ACOLHIMENTO

Uberlândia: hospitais deverão reservar área para mães que perderam bebês

Mulheres comentam importância da decisão do município no Triângulo Mineiro: "momento da dor precisa ser respeitado, assim como o momento do nascimento"

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A Prefeitura de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, sancionou nessa quinta-feira (8/5) uma lei que garante alojamentos separados para pessoas cuja gravidez resultar em aborto, óbito fetal ou perinatal nos hospitais municipais. A alteração do Código Municipal de Saúde quer proporcionar um ambiente que respeite a privacidade e o bem-estar psicológico às mulheres em situação de perda gestacional.

“O nascer e o morrer andam juntos. Está chegando um dia muito importante, o Dia das Mães, e muitas mães que sofreram perda neonatal ainda se sentem silenciadas e sem pertencimento”, explica Paula Beltrão, fotógrafa de família há 15 anos e cofundadora do Grupo Colcha, que há nove se dedica ao apoio à perda gestacional e neonatal. Paula explica que o momento da dor precisa ser respeitado, assim como o momento do nascimento.

Através da fotografia e do trabalho do Colcha, Paula busca oferecer acolhimento às famílias que passam por esse processo e explica que ninguém é preparado para um desfecho não favorável de um um nascimento.

Durante esses anos participando de partos, ela afirma que, por vezes, as equipes não sabem como lidar com essas mães. “A dor já é grande demais. Então, a gente não precisa causar mais traumas. É fundamental colocar essa mulher num quarto separado, dar a ela a possibilidade de ficar com o filho o tempo que for necessário, explicar a importância dela ter uma foto, tocar e conhecer esse bebê. Isso tudo cria uma ligação que vai muito além da morte. É uma ligação para a vida”, explica.

A médica obstetra Monica Nardy, que viveu a perda gestacional da segunda filha com 38 semanas e seis dias, confirma a necessidade da conscientização. “Acho que o que mais me dói foi a maneira que aconteceu a despedida, porque foi tudo muito rápido, eu não tive orientação de pegar minha filha, de abraçar, registrar, tirar uma foto. Eu não tenho uma mecha de cabelo, não tenho nada dela. E o que a gente defende é que quanto mais memória, mais saudável será o processo do luto”, relembra Mônica, que é uma das 280 mulheres do Grupo Colcha.

Paula e Mônica reforçam que a nova lei é um grande passo para garantir condições melhores a essas mulheres. Após a perda, permanecer em leitos próximos a outras mães, que irão retornar para casa com seus bebês, gera um sofrimento ainda maior.

Por isso, segundo elas, é necessário que, além de uma separação para acolhimento, também exista uma identificação que indique à equipe médica cuidado na abordagem.

“Já é uma situação muito constrangedora. Aquela mãe que perdeu um filho, ela está extremamente fragilizada e com sentimentos de culpa. Então ouvir o choro de outras crianças, ver outras mães comemorando, ser abordada por um profissional desavisado ou até mesmo se deparar com berço no quarto, ao retornar, tudo isso só torna a experiência mais difícil”, alerta Monica.

A obstetra também conta que sua experiência mudou totalmente sua abordagem médica com suas pacientes. Hoje ela prioriza e destaca a importância de um olhar cuidadoso na condução do pré-natal de alto risco e no acolhimento a mulheres que caminham com bebês com síndromes dentro da barriga, ou inevitavelmente vão perder os seus filhos, além da empatia exigida do profissional no momento da perda. 

“A vivência me trouxe uma certa autoridade no assunto. O médico, no momento do trauma, ele tem que ter esse olhar empático, valorizar o filho daquela mulher e oferecer uma despedida respeitosa com o tempo que ela julgar necessário”, reforçou a médica.

Paula Beltrão destaca que é fundamental a criação de um protocolo nas maternidades que oriente os profissionais e ofereça um processo de acolhimento inteligente. “Espaços e quartos separados para essas mulheres e, principalmente, uma simples pulseira ou qualquer outra maneira de identificação são detalhes que, para essas mães, mudam tudo”, explica.

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Monica Nardy também chama atenção para o protocolo médico, posterior à perda, e às técnicas diagnósticas para tentar descobrir o que aconteceu. “Mandar material genético do neném e da placenta para análise. Porque é um momento de oportunidade. Aquela mãe não vai ver aquele filho mais e, se a placenta vai para o lixo, ela não vai conseguir ser analisada e ficam muitas perguntas sem respostas, contribuindo ainda mais com o sentimento de culpa”, conta.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice 

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