Governo abre novos leitos em BH para conter pico de doenças respiratórias
João Paulo II, Júlia Kubitschek, Eduardo de Menezes e outras unidades da Fhemig recebem reforço com mais de 50 leitos
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Siga noEm um esforço para conter a pressão das doenças respiratórias sobre os hospitais, o governo estadual anunciou nesta sexta-feira (9/5) a abertura de mais de 50 novos leitos em Belo Horizonte. A expansão se soma a outras medidas já em curso para enfrentar o pico sazonal, que tem provocado superlotação e elevado número de internações, especialmente entre crianças e idosos.
As novas estruturas estão distribuídas no Hospital Infantil João Paulo II (10 leitos de UTI pediátrica), no hipercentro de BH; Hospital Júlia Kubitschek (10 leitos clínicos adultos e 10 leitos de UTI neonatal), no Barreiro; Maternidade Odete Valadares (10 leitos de cuidados intermediários neonatais), na Região Oeste e Hospital Eduardo de Menezes (10 novos leitos de UTI adulto), também no Barreiro.
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A expectativa da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) é de que o pico das doenças se estabilize nas próximas semanas. “Esse somatório vai aliviar, e muito, esse atendimento que deve durar poucas semanas e começar a cair”, disse o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, em comunicado, reforçando que o comportamento do surto respiratório está dentro do esperado. “O número de casos este ano não é diferente dos anteriores, não é fora do nosso esperado”, aponta.
Somente em abril, Minas registrou 8.499 internações por essas doenças, um aumento de 27% em relação a março, quando foram 6.671, conforme dados do Painel de Doenças Respiratórias da SES-MG. A maior parte dos internados pertence aos grupos mais vulneráveis: 5.045 idosos e 1.365 bebês.
Hospital infantil no limite
Em uma tentativa de se antecipar ao pico das doenças respiratórias, o governo de Minas abriu, ainda em março, 12 leitos semi-intensivos no Hospital Infantil João Paulo II, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A unidade, conforme mostrou a reportagem do Estado de Minas publicada nesta sexta, já não tinha mais leitos de internação até a expansão anunciada na tarde desta sexta-feira (9/5).
Com capacidade extrapolada em 120%, o hospital tem recebido a média de 400 atendimentos diários, enquanto lida com todos os leitos de CTI pediátrico ocupados, segundo informações repassadas pelo Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG). Em abril, 2.989 crianças de até 9 anos foram internadas no estado por doenças respiratórias, um salto de quase 70% em relação ao mesmo período do mês anterior, quando houve 1.763 hospitalizações.
Procurada pela reportagem, a Fhemig confirmou a sobrecarga no pronto atendimento da unidade, que atualmente recebe, em média, 190 pacientes por dia, um salto de 50% em comparação aos períodos fora da sazonalidade das doenças respiratórias. Só em abril, foram registrados 5.564 atendimentos. Em nota, a fundação destacou que “a equipe de acolhimento classifica e prioriza os casos mais graves, porém todos os pacientes são assistidos”.
Servidores ameaçam greve
Em meio à pressão crescente sobre o sistema de saúde, servidores da Fhemig saíram às ruas, na manhã desta sexta-feira (9/5), para cobrar do governo estadual valorização profissional e condições dignas de trabalho. A manifestação teve início em frente ao Hospital João XXIII, no bairro mais sobrecarregadas de Belo Horizonte, e seguiu em passeata até a Praça Afonso Arinos, no Centro da capital.
O protesto, liderado por sindicatos da categoria, ocorre em um momento crítico para a rede estadual que enfrenta superlotação, escassez de materiais básicos e um número insuficiente de profissionais em plena temporada de doenças respiratórias, que lotam emergências e pressionam ainda mais os já fragilizados hospitais.
Neuza Freitas, presidente do Sindicato Único dos Servidores da Saúde de Minas Gerais (SindSaúde-MG), foi enfática ao afirmar que a categoria já se mobiliza para um movimento mais amplo. “Estamos em pré-aquecimento para a greve. O governo pode brincar com o que quiser, menos com a saúde de Minas Gerais”, disse. Ela também cobrou responsabilidade do Estado diante da crise: “Diferente do governo, nós sabemos o que é cumprir a lei. Estamos aqui, nas ruas, mas garantindo o atendimento mínimo à população.”
“Essas condições de trabalho não só nos prejudicam como comprometem diretamente a assistência aos pacientes”, completou Carlos Augusto dos Passos Martins, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da rede Fhemig (Sindpros). Segundo ele, o governo do estado tem se mostrado indiferente aos apelos da categoria. “O que queremos é o mínimo: estrutura e respeito”, afirma.
As demandas dos manifestantes incluem a reposição das perdas salariais acumuladas pela inflação – estimadas em 4,6% – e a contratação de mais profissionais para dar conta do volume crescente de atendimentos. Segundo Carlos Augusto, a defasagem de pessoal é agravada pela ampliação dos serviços oferecidos pelo hospital, sem que houvesse reforço proporcional na equipe.
A mobilização é um desdobramento das tensões que se arrastam desde o início do ano. Em 22 de abril, trabalhadores do João XXIII realizaram uma paralisação parcial em protesto contra o fechamento do bloco cirúrgico do vizinho Hospital Maria Amélia Lins (HMAL), medida anunciada ainda em janeiro. Na ocasião, apenas os atendimentos de urgência e emergência foram mantidos, em cumprimento à legislação que prevê escala mínima em serviços essenciais.
Doenças respiratórias em Minas
No total, Minas Gerais registrou 26.786 internações por doenças respiratórias de janeiro a abril de 2024, o que motivou o decreto estadual de emergência na sexta-feira (2/5). Como parte das medidas emergenciais anunciadas após a medida, a Fhemig abriu no dia seguinte vagas emergenciais para contratar 27 profissionais para o João Paulo II e o HPS João XXIII, incluindo sete pediatras. Também foram abertas outras 83 vagas para unidades da fundação na capital.
Até o momento, oito cidades do estado já decretaram situação de emergência em saúde pública devido ao aumento de casos de doenças respiratórias: Belo Horizonte, Betim, Contagem, Pedro Leopoldo, Santa Luzia, Ribeirão das Neves, Sete Lagoas e Conselheiro Lafaiete.
Desde abril, o estado também opera a Sala de Monitoramento de Vírus Respiratórios, uma estrutura técnica que, segundo o executivo estadual, permite tomada de decisões rápidas nas áreas de vigilância, assistência e vacinação. O esforço se estende ao Comitê Estadual de Vírus Respiratórios, que reúne quinzenalmente especialistas e gestores da saúde pública para acompanhar a evolução dos casos e avaliar a efetividade das medidas adotadas.
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Paralelamente, desde outubro do ano passado, a SES-MG mantém um trabalho conjunto com os municípios para capacitar equipes, distribuir materiais técnicos e preparar a rede de atendimento para o aumento esperado durante o outono e o inverno. "Mandamos os recursos para arboviroses e doenças respiratórias já no final de 2024, para que os municípios se preparassem", afirmou o secretário de Estado de Saúde.