Mjällby campeão: time de vila de 1.500 habitantes surpreende gigantes na Europa
Mjällby conquista antecipadamente o Campeonato Sueco, vai à competição internacional pela primeira vez e faz história na Europa
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O Mjällby Allmänna Idrottsförening é campeão sueco! Com a vitória sobre o Goteborg, fora de casa, por 2 a 0, nesta segunda-feira (20/10), o inédito e surpreendente título nacional veio com três rodadas de antecedência. Assista ao “gol do título”:
— Nahuel Lanzón (@nahuelzn) October 20, 2025
El Mjallby ya está ganando 2-0. Un equipo de un pueblo de 1500 personas está por salir campeón en Suecia!
Hasta los rivales quieren que gane. Lindo regalo del arqueropic.twitter.com/bnISXGUNbE
O time sediado em uma cidade de 1.500 habitantes, com um estádio para seis mil pessoas e receita dez vezes menor que a do principal clube do país faz história na Suécia.
A campanha é irretocável e ainda pode melhorar: são 66 pontos, 11 a mais que o segundo colocado Hammarby, com nove pontos pendentes de disputa.
Veja o momento em que a partida foi encerrada e, consequentemente, o título foi oficializado:
Mjallby, a team from a fishing village of fewer than 1,500 people, are champions of Sweden
— Men in Blazers (@MenInBlazers) October 20, 2025
It's their first-ever title, achieved only seven years after the club were in the 3rd tier. Behold the joy of a footballing fairytalepic.twitter.com/Akqx53CUka
Disputa continental pela primeira vez na história
Com o título, o clube garantiu vaga na fase preliminar da Liga dos Campeões da Uefa na temporada 2026/2027, naquela que será a primeira participação do time em uma competição internacional.

Disparidade orçamentária: desafio superado
A trajetória do clube é ainda mais notável quando se compara o orçamento disponível ao clube e aqueles utilizados pelos rivais.
O Malmö, “bicho papão” do futebol sueco, que venceu quatro dos últimos torneios nacionais, faz uma campanha aquém das expectativas e ocupa a quinta colocação, com 42 pontos. O orçamento do gigante da Suécia é oito vezes maior que o dos azarões.
O IFK Gotemburgo, outro grande clube do torneio, está em quarto, com 44 pontos.
Hammarby e Djugarden, equipes tradicionais do país, têm cerca de sete vezes mais receitas que o Mjällby e oucpam a segunda e sétima colocações, respectivamente.
Já o AIK, equipe tradicional de Estocolmo, fatura somente em bilheteria valores superiores à totalidade dos recebidos pelo líder do campeonato.
História do clube: ‘o time que sempre regressa’
O Mjällby, clube fundado em 1939, tem raízes humildes ligadas à pesca e agricultura, em razão da proximidade que o sul da Suécia tem do Mar Báltico. É uma instituição pequena, que participou pela primeira vez do Campeonato Sueco em 1980 e soma 11 presenças na elite da nação desde então.
Na Suécia, a equipe é conhecida como “o time que sempre regressa”, em razão das oscilações relacionadas aos acessos e descensos enfrentados recorrentemente.
A título de exemplo, o clube jogou a Primeira Divisão de 2010 a 2014, foi rebaixado e chegou a disputar a Terceira Divisão. Contudo, retornou à Segunda Divisão em 2019, conquistou novo acesso em 2020 e desde então está na elite do futebol sueco.
Há nove anos, inclusive, o clube quase caiu para a Quarta Divisão, na temporada de 2016.
Recentemente, Hasse Larsson, diretor esportivo do clube, salientou, em entrevista ao The Guardian, o orgulho existente na comunidade, bem como dentro da instituição, quanto à manutenção das raízes cultivadas no âmbito do clube.
“Quando os times vêm aqui de ônibus, eles dirigem e dirigem, passando pelas fazendas, pelos portos de pesca. Eles continuam dirigindo e, quando não conseguem mais dirigir, encontram o nosso estádio. Não poderia ter imaginado esse momento de jeito nenhum. Mas aqui estamos. Somos um time muito bom agora e temos uma chance.”
Capitão é símbolo de perseverança
Jesper Gustavsson, volante e capitão da equipe, pode ser considerado como a personificação da ascensão e sucesso do Mjällby: o jogador chegou ao clube em 2013, ainda nas categorias de base, quando o time jogava a Terceira Divisão Sueca.
Desde então acompanhou – e participou – da arrancada monumental protagonizada pela instituição, que culminou no título nacional.

O jogador comandou a festa improvisada, ainda no gramado, em razão da conquista inédita.

Empréstimos como base, vendas como caminho
A fim de superar os anos difíceis, bem como buscar manutenções mais tranquilas no primeiro escalão, o clube traçou uma estratégia inicial: pegar jogadores emprestados dos gigantes do país, desenvolvê-los e devolvê-los “prontos”.
A tática foi providencial, mas gerava um desafio anual de reformulação praticamente integral do elenco.
Este ciclo só foi quebrado quando a equipe conseguiu duas vendas vultosas, de quase 3 milhões de euros, que renderam uma base financeira para que gradativamente contratações fossem realizadas.
Colin Rosler, de 25 anos, foi vendido ao Malmö por 1,1 milhão de euros (R$ 6,8 milhões) em 2024, sendo que chegou ao clube sem custos. Nicklas Rojkjaer, de 27 anos e grande destaque do clube, também foi negociado, mas com o Nordsjaelland-NOR, por 1,6 milhão de euros (R$ 9,9 milhões).
Treinador que ‘abandonou’ a escola
Anders Torstensson, treinador da equipe, chegou a trabalhar no clube até 2013. Posteriormente, deixou o futebol para se tornar diretor escolar.
O retorno ao esporte e a consequente saída do ramo educacional veio em 2021, quando assumiu o clube novamente. O técnico saiu brevemente, mas retornou de forma definitiva em 2023 e desde então coleciona boas campanhas.
DNA traçado e metodologia definida
Somada à busca pelo treinador, o clube definiu padrões e ajustou processos, em prol de criar uma “identidade futebolística” a ser reproduzida no âmbito da instituição de forma perene.
Em 2024, Karl Marius Aksum foi contratado como membro da comissão técnica em 2024.
Com doutorado em perceção visual aplicada ao futebol, o jovem norueguês de 34 anos tem tentado aplicar conceitos modernos ao jogo da equipe, como valorização à posse de bola, pressão alta, futebol ofensivo e melhora na tomada de decisões dos atletas, sobretudo no “mapeamento” do campo.
Chutões e ligações diretas são mecanismos que não agradam a equipe atualmente. As táticas parecem ter surtido efeito: são 45 gols em 25 jogos no campeonato até então.
Aposta inusitada
O eventual título sueco seria uma façanha tão grandiosa que o diretor do clube, Jacob Lennartsson, fez uma aposta inusitada: prometeu, no início da competição, que correria nu pela vizinhança do clube na hipótese da conquista.
A aposta ousada, feita quando a possibilidade de ser campeão era apenas um “conto de fadas”, dimensiona a grandiosidade do feito que está prestes a ser conquistado.
Agora, com o título confirmado, resta saber se o diretor cumprirá a inusitada promessa.

Suécia no futebol mundial
Apesar de não ser uma das nações mais vitoriosas no cenário futebolístico mundial, a Suécia conseguiu desempenhos notáveis na história das Copas do Mundo:– foi vice em 1958, terceira em 1950 e quarta em 1994.
Na Eurocopa de 1992, a Seleção ocupou a quarta posição.
Dois suecos foram grandes jogadores de importantes equipes europeias: Zlatan Ibrahimovi? – maior goleador da história da seleção, com 62 gols em 122 jogos -, com passagens por Juventus, Inter de Milão, Milan e Barcelona; e Henrik Larsson, que viveu bons momentos em Celtic e Barcelona.
Na atualidade, quem está em evidência é o centroavante Viktor Gyökeres, atualmente no Arsenal, da Inglaterra, e que marcou 97 gols em 102 partidas pelo Sporting de Portugal.
A notícia Mjällby campeão: time de vila de 1.500 habitantes surpreende gigantes na Europa foi publicada primeiro no No Ataque por Vitor de Araújo