Como um terremoto no mar se transforma em um tsunami devastador
O fenômeno que começa com um tremor no fundo do oceano pode gerar ondas gigantescas; entenda o passo a passo de como um tsunami se forma e viaja
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Siga noUm forte terremoto no fundo do oceano pode parecer um evento distante, mas sua energia é capaz de atravessar bacias oceânicas inteiras na forma de ondas devastadoras. O alerta de tsunami gerado após um tremor na costa da Rússia acende um sinal de curiosidade e preocupação sobre como esse fenômeno, que começa a quilômetros de profundidade, se transforma em uma força tão destrutiva ao chegar à costa.
O processo não é instantâneo. Ele envolve uma complexa transferência de energia que se inicia com o movimento abrupto do leito marinho. Essa perturbação inicial desloca um volume absurdo de água, dando origem a uma série de ondas que, em alto-mar, podem ser quase imperceptíveis, mas que ganham altura e poder à medida que se aproximam de terra firme, resultando em um tsunami.
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O gatilho no fundo do mar
A maior parte dos tsunamis, cerca de 80% deles, nasce de terremotos submarinos. Tudo começa nas zonas de subducção, áreas onde duas placas tectônicas se encontram. Uma placa, mais densa, mergulha sob a outra. Com o tempo, o atrito faz com que elas fiquem presas, acumulando uma tensão elástica imensa ao longo de décadas ou séculos.
Quando essa tensão supera a força do atrito, a placa superior se solta e recua violentamente, em um movimento vertical. É como soltar um elástico esticado. Esse movimento súbito empurra para cima toda a coluna de água que está sobre ela, desde o fundo do oceano até a superfície. É esse deslocamento maciço de água que serve como o gatilho para a formação do tsunami.
A magnitude do terremoto é um fator determinante. Geralmente, tremores abaixo de 7,5 na escala Richter raramente geram tsunamis perigosos. O fundamental é que ocorra um deslocamento vertical significativo do fundo do mar. Terremotos que provocam apenas movimentos horizontais das placas não costumam causar o fenômeno.
A viagem silenciosa pelo oceano
Uma vez gerada, a energia do tsunami começa a se propagar para longe do epicentro em todas as direções. Em águas profundas, as ondas do tsunami são muito diferentes das ondas que vemos na praia. Elas possuem um comprimento de onda enorme, que pode chegar a centenas de quilômetros, mas sua altura é pequena, muitas vezes inferior a um metro.
Por essa razão, uma embarcação em alto-mar pode nem perceber a passagem de um tsunami. A velocidade com que essas ondas viajam é impressionante, podendo atingir mais de 800 quilômetros por hora, uma velocidade comparável à de um avião a jato. Essa rapidez permite que um tsunami cruze oceanos inteiros em questão de horas.
Enquanto a onda se move, ela perde pouca energia. Isso ocorre porque a energia está distribuída por toda a coluna de água, do fundo à superfície. Assim, ela consegue manter sua força ao longo de distâncias muito grandes, pronta para liberar seu poder destrutivo ao encontrar o primeiro obstáculo, o continente.
A transformação em uma muralha de água
O momento mais perigoso ocorre quando o tsunami se aproxima da costa. À medida que a profundidade do oceano diminui, o atrito com o leito marinho começa a frear a base da onda. A parte de cima da onda, no entanto, continua se movendo mais rápido. Esse efeito de "freada" comprime a energia da onda em um espaço menor.
A velocidade diminui, mas a energia precisa ir para algum lugar. O resultado é que a altura da onda aumenta drasticamente. Uma onda de menos de um metro em alto-mar pode se transformar em uma muralha de água com dezenas de metros de altura. É essa transformação que torna o tsunami tão devastador nas áreas costeiras.

Um sinal clássico que antecede a chegada de um tsunami é o recuo rápido e anormal do mar. Esse fenômeno acontece quando a depressão da onda, ou o vale, chega antes da crista. A água é sugada da costa, expondo uma faixa do leito marinho que normalmente está submersa. Esse é um alerta natural crítico, indicando que a onda principal está a poucos minutos de distância.
É importante entender que um tsunami não é uma única onda, mas sim uma série delas, conhecida como "trem de ondas". O intervalo entre as ondas pode variar de minutos a mais de uma hora. Muitas vezes, a primeira onda não é a maior, o que pode levar as pessoas a um falso senso de segurança, acreditando que o perigo já passou.
O que é um tsunami?
Um tsunami é uma série de ondas oceânicas geradas por um grande e súbito deslocamento de água.
Geralmente, a causa é um terremoto submarino, mas também pode ser provocado por erupções vulcânicas, deslizamentos de terra ou impactos de meteoritos.
Todo terremoto no mar causa um tsunami?
Não. Para gerar um tsunami, um terremoto precisa ter uma magnitude considerável, normalmente acima de 7,5, e provocar um movimento vertical do fundo do mar.
Tremores que causam apenas o deslizamento horizontal entre as placas tectônicas não costumam deslocar água suficiente para criar um tsunami perigoso.
Qual a velocidade de um tsunami?
A velocidade de um tsunami depende da profundidade da água. Em oceano aberto e profundo, as ondas podem viajar a mais de 800 km/h, velocidade similar à de um avião.
Ao se aproximar da costa, onde a água é mais rasa, a velocidade diminui consideravelmente, mas a altura da onda aumenta.
Por que o mar recua antes do tsunami chegar?
O recuo do mar é um sinal de alerta natural. Uma onda é composta por uma crista (o ponto mais alto) e um vale (o ponto mais baixo).
Se o vale da onda do tsunami chega à costa primeiro, ele puxa a água do litoral em direção ao mar, causando o recuo antes da chegada da crista, a grande muralha de água.
Um tsunami é apenas uma onda grande?
Não. Um tsunami é uma série de ondas, e a primeira pode não ser a maior. O poder destrutivo não vem apenas da altura, mas do imenso volume de água e da força da corrente.
A onda invade a terra por vários minutos, agindo mais como uma inundação rápida e poderosa do que como uma onda que quebra na praia.