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De natureza natural: evento em BH anda devagar para celebrar o autoral

Quermesse da Mary, em sua primeira edição de Natal, vai na contramão da correria diária. Produtos para presentear no fim de ano têm cuidado em cada detalhe

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Em um mundo cada vez mais digital e acelerado, em que o novo é descartado em favor do mais recente, a tecnologia dita a velocidade das tendências e a produção em massa pasteuriza o que é consumido, surge um contraponto. Seja moda, arte, artesanato ou gastronomia — a pequena escala representa uma âncora para o tangível e o autêntico. Esse é um grito necessário frente à frieza das telas, como uma pausa na corrida incessante por eficiência e quantidade.

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Cada ponto costurado à mão, cada pincelada na tela, cada ingrediente selecionado com esmero, têm a marca do tempo dedicado e da intenção do criador. A verdadeira preciosidade está em carregar memórias e contar histórias. Diferente dos objetos fabricados em nível industrial, que frequentemente carecem de alma e propósito, além da função imediata, esses artefatos são veículos de narrativa. Convidam a desconectar e a reconhecer o esforço humano, a habilidade transmitida por gerações e a paixão investida no processo criativo.

Longe do que é vazio de significado, o que se faz de pequeno, e com as mãos, se torna ato de resistência poética. Contra a uniformidade engessada que domina o mercado, ao optar por um item de um pequeno produtor, o consumidor está investindo em um pedaço de cultura local, em um modelo de negócio sustentável e, sobretudo, em algo que tem profundidade. É o singular sobre o serial, o humano sobre o mecânico, provando que, mesmo na era da inteligência artificial, o toque artesanal ganha uma importância em particular.

É o norte da Quermesse da Mary, que volta à cena em Belo Horizonte para a primeira edição de Natal, entre essa sexta-feira e domingo (7 a 9/11), no antigo showroom da designer Mary Arantes, na Serra. "Cada vez mais percebo o significado da Quermesse e o que temos vivido em tempos de tecnologia de 'ponta'. Ponta fria, na verdade, onde nos perdemos em milhares de sites e instagrans, com ofertas imperdíveis e descartáveis. Produtos que não sustentam nossos sonhos. Para sustentar venda e sonhos precisamos de produtos com histórias verdadeiras", diz a designer.

Com o tema “de natureza natural”, a Quermesse rema contra essa maré. O movimento é por algo que é gerado pela própria natureza, sem intervenção humana ou com o mínimo dela. "Especialmente nesta edição, o natural e a natureza ganham foco na grande maioria dos produtos", conta Mary.

Com 42 expositores, estão no cardápio joias, bijuterias e acessórios, itens de moda e design, cerâmica, flores preservadas, almofadas, arte têxtil, bonecos em tecido, madeira e marcenaria, bem-estar e saboaria, cerâmica, e outros artigos para a casa. "Tenho sempre mais interesse em entender esses trabalhos, ser mais assertiva na curadoria, nas escolhas feitas, e sobre quem participa, de forma a ter sempre coisas diferentes", diz Mary, sobre o time de criativos que reúne nomes já conhecidos e outros que estreiam no evento, com a oportunidade de serem vistos.

Com a proximidade do fim do ano (ainda tem Quermesse em dezembro), Mary conta que se incomoda com as referências natalinas que vêm dos Estados Unidos ou da Europa. Longe do vermelho, do verde, das estrelas e do Papai Noel tão caricato, enaltecer o que é feito no Brasil é a intenção. "Temos uma cultura tão forte, e precisamos olhar para isso, sem estereótipos. Mostrar produtos que podem ser usados o ano todo, e não apenas uma única vez", conta.

Outro ponto que identifica a Quermesse, segundo Mary, é o mix intergeracional, de produtores e da clientela - no coletivo de criadores, os estreantes estão ao lado de mestres. Os que têm produtos para um dia de evento revezam com quem tem peças para dois, até que ambos possam experimentar todo o período da Quermesse - um respeito ao tempo e ao limite de produção. "Entre os idosos, os mais novos e os colecionadores, a Quermesse acolhe a todos como se estivessem em casa."

