x
OPERAÇÃO CONJUNTA

Blitz confirma risco crônico em clínicas de estética

Vigilância Sanitária detecta de medicamento vencido a reutilização de agulhas em empresas de BH, interdita uma e lavra autos de infração contra quatro. Setor é

Publicidade
Carregando...

Uma clínica de estética foi interditada em Belo Horizonte e outras quatro receberam auto de infração durante operação conjunta que envolveu as vigilâncias sanitárias da capital e de Minas Gerais, além da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os alvos da ação ficam nas regiões Centro-Sul, Leste e Noroeste da cidade. Os trabalhos tiveram início na terça-feira (11/2) e terminaram ontem. Os resultados da operação, realizada também em outras quatro cidades do país, expõem um quadro crônico já detectado em dados apresentados pelo governo federal, que apontam o setor de serviços de estética e embelezamento como o mais denunciado entre as prestações de “interesse à saúde”. A ação ocorreu também em Brasília (DF), Goiânia (GO), São Paulo (SP), Osasco (SP) e Barueri (SP).


Conforme números do último relatório de Denúncias em Serviços de Interesse para a Saúde, da Anvisa, em 2023, 61,3% das reclamações enviadas à agência estavam relacionadas ao tipo de serviço alvo da operação. Além disso, a pasta sinaliza que os dados demonstram que a grande quantidade de estabelecimentos disponíveis e a diversidade de técnicas e procedimentos estão ligadas à quantidade de irregularidades denunciadas.

Ao Estado de Minas , a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte informou que as vistorias encontraram irregularidades, como falta de documentação e uso de produtos sem registro e com rotulagem inadequada – impedindo a verificação de sua procedência e composição –, medicação vencida, além de ambiente de esterilização de utensílios em desconformidade com a legislação sanitária. Na clínica fechada, os fiscais encontraram, além de anestésicos vencidos e sem data de validade, fios e cânulas sem registro na Anvisa, usados em procedimentos invasivos. Outro estabelecimento da capital mineira tinha instrumentos de uso único para microagulhamento da pele sendo reutilizados e com restos aparentes de sangue.


Ao todo, seis espaços foram vistoriados. Desses, em cinco foram encontrados medicamentos e produtos que não estavam de acordo com as normas sanitárias para devido descarte. Além disso, a Central de Esterilização de uma das clínicas também foi interditada. De acordo com a Prefeitura de BH, a clínica poderá continuar suas atividades desde que não faça o serviço da Central.

Em 2024, a Vigilância Sanitária da capital mineira lavrou sete multas e interditou três clínicas de estética. As principais irregularidades encontradas foram a falta de documentação, uso de produtos sem registro, medicação vencida, ambiente de esterilização de utensílios em desconformidade com a legislação sanitária e reutilização de insumos de uso único. “As denúncias para a Vigilância Sanitária devem ser feitas por meio dos canais oficiais de atendimento que a prefeitura disponibiliza, sendo o Portal de Serviços ou o telefone 156”, informou a pasta.

Fiscal verifica regularidade de produto usado em um dos espaços de estética e embelazamento

Fiscal verifica regularidade de produto usado em um dos espaços de estética e embelazamento

Anvisa/Divulgação

Irregularidades no país

A operação que resultou na interdição de um estabelecimento em BH, também levou ao fechamento de outro espaço em Goiânia. Outros três sofreram interdições parciais devido às irregularidades: dois na capital paulista e um em Brasília. De acordo com a Anvisa, entre os problemas identificados pelas equipes está o uso de produtos sem registro para comercialização e aplicação no Brasil e medicamentos manipulados em grande escala por farmácias, que não podem funcionar como fábricas.

Na capital paulista, toxinas botulínicas foram encontradas armazenadas sem controle de temperatura e vencidas. Em uma clínica de Osasco, havia mais de 300 ampolas de produtos injetáveis em condições impróprias para uso. Já em Goiânia foram apreendidas embalagens de fenol abertas e vencidas, sendo que esta substância teve o uso para fins estéticos suspenso no Brasil pela agência reguladora.

“Havia também estabelecimentos realizando procedimentos invasivos sem possuir autorização para tal atividade ou sem profissional de saúde habilitado. Eventuais irregularidades relacionadas à habilitação profissional serão notificadas aos conselhos profissionais, que são os órgãos responsáveis pela fiscalização do exercício profissional no Brasil”, informou a Anvisa.

Outra irregularidade recorrente encontrada pelos fiscais foi a ausência de protocolos de segurança do paciente e de procedimentos para gerenciar riscos do uso de medicamentos, equipamentos e produtos para a saúde e realizar gerenciamento de resíduos, além da inexistência de prontuários para registrar a evolução dos pacientes ou eventuais intercorrências. “Alguns estabelecimentos não possuíam nem mesmo pias para lavagem das mãos ou faziam a assepsia dos equipamentos em banheiros de uso comum. Futuramente, no decorrer do processo sanitário, as empresas autuadas, além de pagar multas, devem receber penalidades que podem variar de advertência a cancelamento de autorização e de licença, de acordo com os termos da Lei 6.437/1977”, apontou a Anvisa.

