municípios.
Em seguida, a falta da Tetraviral (Sarampo, caxumba, rubéola, varicela) em 20 municípios; dengue (Qdenga) em 19; Mpox (Varíola Bavarian Nordic) em 7; Meningocócica C em 7; e a DTP (Difteria, Tétano e Pertussis) em 6. Outros 9 tipos de vacinas foram citadas, mas os relatos tiveram menos de 5 municípios cada.
Sobre as demais vacinas, a Secretaria de Estado de Saúde informou que, em 2025, Minas Gerais superou a meta de cobertura vacinal em 13 das 19 vacinas do PNI e registrou índices superiores à média nacional e da Região Sudeste em 18 delas. De acordo com a SES-MG, os imunizantes com cobertura acima da meta preconizada pelo PNI são: BCG (90,26%), DTP (95,04%), Febre Amarela (104,31%), Meningo C (95,26%), Penta (95,03%), Rotavírus (92,64%), Hepatite A infantil (103,86%), DPT – 1º reforço (97,16%), Tríplice viral – 1ª dose (106,94%), Pneumo 10 – 1º reforço (103,25%), Polio injetável – VIP (99,74%), Meningo C – 1º reforço (103,69%) e dTpa adulto (117,56%).
Quanto à vacina contra a dengue, a secretaria informou que ela “ainda não está disponível para todos os municípios, sendo enviada apenas para aqueles selecionados pelo PNI, de acordo com critérios epidemiológicos, conforme notas técnicas publicadas pelo Ministério da Saúde.” Já a vacina contra a Covid-19 é ofertada conforme a disponibilidade de estoques do órgão federal. Entre os meses de abril e maio de 2025, a SES-MG recebeu 399.624 doses do imunizante para crianças e adultos.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “mantém cronograma de entrega de vacinas a todos os estados, que são os responsáveis pela distribuição nos municípios. O quantitativo é definido conjuntamente com os gestores locais. O Brasil registra aumento das coberturas vacinais em todo o país, resultado das ações de incentivo do Ministério da Saúde – como vacinação nas escolas e a volta das grandes mobilizações nacionais, como o Dia D de vacinação contra a gripe – e da garantia de abastecimento.”
A pasta também detalhou casos de algumas vacinas em específico, como Covid-19, que disse que em 2025, já foram entregues 11,6 milhões de doses para o público infantil e adulto, e aplicadas 3,9 milhões até o momento. Sobre a dengue, o Ministério da Saúde informou que adquiriu todo o quantitativo de doses disponibilizado pelo fornecedor, e, em 2025, foram distribuídas 1,9 milhão de doses e, deste total, 1,7 milhão foram aplicadas. O Ministério afirmou ainda que estão previstas novas remessas de doses da vacina contra dengue e “demais que compõem o calendário nacional de vacinação no país”.
A pesquisa
Ao todo, o estudo denominado contemplou 1.490 municípios do Brasil, o que corresponde a apenas 26% do total de municípios das unidades federativas do país.
De acordo com a Confederação Nacional de Municípios, o estudo busca identificar a persistência da falta de vacinas em cidades brasileiras com a intenção de que o Brasil “volte a ter altas e homogêneas coberturas vacinais”. A confederação afirma que o país tem enfrentado surtos de doenças que já haviam sido eliminadas com a vacinação e outras que correm risco de reintrodução, como a poliomielite.
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A CNM também informa que a pesquisa é para “apoiar os gestores municipais na oferta de saúde pública de qualidade para a população”. No entanto, a pesquisa não revela quais são os municípios que relataram falta de vacina.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Humberto Santos