Para enfeitar a porta de entrada, as guirlandas de Liciana Bayer, em seu batismo na Quermesse, são feitas em flores, frutos e folhas preservadas. As flores desidratadas, assim também chamadas, são uma maneira sustentável de se ter flores, sem necessidade de substituição constante, além da alta durabilidade. Liciana as utiliza em estado mais natural possível, criando composições únicas de espécies e cores, imprimindo aos arranjos e guirlandas sofisticação e aconchego.

O ateliê Omaia, de Marcelo Maia, artista de São Gonçalo do Rio das Pedras, surge com a coleção de flores,  cactos e frutos do cerrado, feitos em bambu, continuando a linha de produção do autor, que já apresentou no encontro pássaros e lobos guará. Suas obras são essencialmente leves e sustentáveis. Os objetos são marcados pela poesia e pela conexão com a natureza e o bem viver, tendo no bambu um ente, elemento de ligação entre céu e terra, sagrado e profano.

Gregory Martins e Comflô
Gregory Martins e Comflô Quermesse da Mary/Divulgação

De Caraí, no baixo Jequitinhonha, Gregory Martins participa com seus instrumentos de bio percussão, que respeitam o ritmo da natureza. O caroço de manga é aproveitado depois da fruta do pé cair e secar, assim como o coquinho colhido depois que o animal lhe tece um buraco, sem o qual o instrumento não ecoa o mesmo som. O artista utiliza madeira, bambu, fios, fibras, couro e sementes para criar tambores, chocalhos, pau de chuva, entre outros. Além de objetos sonoros, seus trabalhos podem e devem ser usados como decorativos e escultóricos.

A Comflô comparece com seus seres mágicos, entre fadas, coelhos e bonecas artesanais em tecido, concebidos por Andrea Batista, moradora na Floresta Uaimí, unidade de conservação localizada no distrito de São Bartolomeu, do município de Ouro Preto. Andrea carrega a certeza de que a verdadeira magia está nas coisas simples, na conexão com a terra e no amor incondicional — e segue criando, vivendo e inspirando no conto de fadas que escolheu para si.

A associação de mulheres Indaiá Artesanato, de Antônio Dias, mostra pássaros, tatus, almofadas, chapéus, bolsas, cestos e bonecas confeccionados em fibra natural. O fazer da trança da palha do coqueiro Indaiá é um saber centenário, passado de mãe para filha, no município. São mulheres que fazem do trançar uma forma de resistência e sobrevivência. A inovação nos processos de criação possibilita o compartilhamento de ideias, histórias e tradições. Hoje o projeto Indaiá, coordenado por Maria Cloenes, conta com mais de 40 mulheres artesãs, de várias localidades da cidade.

Indaiá Artesanato e Guimeiros
Indaiá Artesanato e Guimeiros Quermesse da Mary/Divulgação

A alagoana Tassila Guimarães vem com bolsas de palha revestidas de crochê. Artesã apaixonada, que carrega o Nordeste nas veias e nas mãos, de Maceió para Belo Horizonte, traz consigo as lembranças do mar, das rendas e das cores que dançam nas feiras e nas janelas de sua terra. Guiada pelas cores, texturas e tradições, que se misturam ao toque contemporâneo de quem sonha com um mundo mais artesanal, com a Guimeiros transforma materiais em peças com alma: estruturadas, modeladas com cuidado e repletas de significado.

Da natureza e o natural

Na mesma pegada de resgate e reaproveitamento de matéria-prima, a ourives Ana Queiroz e suas peças feitas em retalhos de madeiras nobres, e a joalheira Luciana Figueiredo, da Raiz Ateliê Botânico, com sementes, frutos e madeiras unidos à prata reciclada,  marcam presença. As duas de Sabará, trabalham a ourivesaria com pequenos fragmentos que certamente seriam descartados por marcenarias.

Ourives autodidata e mestre em marchetaria, Ana Queiróz traz joias criadas a partir da reutilização de mínimos recortes de madeiras nobres, usados pelo pai, que é luthier. Inspirada pela história da exploração do ouro que a rodeia, surgiu a coleção que faz uma releitura das joias de crioula, usadas por mulheres negras e mestiças libertas dos séculos 18 e 19, a primeira joalheria autêntica brasileira. Concebe joias que simbolizam o sincretismo religioso. Ana faz agora uma nova coleção em alusão às famosas joias de coco e ouro, que teriam surgido em Diamantina no período barroco.