A fiscalização vistoriou seis estabelecimentos em Belo Horizonte e outros na capital paulista, Osasco, Barueri, Brasília e Goiânia
A fiscalização vistoriou seis estabelecimentos em Belo Horizonte e outros na capital paulista, Osasco, Barueri, Brasília e Goiânia Anvisa/Divulgação


De olho na segurança


Para orientar a população sobre os perigos gerados por procedimentos estéticos em locais irregulares, a Anvisa criou uma cartilha com recomendações a pacientes. Segundo o órgão, é importante desconfiar de promessas milagrosas ou que garantam resultados, bem como de preços praticados muito abaixo da média de mercado. A agência recomenda que a pessoa consulte, junto à Vigilância Sanitária da cidade, se o estabelecimento dispõe de alvará e licença válida.

Além disso, é indicado que antes do procedimento se confira nos conselhos profissionais as credenciais dos especialistas. A Anvisa enfatiza ainda que esteticistas não podem utilizar medicamentos em suas atividades. O uso é restrito aos cosméticos, ou seja, produtos de uso externo. “Outra dica é sempre perguntar quais produtos estão sendo aplicados e, com os dados em mãos, conferir a regularidade deles”.

“Pesquise avaliações na internet e converse com outras pessoas sobre os prestadores de serviços. Ligue o sinal de alerta ao se deparar com alguma das seguintes situações: reclamações de clientes ou pacientes; promessas de tratamentos revolucionários ou soluções milagrosas, sem riscos, com resultados rápidos e 100% garantidos; procedimentos e produtos com preços muito abaixo dos praticados no mercado; dificuldade para marcar uma avaliação prévia ou para conhecer o local; profissional não esclareceu suas dúvidas ou não transmitiu segurança ao responder”, enumera ainda a cartilha.

Para a Anvisa, a população deve ficar atenta também a conteúdos veiculados em redes sociais. De acordo com a agência, um procedimento indicado para um paciente não é aplicável a toda e qualquer pessoa. “Além disso, o influenciador, contratado para a captação de novos clientes, não conhece as particularidades do quadro de saúde de cada pessoa. Se há dúvidas quanto ao tratamento a escolher, o ideal é procurar um profissional de saúde habilitado para avaliar o caso”.


Erro médico e morte

Em agosto de 2024, o cirurgião-dentista Fernando Lucas Rodrigues Alves foi alvo de operação da Polícia Civil durante o inquérito que apurava denúncias de lesão corporal causada em pacientes. Na época, como já divulgado pelo Estado de Minas, ao menos 20 pacientes denunciaram o profissional por sequelas decorrentes de procedimentos estéticos feitos na unidade odontológica no Bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte.

Além disso, a corporação investiga o envolvimento do homem com a morte de uma mulher de 63 anos, em decorrência da prática de procedimentos estéticos vedados pela Resolução do Conselho Federal de Odontologia. Fernando também é investigado em outro inquérito por suspeita de violação sexual mediante fraude, que transcorre na Delegacia Especializada de Combate à Violência Sexual na capital.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

Além da senhora que perdeu a vida, outras mulheres denunciaram o especialista por sequelas causadas pelos procedimentos. A aposentada da Polícia Civil Adriene Silva, de 59 anos, contou à época que fez cinco procedimentos no rosto de uma só vez. Ela queria fazer apenas um, mas foi convencida por ele a fazer os demais porque o pacote ficaria mais barato.

Os procedimentos foram feitos em 5 de dezembro de 2023. Um dia após as intervenções, a paciente observou que seu pescoço estava muito inchado, cheio de líquido. “Eles chamam isso de seroma.” Ela diz que entrou em contato com o dentista e foi orientada a fazer drenagem com uma massoterapeuta indicada por ele. A profissional, porém, se recusou a fazer o procedimento por causa do excesso de líquido no pescoço.

A Central de Esterilização de uma das empresas vistoriadas foi interditada por estar em desconformidade com as normas
A Central de Esterilização de uma das empresas vistoriadas foi interditada por estar em desconformidade com as normas Anvisa/Divulgação

A aposentada então reclamou da situação com a enfermeira e, no dia da retirada dos pontos, foi feita uma punção, para drenar o líquido. Adriene ressalta que o procedimento não foi feito pelo cirurgião-dentista e sim por uma enfermeira e outro profissional que a paciente não sabe se tem formação adequada. Ela precisou passar pelo procedimento de retirada do líquido por três vezes. A paciente teve fibrose no rosto e pescoço.

“Fiquei com um problema nos olhos. Ficam como se tivesse areia dentro. O direito me incomoda na parte superior e o esquerdo na inferior. Além disso, apareceram duas aderências, que nada mais são do que dois buracos no meu rosto, desde o dia da cirurgia”, relatou.

Na época das investigações, a Polícia Civil informou que as denúncias motivaram uma intervenção do Conselho Federal de Odontologia (CFO) na entidade regional. O órgão decidiu pelo afastamento de todos os membros da diretoria do conselho regional da categoria. A decisão foi publicada no “Diário Oficial da União”.

No texto, a entidade nacional afirmou que durante investigação ficaram constatados atos de improbidade administrativa cumulados com mau uso de verba pública, enriquecimento indevido de bens e propriedades do CRO-MG, descumprimento de resolução do CFO. Essas práticas acarretaram “prejuízos à integridade física e à vida dos pacientes, violação aos princípios constitucionais da legalidade e impessoalidade, denúncias de assédio moral e sexual sofridas por funcionários daquela entidade, além das implicações morais e éticas decorrentes das condutas exercidas pelo presidente daquela autarquia regional”, diz um trecho do documento.

Tópicos relacionados:

anvisa clinica estetica medico saude vigilancia

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay