Abrace a Serra da Moeda: ONG prepara mais um protesto em defesa da natureza
Ato simbólico acontece há 18 anos para alertar sobre as ameaças ambientais, sociais e hídricas de megaempreendimentos na região de Brumadinho, na Grande BH
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Siga noA ONG Abrace a Serra da Moeda convida para um protesto no alto do maciço montanhoso, em alerta sobre a importância de defender os recursos hídricos e nascentes da região. O próximo ato, realizado há 18 anos para chamar a atenção sobre a ameaça representada por grandes empresas e mineradoras à natureza local, está marcado para a próxima segunda-feira (21/4), a partir das 10h, na rampa de voo livre, no Topo do Mundo, em Brumadinho, na Grande BH.
Desta vez, com o tema A água nos une, juntos pela vida, a expectativa é reunir três mil pessoas. Como de costume, às 12h os participantes formarão um cordão humano no ponto mais elevado da serra, simbolizando o abraço. O ato busca reforçar, junto à população e às autoridades, os perigos ambientais, sociais e hídricos causados pela presença de empreendimentos na região.
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Estão previstas também apresentações culturais regionais, como a participação do Rei Batuque, cantor da comunidade quilombola de Marinhos. Ônibus gratuitos sairão de diversas regiões do município com destino ao ato.
O protesto acontece sempre em 21 de abril, data que marca a luta dos mineiros contra a exploração injusta das riquezas do estado, como explica a advogada ambientalista e presidente da ONG, Beatriz Vignolo. No dia em que se lembram os 236 anos da Inconfidência Mineira, o ato se fortalece em defesa da Serra da Moeda, cenário de muitos fatos históricos e testemunha das ameaças aos recursos naturais.
Beatriz afirma que a atividade minerária continua sendo um dos maiores riscos para toda a biodiversidade da cadeia montanhosa, que passa por vários municípios, entre eles Belo Vale, Brumadinho, Itabirito, Nova Lima e Rio Acima. “Duas minas, em especial, nos causam grande preocupação. A primeira delas é a Serrinha, que teve suas atividades de lavra suspensas há mais de 20 anos. Porém, em 2019, a Vale adquiriu os direitos minerários do complexo. Seu projeto de reativação pode rebaixar o lençol freático da Mãe D’Água, principal nascente que abastece as comunidades da encosta da serra, como Córrego Ferreira, Palhano, Recanto da Serra, Águas Claras, Jardins e Retiro do Chalé.”
Já a Mina Pau Branco, da Vallourec, segundo Beatriz, teve sua produção quadruplicada, intensificando os impactos ambientais. “Hoje, a comunidade de Piedade do Paraopeba enfrenta riscos com a barragem Santa Bárbara, cuja área de inundação inclui escola infantil e locais de grande importância histórica.”
A ambientalista lembra que o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) contratou o Departamento de Geologia da UFMG para realizar um estudo hidrogeológico na Serra da Moeda. Dois desses estudos, apresentados em 2023, concluíram que, entre 1999 e 2019, houve um rebaixamento médio de 90 metros no aquífero Cauê. Estima-se que, até 2039, caso não sejam adotadas medidas pelos órgãos ambientais, o aquífero possa sofrer um rebaixamento adicional de 10 metros. Os estudos também são categóricos ao afirmar que a retirada de água do aquífero supera significativamente sua recarga natural.
Solução ineficaz
A 18ª edição do Abrace a Serra da Moeda também continuará alertando sobre um impacto antigo na região, causado pela fábrica da Coca-Cola, instalada há mais de uma década. Localizada em Itabirito, às margens da BR 040, a multinacional extrai mais de 2 milhões de metros cúbicos de água das nascentes por mês para suprir a demanda de seus poços. Como resultado, comunidades como Suzano e Campinho, em Brumadinho, já enfrentam um cenário de escassez hídrica. Os moradores de Campinho, inclusive, recebem, desde 2015, 40 mil litros diários de água, fornecidos via caminhões-pipa da empresa, para abastecerem suas casas.
Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi firmado há cerca de um ano entre o Ministério Público, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Itabirito (SAAE), a Coca-Cola e a Prefeitura de Brumadinho, com o objetivo de minimizar os impactos da captação de água na Serra da Moeda. No entanto, o acordo, conforme a presidente da Abrace a Serra, apresenta falhas graves.
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“A compensação financeira pelo dano ambiental fixada pelo Ministério Público foi de R$ 800 mil. No entanto, o recurso pode ser captado por entidades de fora de Brumadinho, o que prejudica o protagonismo local. Além disso, o TAC não garante que a população afetada será ouvida no processo.” A ambientalista também denuncia que o prazo de um ano para que a Coca-Cola apresente alternativas locacionais para a captação de água está vencendo, sem que haja notícias do cumprimento dessas medidas.
Megaempreendimento ameaça aquífero
O protesto também destaca problemas iminentes que podem ser causados por um megaempreendimento imobiliário planejado para 200 mil pessoas, que pretende captar água do aquífero local, o CSul Lagoa dos Ingleses. “A licença ambiental deste complexo, cuja população será bem maior que a de muitas cidades mineiras, foi concedida sem qualquer estudo de impacto hídrico, e sua legalidade está sendo questionada por nós e pelo Ministério Público. Atualmente, aguarda-se uma decisão judicial sobre a realização de perícia técnica”, destaca Beatriz. "Enquanto os lucros dessas corporações são privatizados, os prejuízos, infelizmente, recaem sobre a sociedade", acrescenta.
Transporte
Serão quatro ônibus disponíveis para levar os interessados ao local do protesto, cada um com capacidade máxima para 48 pessoas. A organização solicita o comparecimento 10 minutos antes do horário de embarque. Dois ônibus sairão do Centro de Brumadinho, com parada e partida na rodoviária, a partir das 8h; outro partirá, também às 8h, da comunidade quilombola São José do Paraopeba; e o último sairá de Suzano Campinho, às 8h30.
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Abrace a Serra da Moeda
21 de abril, segunda-feira, a partir das 10h
O abraço simbólico acontece pontualmente ao meio-dia
Na rampa de voo livre, no Topo do Mundo, em Brumadinho