Ourives Ana Queiroz  Raiz Ateliê Botânico
Ourives Ana Queiroz Raiz Ateliê Botânico Quermesse da Mary/Divulgação

Para Luciana Figueiredo, o universo botânico não é apenas fonte de inspiração, mas também de matérias-primas, elementos naturais que dão vida a acessórios que homenageiam os biomas brasileiros, sobretudo o cerrado mineiro. Em peças únicas e autênticas, elaboradas de forma artesanal e sustentável, cada criação carrega consigo histórias do território, respeito ao meio ambiente e o propósito de reconectar pessoas à beleza e à riqueza do natural.

De São Paulo, Beth Tokitaca, também faz joias  com elementos naturais.Com base em prata e ouro, o trabalho se define em  dois tipos de linguagem: joias cujos complementos são pedras de diversos padrões, lapidadas ou brutas, e orgânicos, como a madeira, chifre, entre outros, esculpidos manualmente, ou as peças étnicas, com penas e releituras de ornamentos indígenas, conjugadas com fibras naturais, couro, e outros elementos. Na Quermesse, ela mostra a linha de joias étnicas, trazendo muitas cores e modelos.

Beth Tokitaca e Petchó Silveira
Beth Tokitaca e Petchó Silveira Quermesse da Mary/Divulgação

Beth estreia no evento, assim como Petchó Silveira. O artista, de Belém do Pará, pinta personagens negros e marginalizados em papelão - o mesmo papelão que lhes serve de cama, lençol, blusa de frio, casa. Sua linguagem artística é o retrato da região onde mora, parte de observações do seu cotidiano. Ele traz essas pessoas para a visibilidade, em pinturas que têm também muito sobre o racismo e a violência que as pessoas pretas sofrem.

Do barro

Na cerâmica, Marú Rivera, chilena que imprimi em suas obras a identidade do seu povo, participa pela primeira vez da Quermesse. Sua pesquisa entrelaça as artes gráficas à modelagem em argila, concebendo peças autorais utilitárias e decorativas, que caminham entre o funcional e o simbólico. As criações resgatam traços da cerâmica pré-colombiana, celebram a mineiridade e reverenciam a cultura popular latino-americana. Tudo isso em formas únicas, com cores vivas, figuras antropomórficas, geometrias, natureza e cotidiano - um universo eclético e poético.

Maru Rivera e Ateliê Cerâmica Artesanal
Maru Rivera e Ateliê Cerâmica Artesanal Quermesse da Mary/Divulgação

O Ateliê Cerâmica Ancestral, que eleva em argila as entidades do candomblé, bem como signos da identidade mineira, também começa na Quermesse. Cada criação reflete a paixão pela cerâmica e o amor pela ancestralidade, daí o  nome da marca de Carlos Henrique Pereira Lima. O artista trabalha a argila  com o coração, dando forma a manifestações religiosas, a fauna e flora brasileira, e a cultura popular.  No barro e no fogo, resgata as raízes brasileiras, em reconexão com a própria essência.  

Do corpo, com alma

As roupas na Quermesse prezam pelo uso de tecidos sustentáveis, linho e algodões, e tingimentos naturais. Sem falar do reuso. Laura, Lau, Lalau ou Lá. Não importa. Para ela,  moda é comportamento social, identidade, expressão de mundo, um modo de comunicar sem palavras. Com os garimpos do brechó da Lalau, Laura Alves Lima mostra como o que se veste carrega códigos, mensagens, nichos e pertencimentos.

Mais que estética, para Lalau a moda é política, empodera e transforma - e é necessária. Ela trata a moda como brincadeira, sem rigidez - toda produção é feita de tentativas, com erros e acertos. Um fazer fluido e natural para acontecer com leveza, sem pesar.

Brechó da Lalau e D-Aura
Brechó da Lalau e D-Aura Quermesse da Mary/Divulgação

Há roupas que apenas cobrem. E há aquelas que revelam. A D-Aura, de Marina Gomes, nasce da ideia de que vestir é mais do que compor um visual — é expressar o que habita dentro. É tornar visível a presença, a essência, a aura de quem veste. Com origem no pensamento arquitetônico, entende a roupa como construção: forma, proporção e materialidade aplicadas ao corpo. Com  a pureza das linhas, a neutralidade das cores e a busca pelo essencial, concebe um vocabulário atemporal, urbano, com fluidez de gênero - tudo o que traduz uma elegância silenciosa e consciente.

A Lote, etiqueta de vestuário de Janaína Miglio, tem o frescor e a espontaneidade de uma marca jovem. As formas amplas, o casual, o despojado, o day by day e o jeito simples e chique de ser, fazem parte dessa identidade. Com a coleção Retomada, apresenta canga/lenço, calça pareô, camisa ampla, broche, muitos bordados e um xadrez de canoa, que aparecem nas cores firmes: cinza, preto, off white, marinho e café. Linho, algodão, viscose e malha de bambu deixam o corpo respirando e em movimento.  O tule vem como uma proposta diferente e complementar. O desejo é criar com autenticidade roupas que permitem navegar por mares e rios mais profundos e internos.

Lote e Miêtta
Lote e Miêtta Quermesse da Mary/Divulgação

Casual, básica, mas fora de clichês, a Miêtta, de Fábio Resende, exibe peças em tie die, inserções de bordados e uma modelagem sempre ampla, que privilegia todos os corpos, em composições em malha. Já conhecida em outras edições da Quermesse, a Miêtta propõe uma roupa básica, mas que não é comum, é prática com detalhes relevantes, feita para estar em casa e ao mesmo tempo se sentir arrumada, vestida para sair. É uma conversa sobre corpos imperfeitos, idades indefinidas, gêneros não determinados.

Dos sócios Thatiana e Bruno Schott, a Zsolt valoriza o manual, prioriza matérias-primas locais e pensa a produção de forma integral. Adepta do movimento slow fashion sustentável, pratica a moda consciente com design urbano e confortável. Investe em modelagens atemporais e no processo artesanal e local. A estamparia é feita à mão, em tecidos naturais como linho e algodão produzidos no Brasil - de origem certificada. As roupas levam tingimento natural feito por Thatiana. Com pegada autoral, a Zsolt  fideliza pessoas que querem vestir roupas que respeitam espaço entre corpo e tecido.

Mão que tece

A Mon Ajour nasceu em 2017 com a ideia de resgatar os antigos bordados das bainhas abertas, executadas à mão, aliados a conceitos contemporâneos. Todas as coleções de Julia Ferolla têm como fundamento uma história, um conceito e uma arte. São bordados para peças de decoração, como jogos de mesa, toalhas de lavado, almofadas, entre outros. A crença é de que o bom gosto, a sofisticação e a simplicidade são atemporais e traduzem a história de vida de cada um.

Zsolt e Mon Ajour
Zsolt e Mon Ajour Quermesse da Mary/Divulgação

A arte têxtil surgiu para Myrian Melo em um momento em que buscava uma forma de expressão mais feminina. Descobriu, então, a infinita riqueza de possibilidades que esse campo oferece. Atualmente, trabalha em seu ateliê em um distrito de Ouro Preto, cercado pelo verde. É desse lugar que nascem suas pesquisas e criações autorais. O olhar sobre o entorno resgata memórias afetivas e inspira o registro de um tempo vivido. A realidade, transformada pelas mãos da artista, encontra novos significados quando recriada com tecidos, linhas, tintas e elementos da natureza.

Myrian Melo e Aurore Ateliê
Myrian Melo e Aurore Ateliê Quermesse da Mary/Divulgação

Caroline Ferreira cresceu cercada por linhas de crochê, tintas e tecidos que se transformavam em carinho. O Aurore Ateliê, com nome que homenageia a filha, surge como continuidade dessa infância. São acessórios artesanais feitos em polymer clay, produzidos um a um, com atenção aos detalhes e um olhar afetivo para a forma e a cor - peças leves, coloridas e cheias de vida, pensadas para acompanhar quem usa com conforto e personalidade.

Para estar bem

Entre velas, sprays e difusores, a Ascender cria aromas que abraçam, acalmam e contam histórias, daquelas que moram na memória e voltam em forma de perfume. Cada peça tem o tempo do artesanal, do toque, do olhar atento, com a certeza de que aroma é arte: invisível, mas presente em lembrança. Para a Quermesse, a marca traz fragrâncias que se espalham como luz de fim de tarde.

Ascender e Ateliê Bençôi
Ascender e Ateliê Bençôi Quermesse da Mary/Divulgação

O Ateliê Bençôi, se entrega à missão de resgatar e preservar as raízes mineiras e os ensinamentos ancestrais, docemente conservados pelas memórias afetivas de sua fundadora, Carla Polese. Produz pequenos lotes de produtos artesanais afetivos (sabonetes, velas, aromatizadores e outros fitoterápicos), de maneira sustentável, apoiando os produtores locais e buscando sempre conscientizar sobre os impactos de consumo, ressignificando, sempre que possível.

Clarisse Padilha trabalha com beleza há quase 20 anos. Com a C.alma, busca inspiração no conceito de "slow beauty”, um movimento que valoriza a beleza natural e o consumo consciente de cosméticos, para criar produtos feitos com ingredientes naturais e óleos essenciais.

Adornos para o corpo

A Fenda nasceu em 2019, no Sri Lanka, com a missão de criar joias esculturais que inspiram e emocionam. Chegou ao Brasil em 2022. A técnica da cera perdida, milenar e ancestral, explorada por Roberta Rassi,  permite criar joias únicas, com texturas e formas que convidam ao toque e à contemplação. Transformando a cera em metal precioso, a joia é esculpida com as próprias mãos - são 240 minutos dedicados à concepção de cada peça.

C.alma e Fenda
C.alma e Fenda Quermesse da Mary/Divulgação

A designer de joias Júnea Fontenelle apresenta a coleção Linhas, que reafirma seu compromisso com a joalheria autoral. São joias esculpidas à mão pela própria criadora – um processo que imprime organicidade, fluidez e singularidade a cada detalhe.  Inspirada em ramificações naturais, a coleção nasce da observação da própria natureza, revelando a beleza que habita tanto nas formas simples, quanto nas mais complexas.

Oficina Umi é um atelier de joalheria onde cada peça é produzida manualmente, desde a fundição, unindo técnica e poesia para transformar o metal em memória. A inspiração de Sara Martins Ywahashi vem da brasilidade: dos saberes tradicionais, das artesanias, das mãos que tecem histórias e dos afetos que atravessam gerações. Feitas em pequena escala, cada joia nasce desse encontro entre matéria e sensibilidade, entre o íntimo e o coletivo, com alma e história.

Júnea Fontenelle e Oficina Umi
Júnea Fontenelle e Oficina Umi Quermesse da Mary/Divulgação

No encontro entre arte, artesanato e memória nasce a Rua das Mônicas, marca de Andréa Assunção. Cada peça é produzida com materiais do cerrado e de outros biomas brasileiros, respeitando o tempo e a textura da natureza. O resultado são criações que ultrapassam a função decorativa: tornam-se presenças poéticas no espaço, capazes de despertar pertencimento e afeto. Mais do que adornos, os colares da Rua das Mônicas traduzem histórias — conectam o passado ao presente, design contemporâneo à força do artesanal e transformam o ambiente em expressão de identidade e cultura.

A Oficina.cc, de Nayara Zagnoli, é uma escola de marcenaria que acredita que criar com as mãos transforma. Também compartilha esse fazer, em uma escola própria. Colocar em prática e difundir o conhecimento acumulado em dez anos no desenvolvimento de produtos em madeira compensada é um eixo do trabalho. São produtos que carregam a identidade dos criadores, com desenho simples e uso consciente dos materiais.

Rua das Mônicas e Oficina.cc
Rua das Mônicas e Oficina.cc Quermesse da Mary/Divulgação

Dos comes, bebes e os sabores

Na gastronomia, essa edição também tem novidades, com antepastos, chocolate, cachaça e produtos feitos com jabuticaba. A Poesia de Minas valoriza o que Minas tem de melhor: a arte de produzir boas bebidas. As cachaças e licores artesanais de Aline da Costa Lourenço, são feitos com ingredientes selecionados e processos que garantem sabor, qualidade e autenticidade. Da escolha da cana até o engarrafamento, o esmero em cada etapa mantêm o padrão que torna a marca reconhecida pelo sabor equilibrado e acabamento refinado.

