Tarifaço completa 50 dias e afeta 73,8% das vendas aos Estados Unidos
Dados divulgados ontem (26/9) pela CNI mostram que 6.033 itens exportados aos EUA seguem sobretaxados apesar das exceções abertas pelo governo americano
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Siga noA sobretaxa sem precedentes nas relações entre Brasil e Estados Unidos completou 50 dias em vigor, e ainda afeta uma parcela considerável das vendas brasileiras, apesar da lista de exceções abertas pela representação comercial dos EUA, a USTR.
As tarifas adicionais aplicadas pelo governo norte-americano incidem atualmente sobre 73,8% dos produtos brasileiros vendidos ao país, segundo levantamento conduzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgado ontem (26/9). Ele aponta que 6.033 itens, de diferentes setores, seguem sobretaxados.
O governo brasileiro tem demonstrado interesse em articular nos bastidores pela aproximação entre os países e a retomada das negociações. A sinalização de uma conversa mais próxima entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump na próxima semana dão uma luz no fim do túnel para uma possível derrubada ou alívio do tarifaço.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, avalia que uma parcela altíssima das exportações brasileiras ainda é afetada pelo tarifaço e que o cenário reforça a urgência pela negociação. "Vemos com entusiasmo a sinalização de uma reunião entre Lula e Trump na próxima semana e esperamos que seja o início de uma negociação oficial para reverter esse cenário. A situação que temos hoje não beneficia ninguém", destaca.
De acordo com o estudo da entidade, antes das isenções serem aplicadas, cerca de 77,8% das exportações sofriam taxa adicional. Após uma nova atualização, 39 produtos foram isentos da sobretaxa de 50%, como minerais críticos, químicos industriais e metais preciosos e de base.
Desses, 13 foram exportados pelo Brasil em 2024 e somaram cerca de US$ 1,7 bilhão no período, o que representa 4,1% do total vendido aos EUA. Entre os 13, apenas três passam a ser isentos de tarifas adicionais: dois tipos de pastas químicas de madeira conífera e não conífera e ferroníquel, que respondem por 4% do total exportado aos Estados Unidos.
Já os outros 10 produtos, que antes estavam sujeitos à sobretaxa de 50%, permanecem sob tarifa adicional de 40% e respondem por 0,1% do total exportado. Dentre os materiais destacam-se artigos de metais preciosos, níquel, ímãs permanentes, artigos de ouro e grafite natural.
Química
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Sinais indicaram uma aproximação entre Lula e Trump na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, na sede da ONU. Diante disso, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin — que atuou nos bastidores para que a conversa ocorresse — destacou que a previsão de encontro para a próxima semana é um "passo importante" para a resolução dos conflitos pós-tarifaço.
"Foi dado um passo importante e, agora, vamos ter os novos passos para a gente poder avançar ainda mais e fazer um ganha-ganha, que é o que deve ser comércio exterior. Eu exporto mais, você exporta mais para mim, quem ganha é a sociedade, você estimula a competitividade. O presidente Lula sempre defendeu o diálogo e a negociação. Essa sempre foi a postura do Brasil", disse Alckmin, ontem, durante inauguração de um hangar da Latam em São Carlos (SP).
Ele comentou ainda que a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham) e a US Chamber, que fazem a conexão entre os dois países no comércio exterior, ajudaram nesse processo a realizar a conversa.
Próximos passos
Apesar do movimento favorável, especialistas ainda pregam cautela. Para a professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Regiane Bressan, os movimentos do presidente norte-americano sempre são muito incertos, desde o início do novo mandato. "Ainda que tenhamos chances de uma negociação entre Lula e Trump, que pode acontecer até em um terceiro país, o governo Trump é muito surpreendente", considera a especialista. Para ela, é preciso aguardar.
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Nesta semana, após a conferência da ONU, Trump anunciou novas tarifas sobre caminhões, móveis e produtos farmacêuticos patenteados que entram no país. Na avaliação do diretor de Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, José Pimenta, anúncios do tipo não vão perder força tão cedo.
"O que deve ocorrer talvez é uma modulação, listas de exceções de alguns produtos por conta de pressão inflacionária. Novas negociações com base nesse aumento tarifário também podem ser suscitadas. A questão é que o incremento da tarifa de importação é um ponto relevante da política comercial norte-americana", considera.
Para o sócio-fundador da BMJ, Welber Barral, o efeito da sobretaxa foi a busca por novos mercados. "O Brasil acabou aumentando a exportação de carne para o México, China e outros mercados. De certa forma, houve um desvio para outros mercados", destaca.