DEGRADAÇÃO EM OURO PRETO

Justiça mantém suspensão das atividades de mineradora que destruiu caverna

Juíza recusou pedido do Ministério Público para liberar parcialmente a atividade da empresa em Ouro Preto, na Região Central de Minas

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A Justiça de Minas Gerais decidiu manter a suspensão total das atividades da Patrimônio Mineração LTDA, acusada de soterrar ilegalmente uma caverna na zona rural de Ouro Preto, na Região Central do estado. A decisão, publicada nessa segunda-feira (15/4), rejeitou o pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para flexibilizar a paralisação.

O pedido do MP pretendia permitir o retorno parcial das operações em áreas fora de um raio de 250 metros da caverna destruída, sob o argumento de preservação de empregos e arrecadação de impostos. No entanto, a juíza Ana Paula Lobo Pereira de Freitas, da 2ª Vara Cível de Ouro Preto, considerou que há um “cenário de graves irregularidades ambientais”, incluindo a omissão de outras formações geológicas não mencionadas no processo de licenciamento da mineradora.

A atividade da empresa está suspensa há dez dias. Segundo a decisão, o auto de fiscalização aponta uma série de falhas, como a ausência de comunicação aos órgãos ambientais sobre a descoberta – ainda que fortuita – da caverna, e o avanço deliberado da mineração sobre a área, com a justificativa de que se tratava de um ponto de maior interesse para extração.

“As mencionadas irregularidades ganham contornos ainda mais obscuros, diante da notícia da existência de outras infrações antes não relacionadas em exordial“, escreveu a magistrada. Também pesaram na decisão relatórios técnicos que comprovam a destruição irreversível da cavidade e a omissão de espécies ameaçadas nos estudos ambientais.

A juíza determinou ainda que a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) apresentem, em até cinco dias, todos os autos de infração lavrados contra a empresa. Enquanto isso, a mineradora segue proibida de movimentar solo, operar maquinário ou escoar minério na área embargada, sob pena de multa de até R$ 1 milhão.

As fiscalizações mais recentes também revelaram a existência de uma segunda caverna não informada pela empresa, além de falhas no sistema de drenagem e sumps (estruturas responsáveis por conter sedimentos), que estariam em estado precário.

A manutenção do embargo ocorre após uma reviravolta no caso, quando o próprio Ministério Público, que inicialmente havia solicitado a paralisação total da mineradora, passou a defender uma retomada parcial das operações, alegando riscos de prejuízo à arrecadação pública e aos empregos gerados pela atividade. A Justiça, no entanto, não acatou a mudança de posição.

A destruição da caverna

A destruição da caverna veio à tona no dia 21 de março, quando moradores da comunidade de Santo Amaro do Botafogo, distrito de Ouro Preto vizinho ao empreendimento, avistaram escavadeiras removendo terra e rochas na direção da formação rochosa. Alertada, a Polícia Militar de Meio Ambiente foi até o local e ordenou a interrupção imediata dos trabalhos.

No dia seguinte, durante um novo sobrevoo, ambientalistas e moradores constataram que a caverna havia sido completamente demolida. No lugar dela, surgira uma estrada. A notícia provocou revolta na comunidade, que organizou um protesto e bloqueou a BR-356, a Rodovia dos Inconfidentes.

Em 24 de março, uma vistoria técnica da Feam confirmou que os documentos de licenciamento apresentados pela mineradora, incluindo o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), não mencionavam a existência de cavernas na área. Um auto de infração foi lavrado, e foi estabelecido um raio de embargo de 250 metros a partir do ponto central da caverna destruída.

Apesar da omissão nos documentos principais de licenciamento, a reportagem do Estado de Minas revelou que um relatório de arqueologia entregue pela mineradora ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconhecia a presença de duas cavernas na área, separadas por apenas 50 metros.

Mesmo com o embargo já em vigor, a reportagem do Estado de Minas flagrou movimentações da mineradora nos dias 26 e 27 de março nas proximidades do local onde a caverna foi soterrada.

A destruição do patrimônio natural provocou indignação em entidades como a Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) e a Sociedade Brasileira de Arqueologia (SBA), que emitiram notas de repúdio e formalizaram denúncias. Ministérios públicos Estadual e Federal também abriram investigações. A Polícia Federal foi acionada para apurar os danos ambientais e possíveis crimes cometidos pela empresa.

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