Para a Quermesse da Mary, a Grand Chocolat traz brownies de chocolate com castanha de caju, cookies de amendoim com flor de sal, lascas de chocolate com castanha de caju com flor de sal, ou damasco ou com amendoim e damasco coberto com chocolate belga. Entre idas e vindas do cardápio de  Nisia Cançado Faria, a excelência dos ingredientes e o cuidado em cada preparo continuam os mesmos. Sem conservantes ou saborizantes, os ingredientes são selecionados com rigor e sempre in natura. O delicioso chocolate belga Callebau é o cerne do trabalho.

Poesia de Minas e Grand Chocolat
Poesia de Minas e Grand Chocolat Quermesse da Mary/Divulgação

Na Sabará & Sabor, a estrela é a jabuticaba. A história começa no quintal da casa onde Iara nasceu e viveu boa parte da infância. De todas as árvores que ali existiam, as jabuticabeiras sempre foram as que mais despertaram a atenção e curiosidade. De uma receita de família, passada de mãe para filha, lá pelos idos dos anos 1980, o encanto pela jabuticaba voltou e nunca mais se foi. Da pequena produção até os milhares de produtos oferecidos nos festivais da jabuticada de Sabará, o caminho é de crescimento. Entre geleias, licores e cachaças, os derivados da fruta (mais de 40) são produzidos de forma artesanal, com alta qualidade, para experiências afetivas.  

Sabará &Sabor e Ayslla Defumaria
Sabará &Sabor e Ayslla Defumaria Quermesse da Mary/Divulgação

Com a Ayslla Defumaria, Ayslla Oliveira viaja pelo mundo dos sabores por meio da defumação, técnica milenar do antigo Egito. Produz antepastos de forma artesanal, uma história que começou com a avó, Nina, que enchia a cozinha com aromas genuínos. Seus produtos são a união das artes plásticas, a primeira formação, com a gastronomia. No menu, caponata de berinjela defumada, antepasto de tomate defumado, truta defumada com amêndoa, pesto de manjericão crocante com amêndoas, antepasto de jiló com castanha de caju, antepasto de quiabo defumado, tomate e castanha de caju, figo turco com conhaque, avelã e mel, laranja desidratada com mel, e abacaxi e coco defumados, entre outros.  

A Cozinha de Sofia é um projeto autoral. Como o próprio nome indica, representa de forma pessoal e afetiva a trajetória de sua idealizadora, a chef Sofia Marinho. A proposta é oferecer um mix de oportunidades de negócios e experiências envolvendo a gastronomia. Sofia é adepta da cozinha contemporânea, em que mistura suas raízes com as experiências vividas em outros lugares onde já morou ou visitou, com inspiração principal na comida feita na Itália. No Empório da Cozinha de Sofia, cada produto nasce do mesmo cuidado e técnica que guiariam um jantar preparado pela chef. Massas, molhos, antepastos e doces compõem a seleção da casa, mas é nas empanadas que o coração do Empório pulsa mais forte.

A Cozinha de Sofia e Amassa
A Cozinha de Sofia e Amassa Quermesse da Mary/Divulgação

Etiqueta de Miguel e Pedro Valente, a Amassa é a escolha certa para o almoço. A paixão dos irmãos pela cozinha é herança da mãe, mestra em preparações para o dia a dia e ocasiões especiais. Desde pequenos são identificados com o dote de trazer alegria pelo paladar. O encantamento se transformou em gosto e habilidades para cozinhar, especialmente a culinária italiana, ideal para atender a necessidade calórica dos dois atletas profissionais de natação. Depois da aposentadoria das piscinas, nasce a Amassa, primeiro com as lasanhas, e mais tarde ao lado de massas recheadas e outros pratos de fabricação artesanal e sabores únicos.

A Pães Du Kanto, de Monica Baptista, participa com seus pães artesanais, 100% naturais, saudáveis e criativos. Com sabores salgados, adocicados e neutros, massas macias, aeradas e úmidas, cascas fininhas e crocantes, e recheios marcantes, o propósito é oferecer produtos nutritivos e deliciosos.

