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Siga noA moda tem um papel fundamental na maneira das pessoas se expressarem, se perceberem e se inserirem no mundo. Ela não é apenas uma questão estética ou de tendência. Vertir é também um exercício de identidade, autonomia e pertencimento. É sabido que a forma como vestimos representa quem somos e a mensagem que queremos passar e quem nos vê cria uma impressão sobre nós em apenas oito segundos.
No entanto, para milhões de pessoas com deficiência ou com condições raras que impactam o corpo – como as mucopolissacaridoses (MPS), doença genética rara causada pela falta de enzimas que quebram mucopolissacarídeos, substâncias essenciais para o funcionamento do corpo –, esse ato cotidiano pode se transformar em uma barreira. Roupas que não vestem corretamente, que limitam movimentos ou que simplesmente não consideram outras proporções corporais reforçam um ciclo de exclusão ainda pouco discutido na indústria da moda.
Desfile no dia do MPS chama atenção para a importância da moda inclusiva
É nesse contexto que a moda inclusiva vem ganhando força como uma pauta urgente e transformadora. Mais do que construir peças ideais, a proposta da moda inclusiva é repensar todo o processo criativo, da modelagem à comunicação, para que ele contemple corpos diversos, com respeito, escuta e funcionalidade. Isso significa considerar diferentes tipos de mobilidade, proporções corporais, necessidades sensoriais e desejos estéticos, oferecendo roupas que não apenas sirvam, mas que representem. Para pessoas com deficiência, a possibilidade de escolher o que vestir e se sentir bem com a roupa que estiver usando está diretamente ligada à construção da autoestima e ao reconhecimento de seus direitos. A moda se torna um território de possibilidades.
Com esse olhar, a marca Via Voice For Fashion, fundada por Josi Zurdo, desenvolve roupas pensadas para corpos diversos. Inicialmente voltada para pessoas com acondroplasia – o tipo mais comum de nanismo –, a marca agora amplia sua atuação para atender também quem vive com MPS. Em parceria com a BioMarin e o Instituto Breno Bloise (IBB), a Via Voice participou recentemente de um desfile de moda inclusiva em Recife (PE), para dar visibilidade a esse debate e mostrar, na prática, o impacto que se vestir bem pode ter na vida das pessoas com mucopolissacaridoses. A ação foi uma forma de lembrar de que vestir bem precisa ser um direito de todos.
As roupas apresentadas foram pensadas para atender às necessidades específicas dessas pessoas, respeitando suas proporções físicas e limitações de mobilidade, mas sem abrir mão da estética e da identidade de cada um. A iniciativa reforçou a importância de um setor da moda mais inclusivo, que represente e acolha as diferenças, em vez de invisibilizá-las.
Entenda as mucopolissacaridoses
As mucopolissacaridoses são condições caracterizadas pela falta de uma enzima necessária para a quebra de substâncias importantes no corpo humano, chamadas de mucopolissacarídeos. Elas fazem parte do grupo de doenças dos erros inatos do metabolismo e uma em cada 22.500 pessoas têm a patologia. As MPS desencadeiam problemas em vários órgãos e sistemas como fígado, ossos e articulações, coração, olhos, sistemas respiratório e nervoso, afetando funções cognitivas.A doença pode apresentar uma ampla gama de sintomas que afetam diferentes partes do corpo, como a macrocefalia (crânio maior que o normal), alterações da face, atraso no crescimento, rigidez nas articulações, deformidades ósseas, entre outros. A progressão das mucopolissacaridoses leva a um encurtamento do tempo de vida do paciente.
“As roupas precisam ser uma extensão da autonomia. Moda inclusiva é enxergar o outro, é possibilitar que cada pessoa se vista com dignidade e pertencimento”
Josi Zurdo