André Gabrich é o padeiro por trás dos pães e folhados de fermentação natural produzidos semanalmente para a Dédé Pães Artesanais. Há sempre opções de pães clássicos e versáteis para qualquer tipo de acompanhamento, como o pão 100% integral ou a baguete e pães rústicos, enriquecidos com farinhas de centeio ou fubá de milho crioulo e harmonizados com recheios como castanhas, frutas secas, queijos e ervas frescas. Para os amantes de pão doce fofinho e amanteigado, tem o clássico brioche. Os folhados também estão entre as fornadas da semana. Do croissant e pain au chocolat ou folhados recheados, como o pain suisse e o croissant aux amandes, são muitas delícias.

Pães Du Kanto e Dedé Pães Artesanais
Pães Du Kanto e Dedé Pães Artesanais Quermesse da Mary/Divulgação

A Zoraida Cozinha Milenar, de Zoraida Ione Santos Monadjemi, surge na Quermesse com os gostos ancestrais unidos a sabores de ervas, especiarias, diferentes ingredientes e tudo que envolve o nutrir. Em uma relação de amor com a comida, Zoraida traz vivências do berço da civilização, com pratos persas, árabes e as raízes mineiras tribais e afrodescendentes. A riqueza da alquimia leva a uma experiência sensorial que alimenta corpo e alma.

O ateliê de confeitaria artesanal Pandora, de Leca Rocha e Michelle Luice, com a produção de macarons, mini pâtisseries, chocolates finos, tortas, pavlovas, presentes e cestas, entre iguarias de deixar água na boca, marca presença. As receitas são criadas a partir de ingredientes in natura e a produção acontece sem pressa, com cuidado e atenção aos detalhes, unindo sabor à arte. Para as criadoras, degustar um doce, um chocolate, é mais do que o ato de comer - é uma pausa, um presente para si, um momento a ser vivido.

Zoraida Cozinha Milenar e Pandora
Zoraida Cozinha Milenar e Pandora Quermesse da Mary/Divulgação

O Sagrado Queijo entrou para o time da Quermesse. A marca nasceu em Formiga, em 2022, no fim da pandemia, com a vontade de Anaisa Alves de Oliveira e Claudio Thennyson em ter um negócio próprio. Eles adquiriram uma fábrica de provolone desidratado que estava prestes a fechar as portas.  Feito com menos sódio, crocante, saboroso e delicado, o provolone do Sagrado Queijo mostra a diferença na primeira mordida. O casal foi aos poucos aprimorando o preparo, e agora os dois são especializados em provolone desidratado, em diversos sabores.  É o que levam para a Quermesse, além do provolone puro, tradicional, a mussarela em trança temperada com alho e orégano, ou em nó defumada, o requeijão em barra com raspas, e queijo coalho desidratado com goiabada.

Em um mercado tradicionalmente dominado por marcas masculinas, nasce a Cafem, uma etiqueta de café criada e idealizada por mulheres, com o objetivo de dar visibilidade a pequenas produtoras e celebrar suas histórias a cada xícara. A Cafem celebra o universo feminino em cada etapa da produção. Laura e Luiza são duas irmãs de uma família de produtores de café que, após um reencontro com as raízes familiares na Itália e a experiência de provar cafés em viagens pelo mundo, desejaram criar um café que refletisse sua essência: feminino, autêntico e transformador. Entre os sabores dos cafés especiais, milka e chocoavelã, que podem ser incrementados com doce de leite e chantilly, como sugerem. Elas também oferecem kits personalizados e lembranças para casamentos, eventos, datas comemorativas e outras festividades.

Sagrado Queijo e Cafem
Sagrado Queijo e Cafem Quermesse da Mary/Divulgação

Com a Sorveteria Universal, as irmãs  Aline e Liliane Lacôrte seguem o legado do bisavô, italiano chegou a BH trazendo um livro de recitas da família, comprou um imóvel em frente à igreja do Bairro Floresta e, em 1932, abriu uma sorveteria. A Universal é uma das mais antigas da cidade e preserva receitas do início do século passado. Elas são a quarta geração à frente do negócio. Muito mais que sorvete, dizem que vendem  alegria, sorriso, saudade, memória afetiva.

A marca cresceu com o food truck (o primeiro de sorvete do Brasil, que estaciona na Quermesse) e uma nova unidade. Até hoje fazem o sorvete como o bisavô, com a mesma receita e o mesmo amor. O sorvete não tem gordura hidrogenada, saborizante, creme de leite nem pasta pronta - tudo é de fabricação própria, preservando no feitio as mesmas técnicas do início. Hoje a fábrica, no Floresta, produz cerca de 70 sabores, que se revezam nas vitrines.

Sorveteria Universal e Biscoito de Flor
Sorveteria Universal e Biscoito de Flor Quermesse da Mary/Divulgação

Os quitutes da Biscoito de Flor, de Bruna Borçari, são feitos com ingredientes selecionados. As flores comestíveis que utiliza são de cultivo próprio. As delícias amanteigadas unem beleza, sabor e delicadeza em cada detalhe.

O que vai devagar

Mary percebe produtores que respeitam o meio ambiente, que esculpem o que é natural. E como o que é devagar dá outros sentidos ao que se experimenta no dia a dia. "Em tempos de inteligência artificial, quanto mais a tecnologia avança, mais as pessoas ficam sozinhas. Falta o contato. Esses são artistas que vão na contramão. Todos são ofícios que carregam memórias, tradição, ancestralidade, saberes e fazeres, resgate de técnicas. Muito do que se compra na internet são produtos vazios. Quando vêm da mão de quem faz, não são apenas produtos, mas uma história", diz a designer.

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Para Mary, fazer uma mescla de expositores, dos mestres aos que se iniciam, é um trabalho cujo resultado é um amálgama intergeracional do evento. "O para casa nesses dias é aprender uns com os outros. Cada mestre e aprendiz, nesses dias de convivência, fazem trocas preciosas, se unem enquanto coletivo e se reinventam."

Mix intergeracional, de produtores e da clientela - no coletivo de criadores, os estreantes estão ao lado de mestres - identifica o evento de Mary Arantes
Mix intergeracional, de produtores e da clientela - no coletivo de criadores, os estreantes estão ao lado de mestres - identifica o evento de Mary Arantes Arquivo Pessoal

Expositores

Ascender/@ascender.br

Ateliê Bençôi/ @ateliebencoi

Ateliê Cerâmica Ancestral/ @atelie_ceramica_ancestral

Ateliê Omaia/ @omaiaemarcelo

Aurore Ateliê/ @aurore.atelie

Beth Tokitaca/ @bethtokitaca

Brechó da lalau / @brechodalalau

C.alma/ @calmabelezanatural

Comflô/@comflo_official

D-Aura/@daura.co

Fenda/@fendajewellery

Gregory Martins/ @gregpercussao

Guimeiros/ @guimeiros.atelier

Indaiá Artesanato/@projetosindaia

Junea Fontenelle/ @juneafontenelle

Liciana Bayer/ @licianabayer

Lote/@lote_oficial

Maru Rivera/ @marurivera_ceramicas

Miêtta/ @mietta_bh

Myrian Melo/ @myrianmelo.art

Mon Ajour /@mon_ajour

Oficina.cc/ @oficina.cc

Oficina Umi/ @oficina.umi

Ourives Ana Queiroz/ @ourives_ana_queiroz

Petchó/ Petchó Silveira

Raiz Ateliê Botânico/@raiz.ateliebotanico

Rua das Mônicas/ @ruadasmonicas

Zsolt/ @zsolt.rio

Gastronomia

A Cozinha de Sofia/ @acozinhadesofia

Amassa/ @amassa.cozinha

Ayslla Defumaria/ @ ayslladefumaria.bh

Biscoito de Flor/@biscoitodeflorbh

Cafem/ @cafembrasil

Dédé Pães Artesanais/ @dede.paes.artesanais

Du Kanto/ @paesdukanto

Grand Chocolat/ @grandchocolat

Pandora/@pandorachocolatesemacarons

Poesia de Minas/ @poesiademinasoficial

Sabará & Sabor/@sabarasabor

Sagrado Queijo/ @sagradoqueijo

Sorveteria Universal/ @sorveteriauniversal

Zoraida Cozinha Milenar/ @zoraidacozinhamilenar

Quermesse da Mary
1ª edição de Natal
7, 8 e 9 de novembro
Sexta e sábado de 10h às 19h
Domingo de 10h às 17h
Rua Ivaí, 25, Serra - BH
Evento pet friendly
Entrada Franca

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